quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Sobreviveram

Sobreviveram                         
por maneco nascimento

Kaio Rodrigues e Ronyere Ferreira sobreviveram ao público do Festival de Teatro Lusófono com muita garra e teatro experimentado. Deram seu sangue a Caio Fernando Abreu e não se arrependeram, fizeram a sua boa parte.
(Ronyere e Kaio, Os Sobreviventes/divulgação)

O exercício de ator e direção praticado por alunos da Oficina Permanente de Teatro “Procópio Ferreira” deu mostra de resultado, durante a Semana da Lusofonia, dentro da programação do FestLuso 2013. A apresentação foi no Teatro Estação (Miguel Rosa com Frei Serafim), às 23 horas do dia 29 de agosto.

“Os Sobreviventes”, com Kaio Rodrigues e Ronyere Ferreira, parece + afinado e ardente dentro da proposta de dramaturgia criada pela dupla de atores. Com texto de Caio Fernando Abreu e Adaptação de Texto e Direção de K. Rodrigues e R. Ferreira, sob a supervisão de Texto e Direção, de Luciano Brandão, a peça é comovente e nunca fora do universo caiofernandoabreuniano.

Com Sonoplastia de Clerys Derys e Iluminação de Wallancy Nunes, o desempenho dos atores se arredonda. Um sofá de couro branco, uma mesinha de centro de sala, um abajur década de setenta e uísque, copos, cigarros desbragados, fotos, cartões postais, discos de Ro Rô, jornais e recortes recontam a cena das personagens de dois amigos que remoem o passado e convivem com uma ligação de ternura e violência moral que os aproxima e os prende às memórias no apartamento classe média ascendente.

Kaio e Ronyere dividem as emoções graves e silenciosas, putanas e conservadoras, amargas e amigas, das personagens respectivamente. São cinquenta minutos de calor declarado que os envolve e os torna quase xipófagos, embora neguem amores ou paixões nunca resolvidas.

Densidade dramática e contornado teor de cena devoradora do tempo que lhes resta juntos é o que define a força de ator de cada um dos intérpretes que dividem o palco. Mantêm energia delicada e voraz e defendem as escolhas dramáticas à feição de Caio F. Abreu.

Estão seguros, inflexionam bem, comunicam  a proposta e nunca desviam do prazer que a cartografia premeditada exige.

Kaio Rodrigues e Ronyere Ferreira maturam uma primeira experiência de direção e a contam para o histórico de intérpretes que têm buscado transformar em vinho seco e encorpado. Brindam uma boa safra, de uvas doces e socadas a pés de Baco.

Sabem a canção bacante e ritualizam epifania do teatro de religião das luzes e ciência da cena. Acertam a fórmula matemática e começam a tirar os nove fora e somam como dois e dois são cinco. Já confirmam a conta de cor.


Sobreviveram bem no FestLuso 2013. “Os Sobreviventes” de Kaio e Ronyere emergiram das profundas intenções e respiram ar criativo e humano. Moram na licença poética e regurgitam poemas de amor de perdição à cena, coroado no exercício teatral.

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