Sobreviveram
por maneco nascimento
Kaio Rodrigues e Ronyere Ferreira sobreviveram ao público do
Festival de Teatro Lusófono com muita garra e teatro experimentado. Deram seu
sangue a Caio Fernando Abreu e não se arrependeram, fizeram a sua boa parte.
(Ronyere e Kaio, Os Sobreviventes/divulgação)
O exercício de ator e direção praticado por alunos da Oficina
Permanente de Teatro “Procópio Ferreira” deu mostra de resultado, durante a Semana
da Lusofonia, dentro da programação do
FestLuso 2013. A apresentação foi no Teatro Estação (Miguel Rosa com Frei
Serafim), às 23 horas do dia 29 de agosto.
“Os Sobreviventes”, com Kaio Rodrigues e Ronyere Ferreira,
parece + afinado e ardente dentro da proposta de dramaturgia criada pela dupla
de atores. Com texto de Caio Fernando Abreu e Adaptação de Texto e Direção de
K. Rodrigues e R. Ferreira, sob a supervisão de Texto e Direção, de Luciano
Brandão, a peça é comovente e nunca fora do universo caiofernandoabreuniano.
Com Sonoplastia de Clerys Derys e Iluminação de Wallancy
Nunes, o desempenho dos atores se arredonda. Um sofá de couro branco, uma mesinha
de centro de sala, um abajur década de setenta e uísque, copos, cigarros
desbragados, fotos, cartões postais, discos de Ro Rô, jornais e recortes
recontam a cena das personagens de dois amigos que remoem o passado e convivem
com uma ligação de ternura e violência moral que os aproxima e os prende às memórias
no apartamento classe média ascendente.
Kaio e Ronyere dividem as emoções graves e silenciosas,
putanas e conservadoras, amargas e amigas, das personagens respectivamente. São
cinquenta minutos de calor declarado que os envolve e os torna quase xipófagos,
embora neguem amores ou paixões nunca resolvidas.
Densidade dramática e contornado teor de cena devoradora do
tempo que lhes resta juntos é o que define a força de ator de cada um dos intérpretes
que dividem o palco. Mantêm energia delicada e voraz e defendem as escolhas dramáticas
à feição de Caio F. Abreu.
Estão seguros, inflexionam bem, comunicam a proposta e nunca desviam do prazer que a
cartografia premeditada exige.
Kaio Rodrigues e Ronyere Ferreira maturam uma primeira
experiência de direção e a contam para o histórico de intérpretes que têm
buscado transformar em vinho seco e encorpado. Brindam uma boa safra, de uvas
doces e socadas a pés de Baco.
Sabem a canção bacante e ritualizam epifania do teatro de
religião das luzes e ciência da cena. Acertam a fórmula matemática e começam a
tirar os nove fora e somam como dois e dois são cinco. Já confirmam a conta de
cor.
Sobreviveram bem no FestLuso 2013. “Os Sobreviventes” de Kaio
e Ronyere emergiram das profundas intenções e respiram ar criativo e humano.
Moram na licença poética e regurgitam poemas de amor de perdição à cena,
coroado no exercício teatral.
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