quarta-feira, 25 de julho de 2012

Tospericargerja


 Tospericargerja
por maneco nascimento

Meu Brasil brasileiro, terra de Ary e de todos os bons e os “bads” amantes do futebol, samba, bunda, carnaval. É também de idiossincrasias e muita memória para boas lembranças e outros diversos da construção social brasileira.

É desse país continental que também saem
 os filhos brasis com nomes diferentes, homenagens a artistas, celebrizados, mas é especialmente da orgulhosa prova de que para homenagear alguém que se gosta, vale qualquer preço futuro a quem carrega o nome do homenageado. 

Tenho uma amiga, por exemplo, que
 os pais a batizaram de Sandra Regina. A homenagem eternizou no nome dela as atrizes Sandra Brea e Regina Duarte. Testemunhei ela contando, da homenagem, à Regina, certa vez em São Paulo. São iniciativas singulares, homenagens a personalidades nacionais. 

No Bom Dia Brasil (Globo), de 25 de julho de 2012, a pauta de esportes trazia uma matéria curiosa.
 O nome do rapaz homenageava tricampeões da Copa de 1970, no México. Tospericargerja é o nome oficial de registro do cidadão nascido no norte do país. 

O cidadão é técnico em laboratório em Manaus, no Amazonas (...) Tospericargerja da Silva Torres, nascido em 19 de julho de 1971, é filho de Oder Nunes Torres e Odília da Silva Torres. O Seu Oder, criador do nome, anda doente e está com dificuldade de falar. Mas sabe em quem ele se inspirou? Na seleção brasileira de 1970, aquele timaço tricampeão do mundo no México, formado pelos ídolos do seu Oder. É só unir as sílabas. Tos de Tostão; Pe de Pelé; Ri de Rivelino; Car de Carlos Alberto; Ger de Gerson; Ja de Jairzinho.” (g1.globo.com/Mauro Junior)

Gerado e nascido ainda no fogo da conquista do tricampeonato da Copa do Mundo de 1970, provavelmente o pai deveria ter acompanhado os campeonatos anteriores à vitória nacional, 1958 e 1962.

Em 1962 eram dias que em que se aproximavam tempos negros ao exercício da democracia brasileira e, em 1970, ainda vivia-se o auge dos dias de chumbo.
 A publicidade do Regime Militar do Golpe de 1964 influenciou toda uma geração de brasileiros pela divulgação nos meios de comunicação de massa.

Frases de efeito, lemas e hinos canções incentivadoras também ganharam destaque de proteção e convencimento público.
 “Brasil: Ame-o ou deixei-o”; “Brasil: AME-O”; “Quem não vive para servir ao Brasil, não serve para viver no Brasil”. Os hinos e canções também deram sua contribuição patriótica.

As praias do Brasil ensolaradas,/O chão onde o país se elevou, (...) O céu do meu Brasil tem mais estrelas./O sol do meu país, mais esplendor (...) Eu te amo, meu Brasil, eu te amo!/meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil./Eu te amo, meu Brasil, eu te amo!/Ninguém segura a juventude do Brasil (...)” (“Eu Te Amo, Meu Brasil”, da dupla Dom e Ravel)
 

E ainda, "Este é um país que vai pra frente/Rô Rô Rô Rô Rô/De uma gente amiga e tão contente/Rô Rô Rô Rô Rô/Este é um país que vai pra frente/De um povo unido, de grande valor/É um país que canta, trabalha e se agiganta/É o Brasil de nosso amor!" ("Este é um país que vai pra frente", de Os Incríveis)

Quando Tospericargerja (Peri para os amigos) nasceu, ainda nos ardores da conquista da Copa de 70, já se passara um ano da conquista da Taça Jules Rimet e ainda não entendia o que se ouvia de ufanismo em dias de chumbo. Eu, que nascera antes do Golpe Militar, ouvia, aprendi e cantava o hino de futebol que embalou o Brasil naquela vitória:

Noventa milhões em ação,/Pra frente Brasil,/Do meu coração/Todos juntos vamos,/Pra frente Brasil,/Salve a Seleção!/De repente/É aquela corrente pra frente,/Parece que todo o Brasil deu a mão.../Todos ligados na mesma emoção.../Tudo é um só coração!/Todos juntos vamos,/Pra frente Brasil!/Brasil!/Salve a Seleção!!!” ("Pra Frente Brasil" - Copa de 70)

"O Presiente Médice, gaúcho, Exigiu a convocação de Dadá Maravilha, do Atlético Mineiro. Foi co-autor da música "Pra Frente Brasil". Influenciou decisivamente na demissão de João Saldanha às vésperas da copa e criou financiamentos para compra de televisões." (www.wikipedia.com.br/acesso: 25.07.2012, às 18h 10m)

O menino de nome incomum cresceu em um Brasil de jogos populares e dramáticos, de vitórias ao futebol e de derrotas a quem se impunha contra a dureza de marechais e brigadeiros. Era hora de festejos, mas também de desaparecidos, torturados, órfãos e de violações arbitrárias de direitos individuais.
 

Era da festa propagandeada em desvio da atenção dos desmedidos militares, tinha-se o ufanismo do milagre econômico e da conquista mundial pelo futebol.

Taça Jules Rimet foi o nome que recebeu o troféu da Copa do Mundo da FIFA até 1970. Nesta edição, o Brasil a ganhou em definitivo por ter conquistado o campeonato pela terceira vez. A tríplice conquista conferiu ao Brasil o privilégio de ter a posse definitiva do troféu. Isso forçou a FIFA a elaborar uma nova Copa, desta feita sem entrega definitiva a nenhum dos vencedores, e chamada Copa Mundial da FIFA.” (www.wikipédia.com.br/acesso em 25.07.2012, às 14h40m)

Tospericargerja hoje, com família constituída, nasceu em dias de “festas oficiosas” e de luto marcado na memória brasileira.
 Torna-se motivo curioso de reportagem por ter nome que homenageou cidadãos nacionais, representantes do país do futebol e heróis em dias difíceis em que a resistência também se fazia presente através do esporte.

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