sábado, 27 de julho de 2013

A culpa é da calçada?

A culpa é da calçada?

por maneco nascimento

 De quem é a culpa, é da calçada, da pedra, da falta da pedra portuguesa, ou desta estar fora do lugar? Não. "Pára o mundo que eu quero descer...” (Raulzito) O buraco é + embaixo e olha que quanto maior é o orçamento, parece maior a possibilidade de uma senhora de idade, em seus 87 anos, sofrer um constrangedor tombo.

 A atriz Beatriz Segall foi vítima de uma dessas calçadas urbanas em cidades de maravilhas turísticas ou não, mas que derrubam as desavisadas pessoas que têm autoconfiança de que não precisam revisar o chão em que estarão pisando.


“Beatriz Segall, 87, pretende aproveitar que é uma pessoa conhecida para conscientizar as pessoas sobre o problema das calçadas no Rio de Janeiro. Em entrevista ao ‘Hoje em Dia’ (Record), a atriz apareceu com os hematomas bem mais espalhados pelo rosto. ‘Isso não está acontecendo só comigo. Acontece com várias pessoas em todas as cidades, mas nem todos têm oportunidade de chamar atenção para esse fato’, explicou a atriz. Um funcionário de um condomínio em frente ao lugar onde Beatriz caiu disse que há menos de quinze dias um senhor idoso tropeçou nas mesmas pedras e caiu, batendo a cabeça em uma tampa de bueiro.”  (http://f5.folha.uol.com.br/celebridades/.../Publicada em 26/07/2013 - 15h49)
 
(Beatriz Segall/fotos: arquivo pessoal)

A atriz ao se deslocar de São Paulo ao Rio de Janeiro para assistir a um espetáculo de teatro, que envolvia amigos de profissão, acabou levando um tombo feio quando se encaminhava à casa de espetáculos. 

A calçada com as pedras portuguesas soltas fica em frente a um restaurante. Há a justificativa, da prefeitura do Rio de Janeiro, de que a empresa teria sido notificada, mais de uma vez. De sorte é que parece que alguém finge que alerta e outrem finge que se preocupa, mas é o contribuinte quem leva sempre a pior.

“A notícia da queda da atriz Beatriz Segall em uma calçada na Gávea, no último domingo (21), chamou a atenção para o mau estado de conservação da pavimentação na zona sul da cidade. A reportagem do Balanço Geral percorreu os bairros de Ipanema, Gávea e Leblon e encontrou diversos trechos onde há desnivelamento do piso e falhas em pedras portuguesas, que representam risco aos pedestres. A aposentada Denise Teixeira, moradora de Copacabana, na zona sul, contou que sofreu graves ferimentos ao cair em uma calçada do bairro no ano passado. Ela precisou usar um colete para a coluna, já que lesionou o pescoço. (www.94fmdourados.com.br/26/07/2013 às 09h37)
 (Beatriz Segall/fotos: arquivo pessoal)
Segundo notícias divulgadas, na imprensa de um modo geral, a atriz havia pensado em processar o município, mas mudou de ideia após receber um pedido de desculpas do prefeito carioca e a promessa de que serão resolvidos os problemas da calçada assassina. 

Não seria melhor resolver logo a chaga aberta nas calçadas esburacadas da cidade, local de bairros turísticos e receptores de grandes eventos? Sendo risco certo para os visitantes, ou moradores locais que bancam os custos administrativos do município, então imagine também o que não passariam os ricos estrangeiros que vêm deixar seu contributo turístico.
 
(B. Segall/fotos: arquivo pessoal)
Beatriz Segall, de 87 anos, cogitou processar a prefeitura após sofrer o acidente, mas desistiu depois de receber um telefonema do prefeito Eduardo Paes, que pediu desculpas e se comprometeu a cuidar do assunto. De acordo com a Secretaria de Conservação e Serviços, uma vistoria foi feita no lugar onde a atriz caiu, na praça Santos Dummont, e foram identificados trechos danificados. Os proprietários responsáveis por aqueles locais foram notificados a realizar reparos em até cinco dias.” (www.94fmdourados.com.br/26/07/2013 às 09h37)
Quando se imagina que as cidades envelhecem, naturalmente, mas precisam encontrar sensibilidade dos administradores para mantê-las em condições eficientes de trânsito ao pedestre, é um ponto. 

Então quando as pessoas também envelhecem e ficam sob a ameaça de acidentes e tombos enquanto se deslocam pelas calçadas mal conservadas, aí já é uma temeridade. Dois pontos, a velhice natural das pessoas e a caduquice das obrigações do serviço público oficial em manter as calçadas em condições de uso e deslocamento pelo pedestre.  

“‘As pessoas são absurdamente inconscientes das suas responsabilidades’, se indignou a atriz. ‘A obrigação de consertar a calçada é do estabelecimento, ou do condomínio, da casa, que fica no local. Mas é obrigação da prefeitura mandar consertar e cobrar -- não só cobrar a multa, mas também o resultado’, concluiu.”
 
(B. Segall/fotos: arquivo pessoal)

O desabafo da velha senhora encontra-se com a denúncia de outra idosa, moradora da cidade maravilhosa e também vítima das calçadas cariocas — Levei pontos, tomei antiflamatório, machuquei a boca. Não vi diferença nenhuma de um ano para cá. Está tudo igual. Idosos caem e pode ser fatal.
Dona Denise Teixeira, aposentada, moradora de Copacabana, a charmosa zona sul, vítima de uma acidente ano passado, deixou pra lá o que agora volta à tona. O senhor idoso que caiu há menos de quinze dias atrás, antes do acidente da atriz, também deixou pra lá o ocorrido e foi curar os hematomas e agradecer a Deus por ter sobrevivido e bem. A célebre atriz virou notícia, ou melhor, por ser notícia não passaria despercebida em circunstância tão infeliz a idosos e a famosos.
As pedras soltas das administrações públicas, os caminhos esburacados dos mapas de gerência de serviços públicos que envolvem estado e empresas, o negócio do finjo que cobro e finge você que se preocupa, o estado de negligência e marcas de corrosiva corrupção, entre outros desvios de conduta administrativos, acabam por forçarem o cidadão a vigiar o caminho, sem pedras postas, para não incorrer na própria desgraça em vista da falha pública oficial.
As ruas e passeios esburacados não são privilégios só do Rio de Janeiro. Aliás, caminhos a pedestres estão cada vez + exíguos a quem precisa andar a pé em trechos de centros urbanos. Quando não disputa a rua com os carros e motos porque as calçadas viraram estacionamento ou estão erosadas e tornam-se um convite à morte por acidente pedestre, o contribuinte tem que aprender a vigília do caminho das pedras soltas, ou já sem sua presença. E driblar o destino da queda.

Em Teresina também se tem locais que são ameaça certa ao transeunte. Sem celebridades passeando por nossas calçadas para que um acidente vire notícia, resta contar com a sorte e esperar que nossos idosos e nosotros estejamos sempre protegidos pelos santos de devoção, ou então se viva para incorrer na armadilha criada ao pedestre, a exemplo do ocorrido com a atriz brasileira.

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