sábado, 7 de julho de 2012

Eli(a)s & Nós

 Eli(a)s & Nós
por maneco nascimento

Registrar memórias para que não se percam nas dinâmicas orais, sempre será um ótimo exercício de construção material da história e, a memória cultural merecerá ter a poeira levantada para que se possa recuperar dias de construções sociais e artísticas. Quem nunca ouviu falar de Elis Regina, será um alienígena sem modos de curiosidade.

Então, falar do Bar Nós & Elis é um privilégio de uma geração de felicidade conquistada na cidade de pouco tempero, à época, para o caldeirão que fora forjado naqueles dias vividos. Natural do Bairro Piçarra, zona sul da cidade, também freqüentei alguns laboratórios de fomentação cultural de Teresina. 

Lugares de boa frequência cultural, a Feirinha da Praça Saraiva, comandada pela Sulica (Maria Luiza Vitória Figueiredo); os Folguedos na Prainha; os bares, cinemas (quando existiram) no centro; o Teatro 4 de Setembro e, naturalmente, o Bar Nós & Elis, que pegou pra todo mundo. Qualquer pessoa, de bom senso curioso, andejou por aquele que não era simplesmente um bar, mas um espaço cultural, onde se encontrava os amigos, havia shows e dividia-se apertado trânsito com assíduos e audazes.

Também estive por lá, para ver shows, atender ao apelo das Quartas Poéticas e, quando solicitado, também pisar aquele pequeno, mas aconchegante, palco para estrelas, iniciantes, iniciados e atrevidos. O espetáculo “Raimunda Pinto, Sim Senhor!, de Chico Pereira da Silva, montagem do Grupo Harém de Teatro, fez rir o público da Casa.

Era o Bar do momento e todos passavam por lá. Sair dali, para quem não tinha transporte e nem carona amiga, sobrava andar até determinado trecho e se virar como pudesse. Também andei de lá até a João XXIII, parada antes da Ponte Juscelino Kubitschek, portas do antigo Hortomercado Domingos Monteiro, atual Espaço Cidadania. Daquele ponto todo santo ajudava.

Ao ler o livro “No Nós & Elis – A gente era feliz – e sabia” (Idem. Teresina: Gráfica Halley, 2010. 180 p. – Memória Teresinense – Coletivo de Autores. Org. Joca Oeiras), um “revival” aos dias de belas noites “de guitarras, sonhos e emoções...”, de uma felicidade que não mata de saudade, deixa um gostinho de como era bom andar por aquela idéia de Elias Ximenes do Prado Jr., que alcançava qualquer pessoa sensível e de boa paz.

A obra organizada reúne depoimentos comoventes e reais, em alguns encontro identidade e testemunho. Os autores, Paulo José Cunha, Joca Oeiras (organizador), Paulo Moura, Albert Piauí, Aurélio Melo, Chico Castro, Climério Ferreira, Cruz Neto, Durvalino Couto Filho, Edvaldo Nascimento, Edna Nascimento, Emerson Boy, Feliciano Fifi Bezerra, George Mendes, Geraldo Brito, Ico Almendra, Jabuti Fonteles, João Cláudio Moreno, Kenard Kruel, Laurenice França, Luís Brandão, Machado Jr.

Cada um, a seu tempo, cozendo parte da colcha de retalhos da memória daquele mapa das histórias do “Nós & Elis” que completado, com dados entrecruzados e fatos comuns, por Maristela Grüber, Marta Tajra, Moisés Chaves, Natércia Rangel, Patrícia Mellodi, Paulo Aquino, Rosana Siqueira, Rosilândia Melo, Roraima, Rubervan Du Nascimento, Vera Mascarenhas, Wellington Dias, William Melo Soares e Zezé Fonteles.

Os registros fotográficos e hemeroteca (Instatâneos) completam o passado revisitado do Nós, do Elias, de Elis, da cidade e suas oportunas modernidades e sociabilidades que nos fazem repercutir sobre o que aprendemos em coletivas intenções e apreendemos em colheitas do melhor exercício perseguido pela humanidade, a busca da felicidade.

“O bar foi inaugurado em 1984, e o nome Nós & Elis, se deve ao fato de que Elias era um grande admirador de Elis Regina. Ele gostava da cantora e de sua irreverência. A música predileta dele era o Bêbado e o Equilibrista; sempre que tocava ele se emocionava (...)” (Mascarenhas, Vera. Sobre Elias Ximenes do Prado Júnior e o bar Nós & Elis. No Nós & Elis – A gente era feliz – e sabia. pag. 151).

Há 28 anos, alguns, éramos “tão jovens, tão joveeens...”. Nesse revirar do túnel do tempo, velhas memórias de risos, de saudades, pilhérias contadas, alcunhas registradas, mitos espalhados e toda sorte de amores, nem sempre tranqüilos, mas de paz e harmonia culturais guardadas na “parede da memória essa lembrança é o quadro que...” nos faz bem.

Eli(a)s & Nós vivemos feito tatuagem em dias que éramos felizes e sabíamos, sim.

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