quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Das arábias de Portugal

Das arábias de Portugal
por maneco nascimento
O Teatro Extremo, de Almada – Portugal trouxe nova pérola para o diálogo com a Lusofonia estabelecida na cidade de Teresina. “Salamaleque, uma história das arábias” juntou atenção no palco do Theatro 4 de Setembro, dia 27 de agosto, às 20h30, com uma qualidade invejável de exercício de ator solo.

Fernando Jorge Lopes reúne carisma, talento traquejado, ótima comunicação pleiteada com a plateia e uma devoção declarada ao palco e às possibilidades de representar bem, com uma alegria contagiante a personagem construída. Consegue prender a assistência seja pelo histrionismo concentrado, seja pela delicadeza de desenvolver a cura do espírito da recepção, através da magia do teatro imbuída de fervor e ritual do prazer de encenar.

Nessa nova empreitada Fernando nos apresenta um contador de histórias das arábias e suas variações culturais da personagem, dentro da personagem, do universo das recontações de enredos tradicionais orais. Tratada de forma despojada e com um risível que amplia uma economia de linguística corporal e desenha um “exagero” limpo, discreto, que componha o maior dentro do menor valorizado.

A Cenografia é composta de um biombo, na cor natural da madeira, que serve de passagem às personagens com quem o narrador interage, na fuga poética do dialogar no monólogo. Três cestos, que caracterizariam para o ocidente baús das memórias e histórias, na dramaturgia das arábias, desenhada por Fernando Jorge, os cestos guardam a contrarregra que o apoia como mágico que tira da cartola um coelho.

Há o cesto de onde sai a tenda, armada no deserto; o em que está a amada, a mulher do norte e o outro em que guarda a cobra encantada. Um tapete e os adereços que ora saem do cesto, ou de detrás do biombo e voltam guardados, quando já tiveram sua participação no enredo.

 O mais é um ator brincando de ser feliz e fazendo a felicidade prazerosa de quem vê o contador de histórias, imbuído de personagens que são elementadas a partir de um turbante, uma capa, uma barba, um bigode que vira sobrancelhas, ou um traço definitivo de corpo e tônus acompanhados de uma roupa base de característica emblemática.

A Concepção e Interpretação do espetáculo, assinadas por Fernando Jorge, são de uma ação inteligente, de praticidade lúdica muito eficiente e de um cuidado e dinâmica delicados e representativos, na apresentação do fingimento convincente e alegremente pontuado à ciência do teatro.

 O Movimento do espetáculo, de tratamento facilitado por Afonso Guerreiro, cria uma sintonia de atração do público de qualquer idade, por apontar vitória de afinidade pontual com a dramaturgia experimentada.

A Sonoplastia, de Celestino Verdades e de Fernando Jorge Lopes, pulula entre as histórias como que a inventar o enredo para o qual foi investida. Conta ou complementa com toda graça o narrado.

O Figurino, de Alice Rolo, uma segunda pele funcional e equilibrada sob o contexto da narrativa que centra a arte no ator, mas que ilustra personalidade no que veste. O Desenho de Luz, de Celestino Verdades, está na medida certa e parece redomar os sentimentos e variações da contação de histórias e determinar a cor da ação, sem perder o foco dinâmico das personagens repassadas pelo narrador.

A Direcção de Produção, de Sofia Oliveira, fecha o ciclo equilibrado da estética, aparentemente simples, mas de cuidadosa excelência do teatro, finalizado no ato do intérprete e sua energia de compor o labor de encenar alegria compensada pela boa ideia.

Em 45 minutos, Fernando Jorge nos brinda com qualificada práxis teatral, sujeita a virar lição de como se constrói a personagem, com viés popular sem causar exageros, ou desvio do foco que é contar a história e trazer sonhos e magias por prática de bem representar. Os diálogos com a mulher do norte, um rosto branco, sem corpo, preenchido por um grande manto que lhe cobre a cabeça é de uma sutileza bela. A extensão do manto vermelho caracteriza o corpo (i)material que a fantasia propõe.


As falas suaves e os movimentos sutis da mulher amada, quando se dirige ao marido, guardam a marca da submissão educada e contida de desenhar o sentimento da mulher de povo da cultura árabe.
 (um contador de histórias e o chá/divulgação)

 “Salamaleque, uma história das arábias” uma deliciosa arte dramática eficientizada para ganhar qualquer público. Fernando Jorge Lopes desperta alegria do menino que aprendeu a soltar pipa no deserto. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário