“Post
Card” 2013
por maneco
nascimento
Teresina
Post Card 57
“na praça
marechal Deodoro
às nove
horas falavam
da udn e
do americam-can (...)”
“(...)
nos canteiros da avenida frei serafim
os cupins
construíram suas casas
fiando estranha
quietude (...)”
(Machado,
Paulo. Teresina. Post Card 1957/1977. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor
Chaves, 1980)
“na praça
marechal deodoro
às nove
horas há velhos com suas memórias
recompondo
o tempo (...)”
(..) nos canteiros da avenida frei serafim
putas
acenam com gestos medidos
a fome é
mais forte que o medo (...)”
(Idem)
A cidade de Teresina, com data de nascimento
oficial para o ano de 1852, vem construindo, ao longo de sua história de
imposição como capital de estado, seu espelho de admiração, sentimentos e
ressentimentos, olhar com perspectivas de futuro e identidades e pertencimentos
de todos que grafam pés e obras socioeconômicas e culturais.
As
cidades mudam, transmutam-se em novas verves e anseios e brincam de saltos
planejados na amarelinha do tempo. A cidade planejada de Saraiva desloca-se do “improviso”
e romantismo do final do século XIX e avança, impetuosamente, aos dias de
verticalização e arranha-céus displicentes.
O trabalho
de pesquisa “Memória e (Res)sentimentos em torno do processo de modernização de
Teresina durante a década de 1970” In Nascimento, Francisco Alcides do. (Org.)
Sentimentos e Ressentimentos em Cidades Brasileiras – Teresina: EDUFPI,
Imperatriz, MA: Ética, 2010, de Regianny Lima do Monte, mestre em História do
Brasil pela UFPI, nos apanha em sentimentos de aceitação e ou compreensão dos
processos naturais de modificações e modernização que são impostas às cidades
visíveis.
Para a
articulista, em “Teresina Post Card 1957/1977”, o poeta Paulo Machado que
registra Teresina, em dois momentos distintos, a primeira de ares de simplicidade,
da rotina dos dias tranquilos, de ritmo monótono da observação do poeta para “os
sapos que copulavam nos lajedos do tanque” da Praça Pedro II. O cotidiano
descrito de forma leve, num percurso de ruas e calçadas, com seus personagens
excêntricos, reconhecidos pelos populares.
Já na
segunda parte da obra, “Post Card 77", acrescenta a autora, em vinte anos
depois, a cidade da década de 1970 é apresentada pelo poeta com um certo ar de
amargura e indiferença. Os lugares não são mais os mesmos, pois mudaram a sua
essência, ou simplesmente desapareceram da paisagem urbana. Teresina com ares
de cidade grande, modificada não só pelo tempo, mas pelas mudanças espaciais.
“Post
Card” 2011
na nova
cara da marechal deodoro/os antigos
tanques com fontes jorrantes/
que,
abandonados, foram substituídos por canteiros/que, já
floridos, acenam com dias de primavera//às nove
horas da noite/a praça
da bandeira exibe-se em nova iluminação./quem avista-a,
de fora, conta as árvores/as
trilhas aos transeuntes,/à hora de
gatos pardos,//bancos e
ladrilhos/traços de
ontem/mistiçados com o novo/circuito
da vida para contemporâneos/e velhas
memórias saudadas.
(nascimento,
maneco.”Post Card” 2011. Teresina, agosto, 2011)
A velha
nova Teresina que aplicada a muitas modificações, desde a saída de Oeiras, em
que já se vão 161 anos, ou da refletida pelo poeta Paulo Machado, das primeiras
impressões para a década de 1950, que tem-se a registros uns poucos 63 anos de
mudanças. O registro do olhar “ligeiro”, corriqueiro da contemporaneidade,
seria de “pueril” apreensão às ironias poéticas. Intangíveis memórias
registradas. Na fotografia, registro palpável do tempo para enquadros e
eternizados flagrantes, abre um canal de recorte da memória e histórias das
civilidades.
(Exposição by Diego Iglesias/fots: http://portal.trt22.gov.br)
“Velha
Nova Teresina”, ensaio fotográfico do jornalista Diego Iglesias, reinventa
memórias, recupera imagens de pessoas, momentos históricos do cotidiano da
cidade. Paisagens antigas da velha Teresina e também da atual se transfundem,
como facilitação, ao observador, de um comparativo das nossas sempre memórias.
O intertextual fotográfico resgata identidade cultural teresinense e valoriza a
história do embora invisível, mas cidades recordadas para aquilo que já foram.
(Exposição by Diego Iglesias/ fotos: http://portal.trt22.gov.br)
O que pensa quem vê e se pergunta o que estaria
matutando as personagens flagradas no momento da fotografia de seu tempo. A
linguística arquitetônica edificada e seus logradouros alterados, na “Cidade
substituída”, visibilizam a invisibilidade contida no desvio do olhar à cidade e
sua memória.em “Velha Nova Teresina”.
“Post”
Card 2013
na Teresina
do século vinte e um/em seus apegos de adolescente deste novíssimo século/a
vovozinha tabulada em fins de século dezenove/já arranha muito + céus/também
jaz em seus antigos casarios do velho centro/transformados em estacionamentos/ao
conforto do selvagem motorista/variável entre o popular/e o + novo lançamento
importado 2014//às oito da matina,/ nas onze perto do meio dia/ou nas seis da
tarde em que o “rush” se repete/a hora dos carros tartaruga caos,/ fumaça,/buzinas,/
stress e vidinha apertada//entre o velho e o novo da romântica ilha/e sua
mesopotâmia progressiva/nas paradas de ônibus/nos silêncios, apreensões e paciência
testada/usuários somam esperas/ao descanso em suas periferias.../santas marias
são desejadas/e outros mundos inchados de Teresina/que vai bem para quem consegue
ficar bem.
(nascimento/maneco.
“Post Card” 2013. Teresina, agosto, 2013)
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