Difusora, a pioneira.
por maneco nascimento
“Muito se cogitava sobre a decadência
total do rádio com o advento da televisão, no entanto, a ‘tela plana’ marca
apenas a decadência da ‘era de ouro’ do rádio no Brasil. A presença da
televisão representeou uma perda significativa para a radiodifusão brasileira, (...)
‘tudo que havia de mais representativo e popular na radiodifusão sonora foi
levado para a TV. Desde o elemento humano aos programas de maior audiência’”
(AZULAY: 1990 IN Lima, Nilsângela Cardoso. Invisíveis Asas das Ondas ZYQ – 3: A
Rádio Difusora de Teresina na década de 1950[Rádio: encruzilhada da história:
rádio e memória/orgs. Francisco A. do Nascimento, F. C. Fernandes Santiago Jr. –
Recife: Bagaço, 2006. 278p.])
Quando nasci, em 1963, a sonoridade
da radiodifusão na capital já havia experimentado os dias fundamentais e
caminhos reparadores à implantação da primeira emissora de rádio de Teresina. A
implantação da primeira rádio no Piauí deu-se em 1938, a Rádio Educadora de
Parnaíba, que sofrera formatação e experimentos
naquela cidade, desde 1930. Em Teresina, o “João Batista” pregador das
primeiras emissoras de rádio, na capital, foram as amplificadoras “Rádio Amplificadora
Teresinense” e a “Rádio Propaganda Rianil”, entre outras.
Em 1963, Teresina já possuía há quinze anos
sua pioneira emissora, “(...) a Rádio Difusora de Teresina, com o prefixo ZYQ –
3, a qual promovia uma programação que intercalava música, jornalismo e
programas que exploravam temáticas populares, discutindo problemas da sociedade
local.” (Lima, Nilsângela Cardoso. Invisíveis Asas das Ondas ZYQ – 3: A Rádio
Difusora de Teresina na década de 1950[Rádio: encruzilhada da história: rádio e
memória/orgs. Francisco A. do Nascimento, F. C. Fernandes Santiago Jr. –
Recife: Bagaço, 2006. 278p.])
Talvez, por meus pais serem
católicos praticantes, a Rádio Pioneira ser emissora católica e, eles dedicarem
grande admiração por Dom Avelar Brandão Vilela, eu tenha crescido com ouvidos
ligados na rádio católica. Porém, quem abrilhantou os anos de radiofonia, em
Teresina, a partir de 1948 e depois dividiu espaço com a Pioneira e Rádio Clube
de Teresina, segundo a pesquisadora Nilsângela Lima, foi mesmo a Rádio Difusora
de Teresina (ZYQ – 3).
(logo da rádio difusora de Teresina/divulgação)
Jornalismo comentado, musicais,
programas de auditório e radionovelas foram assumidos também como padrão na
rádio local, a exemplo do que era praticado em outros centros e assim nossa
Difusora desempenhou seu papel sociocultural e, constituindo-se como meio de
comunicação de massa gerou espaço para sociabilidades, cultura e lazer nas
frentes da radiodifusão em Teresina.
“As radionovelas também fizeram
parte da programação da Rádio Difusora de Teresina, constituindo-se em
programas de grande sucesso. As novelas eram compradas de rádios do sul do país
ou da ‘Rádio Clube de Pernambuco’ e ‘Ceará Rádio Clube’. Algumas foram
produzidas por artistas piauienses (...) de curta duração e interpretadas pelos
elementos principais do ‘cast’ da ZYQ – 3 e por pessoas de destaque da
sociedade teresinense que tinham algum envolvimento com a arte cênica, como
Santana e Silva e Ana Maria Rego.” (Idem. pg. 143)
Com a veia informativa e de
cinzel devotado à comunicação, seu jornalismo também foi áureo e qualificável
da informação radiodifundida. “O ‘Jornal Q- 3’ tinha, para o Piauí, a mesma
importância que o ‘Repórter Esso’ tinha para o Brasil. Segundo José Lopes dos
Santos, o ‘Grande Jornal Q- 3’, irradiado desde 1951, possuía um papel
importante em termos de informar a sociedade (...) ainda não existindo a
televisão, o jornal falado estava mais acessível à população.” (Idem. pg. 147)
Os programas de auditório, mesmo
para espaço pequeno com apenas 25 cadeiras, constituíam destaque na participação
popular e preferência do público ouvinte. E quando havia a necessidade de
trazer grandes artistas do cunho nacional, shows artísticos eram organizados
para o palco do Theatro 4 de Setembro, com a venda de ingressos e
possibilitando um exercício de sociabilidades.
A hora dos auditórios mantinha
programas como o conduzido por "(...) Rodrigues Filho, o qual, além de programa
de calouros, realizava ‘jogos’ de perguntas e respostas, atraindo muitos jovens
pelas brincadeiras e pelos prêmios oferecidos.
Outro programa que se destacou, foi o Domingo Alegre, apresentado pelo
radialista Al Lebre, que, acompanhado de uma criança, acalorava o auditório
apertado devido à participação ativa do público.” (Idem. pg. 155)
Quem não ia ao auditório
acompanhava com ouvido colado ao radinho a cultura do lazer através das ondas
do rádio. A vida pensada por radialistas, técnicos, redatores, locutores-noticiaristas,
comentadores, e a penetração das mulheres na profissão de locutoras, cantoras,
radioatrizes.
“Ao lado da ação política,
religiosa, econômica, informativa e cultural, a formação do imaginário popular
é um dos elementos fundamentais que pode produzir e fazer com que o público
ouvinte viaje no mundo da fantasia que o rádio permite.” (Idem. pg. 158)
Das sociabilidades de encontros
nos logradouros públicos, as praças das paqueras, das bandinhas e retretas, ao
deslocamento da atenção às amplificadoras implantadas nas praças do centro da
cidade até a chegada efetiva da era do rádio local que ganhou idade madura, com
o correr dos anos, nossa memória e história cultural da radiofonia é fato que a
história oral tem recuperado para que não se perca o pioneirismo da Difusora de
Teresina.
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