quinta-feira, 19 de julho de 2012

Pimenta não dói...?


 Pimenta não dói...?
por maneco nascimento

No final da semana passada e início desta, o brasileiro que mantém sua sensibilidade, em exercício, ficou horrorizado com imagens do higienismo da polícia civil metropolitana de São Paulo. 

Os horrores das imagens vistas em cadeia nacional de televisão demonstram que, quem tem pode tudo, quem não tem nada, sempre será saco de pancada dos representantes da sociedade “ameaçada” pelos excluídos urbanos.

Em São Paulo, na região central da capital, a reportagem do SBT fez novos flagrantes de homens da Guarda Civil Metropolitana agredindo e humilhando moradores de rua (...) Em uma das agressões registradas, no último sábado – 14 de julho -, membro da GCM disfarçadamente pega o spray de pimenta que está no cinto e espirra, à queima roupa, no rosto do mendigo. Outro flagrante, no Largo São Francisco, guardas civis retiram roupas, cobertores e até documentos das pessoas que vivem na rua. Os mendigos tentam fazer uma leve resistência, mas são vencidos pelos GCMs.” (mariafro.com/2012/07/18/gcm-de-kassab-a-cria-de-serra-espanca-morador-de-rua...)

A cidade está empobrecida de humanidade, da pobreza física e material está também a olhos vistos. Os grandes centros urbanos realizam campanhas oficiais de proteção da sociedade asséptica e de limpeza das áreas centrais, sujeitas à especulação financeira.

Essas campanhas acabam interpretando gentes pela imagem de bichos brutos e, em país que animal irracional tem muito pouco respeito de boa parte das gentes limpinhas, são tratados feito nada, seja gente ou seja bicho, vai tudo no mesmo ralo comum. 

Essa cultura da guarda civil metropolitana paulista que, (in) disfarçadamente, lança spray de pimenta nos olhos de um morador de rua, reforça lição apreendida de cor a que tudo se pode contra morador de rua, mendigo, índio, entre outros excluídos urbanos.

“Quem se debruçar para olhar o drama dos excluídos urbanos passa a ter uma sensação de que a sociedade abandonou uma parte de si mesma. Parece um pedaço do corpo social que não mais lhe pertence e tem de ser extirpado antes que contamine o resto que se julga são.” (Oliveira, Edmar. “de náufragos, de ratos”. blog excluídos urbanos. quinta feira, 05 de julho de 2012) 

Assim, os + afoitos e paladinos do higienismo social poderão atear fogo em semelhantes, espancar até a morte, fuzilar, ou passar com seu carro por cima de quem está mesmo na rua, logo não deve ter quem olhe, vigie ou reclame umas “traquinagens”, pelo bem da maioria ameaçada. 

Alguns incluídos solitários amam seus animais na devida proporção em que detestam os excluídos. Os excluídos amam seus animais na mesma proporção em que não existem para os seus semelhantes enquanto tais. E os animais de estimação para ambos os grupos são os cães e gatos. Fossem os grupamentos humanos animais estariam identificados como gatos e ratos. Os ratos, excluídos, vagam debaixo de viadutos, deitados ao relento, afogados nas sarjetas. Os ratos precisam das sobras dos gatos para sobreviver. E os gatos, os incluídos, não lhes dão trégua, querendo-os longe da vista. Muito ao longe.” (Idem: Edmar Oliveira/excluídos urbanos) 

Pimenta não dói...? Porque não é nos olhos dos pares da guarda civil metropolitana de São Paulo. Quando é em pessoa desprotegida pelo estado e abandonada à própria sorte e infâmia dos incluídos e fardados, então dói duas vezes +.

Quem viu aquela imagem, repetidas vezes, em canais de televisão, pode se estarrecer porém sem jamais saber da real agonia que sentiu aquele homem, vítima da violência premeditada do representante da segurança civil metropolitana da cidade de São Paulo. 

Pimenta no rosto e olhos dói sim, dói + gravemente no olho do Brasil, honesto e pagador de imposto para bancar a violência oficializada.

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