Teatro
estudantil
por maneco nascimento
Na noite do dia 10 de julho de 2012, no palco do Theatro 4 de Setembro, às 20 horas, mais uma turma de futuros atores realizaram montagem de exercício teatral, como teste final de formação da Escola Técnica de Teatro Professor Gomes Campos. Depois de algumas aulas teóricas e práticas em sala de aula, era a hora e vez da augusta matraca dramática parir sua cena.
O exercício de cena apresentado baseou-se em obra de dramaturga piauiense, com histórico de peças de discurso político em contexto do período da exceção brasileiro. Ditadura com calços e percalços de imposição sócio-disciplinar que percorreu todo o país com suas regras e condutas militares, encontrou na obra de Ísis Baião uma válvula de escape para a resistência cultural, com um humor que alveja o ponto desejado.
“As chupetas do Senhor Refém”, um divertido e tragicômico musical que atrai a atenção da reflexão coletiva acerca das posturas autoritárias, maneirismos (in) disfarçados de impor poder e força sobre quem não detém conhecimento, nem autoridade de acercar-se de argumentos sobre os próprios direitos.
Com muito humor a autora vai desvelando ações político-contextuais e, na metáfora de um bebê "feito refém" nos limites de uma maternidade, aplica a crítica de costumes e expõe à expiação pública o autoritarismo, corrupção, transgressão de direitos, violência e imposição do silêncio.
Na dramaturgia de Ísis Baião uma dinâmica do riso crítico que incorpora situações corriqueiras, na ditadura, e abre brecha ao choque e trágico sob o viés de brinquedo perigoso. A rotina de um hospital maternidade em que a mãe vem em busca do bebê que pariu e não pode levar para casa. Ficam expostos os corruptores e corruptíveis no cotidiano hospitalar e a fragilidade de quem não tem a quem recorrer. Um caso de polícia a quem é a polícia.
A dramaturgia de compreensão à cena, realizada pela professora de montagem da Escola Gomes Campos, é de Lorena Campelo. Elementar, ligeira e ainda com descuidos de finalização. O elenco, grosso modo, está muito pouco à vontade. Parece ter um exaspero em livrar-se da cena. Não mastiga o drama, engole-o em fúria seca e numa descompreensão do que parece ser a coisa mais importante, a dramaturgia de proteção social aplicada ao reflexivo.
Há muito apelo ao riso fácil, perde-se o detalhe do humor ao cáustico e venal de estocada na ferida exposta. A mãe, que representada por cada uma das alunas aspirantes a atrizes, é gritada, em arranhado de garganta e agressão aos ouvidos da platéia.
Gritaria e histeria, sem construção direcionada para sentidos da personagem, esvaziam o propósito e deixam no fácil ou para fazer rir, ou para fazer esquecer de vez a autora, a dramaturgia original e o contexto político intertextual.
Como aprendizes de feiticeiro, estão nervoso (a)s, atabalhoado (a)s e num “dança pra frente, pra trás, pra esquerda, pra direita...”, quase um peru rodou para bicho que deveria pensar. Dinâmica de teatro não quer dizer estar-se mexendo a cada fala pronunciada. Às vezes a economia e o silêncio falam por si só. Projeção de voz à cena não se justifica em gritaria, com receio de que não possa ser ouvido (a).
As aulas teóricas não parecem ter surtido efeito a aluno (a)s em exercício cênico de formação profissional. Ficou algo a dever da orientação do montador da peça vista.
A cenografia de dois planos, com módulos que se transformam, num certo momento em fake auditório, não comprometem. Ao contrário, criam distância e poder na cena de estrados planejada para ambiente de planos cenográficos. A luz, utilitária, não repercute nem dramaturgia de autora, nem de coletivo de montagem. Mas mantém artistas no claro.
Entre o exaspero e a pressa em encenar resultados na cena, o elenco é diverso e corajoso. “Vai pra galera!” Melhores performances em Camila Carvalho, tranqüila em sua projeção da voz à personagem; Célia Lopes quando vem visitar o filho João, preso na maternidade, tem uns tempos de texto que faz rir, sem apelo gratuito. Quando representa a mãe querendo levar o filho, feito refém, ainda grita muito e fragmenta a boa intenção.
Valdênia Carvalho, que representa uma mãe miserável, em programa popular de auditório, também tem desempenho suave e projeta a pequena voz para toda compreensão, sem exagerar na fórmula. Lorena Soares, a enfermeira do diálogo de corredor, tem boa presença, mas parece descomprometida com o todo, já que crê estar + à frente do coletivo ensaiado. Perde ponto.
Augusto César, o médico de passagens no corredor e Igor Araújo, o médico tarado, têm boa intenção e algum sinal de fumaça para fogueira das vaidades. Têm “timing”, presença do belo na cena. Jogam-se aos leões, mas apelam ao riso fácil. Talvez concentrarem-se + na personagem e menos no riso da platéia fechem melhor o jogo do fingimento. Mas é bonito vê-los, embora não seja concurso de miss.
Jean Carlos, o delegado durão, foge um pouco da rubrica da autora, mas não gera defeito, gera talvez enfraquecimento da dramaturgia. A insegurança na cena e a dancinha “dois pra lá, dois pra cá” seriam muito dispensáveis, não combinam com a personagem. Tem uma boa projeção, mas intimidada pelo exercício à profissão. Zeh Carlos copta ao caricatural de macaca de auditório, mas não perde a hora de se impor na cena. Tem presença a ser decantada.
Os outros colegas de cena, Antonia Rodrigues, Danielle Martins, Flávia Sousa, Giselle Tôrres, Iarla Ribeiro, João Paulo, Josinaldo, Malu Mendes e Orlene, compõem o conjunto em festejo do ato de encenar. Mantêm vigor em busca de acenar ao coletivo da representação proposta.
Os novos atores lançaram placar ao final da partida, de um ano e meio de banco escolar, agora é correr em busca do sonho e gerar mercado da profissão de ator. Merde!
por maneco nascimento
Na noite do dia 10 de julho de 2012, no palco do Theatro 4 de Setembro, às 20 horas, mais uma turma de futuros atores realizaram montagem de exercício teatral, como teste final de formação da Escola Técnica de Teatro Professor Gomes Campos. Depois de algumas aulas teóricas e práticas em sala de aula, era a hora e vez da augusta matraca dramática parir sua cena.
O exercício de cena apresentado baseou-se em obra de dramaturga piauiense, com histórico de peças de discurso político em contexto do período da exceção brasileiro. Ditadura com calços e percalços de imposição sócio-disciplinar que percorreu todo o país com suas regras e condutas militares, encontrou na obra de Ísis Baião uma válvula de escape para a resistência cultural, com um humor que alveja o ponto desejado.
“As chupetas do Senhor Refém”, um divertido e tragicômico musical que atrai a atenção da reflexão coletiva acerca das posturas autoritárias, maneirismos (in) disfarçados de impor poder e força sobre quem não detém conhecimento, nem autoridade de acercar-se de argumentos sobre os próprios direitos.
Com muito humor a autora vai desvelando ações político-contextuais e, na metáfora de um bebê "feito refém" nos limites de uma maternidade, aplica a crítica de costumes e expõe à expiação pública o autoritarismo, corrupção, transgressão de direitos, violência e imposição do silêncio.
Na dramaturgia de Ísis Baião uma dinâmica do riso crítico que incorpora situações corriqueiras, na ditadura, e abre brecha ao choque e trágico sob o viés de brinquedo perigoso. A rotina de um hospital maternidade em que a mãe vem em busca do bebê que pariu e não pode levar para casa. Ficam expostos os corruptores e corruptíveis no cotidiano hospitalar e a fragilidade de quem não tem a quem recorrer. Um caso de polícia a quem é a polícia.
A dramaturgia de compreensão à cena, realizada pela professora de montagem da Escola Gomes Campos, é de Lorena Campelo. Elementar, ligeira e ainda com descuidos de finalização. O elenco, grosso modo, está muito pouco à vontade. Parece ter um exaspero em livrar-se da cena. Não mastiga o drama, engole-o em fúria seca e numa descompreensão do que parece ser a coisa mais importante, a dramaturgia de proteção social aplicada ao reflexivo.
Há muito apelo ao riso fácil, perde-se o detalhe do humor ao cáustico e venal de estocada na ferida exposta. A mãe, que representada por cada uma das alunas aspirantes a atrizes, é gritada, em arranhado de garganta e agressão aos ouvidos da platéia.
Gritaria e histeria, sem construção direcionada para sentidos da personagem, esvaziam o propósito e deixam no fácil ou para fazer rir, ou para fazer esquecer de vez a autora, a dramaturgia original e o contexto político intertextual.
Como aprendizes de feiticeiro, estão nervoso (a)s, atabalhoado (a)s e num “dança pra frente, pra trás, pra esquerda, pra direita...”, quase um peru rodou para bicho que deveria pensar. Dinâmica de teatro não quer dizer estar-se mexendo a cada fala pronunciada. Às vezes a economia e o silêncio falam por si só. Projeção de voz à cena não se justifica em gritaria, com receio de que não possa ser ouvido (a).
As aulas teóricas não parecem ter surtido efeito a aluno (a)s em exercício cênico de formação profissional. Ficou algo a dever da orientação do montador da peça vista.
A cenografia de dois planos, com módulos que se transformam, num certo momento em fake auditório, não comprometem. Ao contrário, criam distância e poder na cena de estrados planejada para ambiente de planos cenográficos. A luz, utilitária, não repercute nem dramaturgia de autora, nem de coletivo de montagem. Mas mantém artistas no claro.
Entre o exaspero e a pressa em encenar resultados na cena, o elenco é diverso e corajoso. “Vai pra galera!” Melhores performances em Camila Carvalho, tranqüila em sua projeção da voz à personagem; Célia Lopes quando vem visitar o filho João, preso na maternidade, tem uns tempos de texto que faz rir, sem apelo gratuito. Quando representa a mãe querendo levar o filho, feito refém, ainda grita muito e fragmenta a boa intenção.
Valdênia Carvalho, que representa uma mãe miserável, em programa popular de auditório, também tem desempenho suave e projeta a pequena voz para toda compreensão, sem exagerar na fórmula. Lorena Soares, a enfermeira do diálogo de corredor, tem boa presença, mas parece descomprometida com o todo, já que crê estar + à frente do coletivo ensaiado. Perde ponto.
Augusto César, o médico de passagens no corredor e Igor Araújo, o médico tarado, têm boa intenção e algum sinal de fumaça para fogueira das vaidades. Têm “timing”, presença do belo na cena. Jogam-se aos leões, mas apelam ao riso fácil. Talvez concentrarem-se + na personagem e menos no riso da platéia fechem melhor o jogo do fingimento. Mas é bonito vê-los, embora não seja concurso de miss.
Jean Carlos, o delegado durão, foge um pouco da rubrica da autora, mas não gera defeito, gera talvez enfraquecimento da dramaturgia. A insegurança na cena e a dancinha “dois pra lá, dois pra cá” seriam muito dispensáveis, não combinam com a personagem. Tem uma boa projeção, mas intimidada pelo exercício à profissão. Zeh Carlos copta ao caricatural de macaca de auditório, mas não perde a hora de se impor na cena. Tem presença a ser decantada.
Os outros colegas de cena, Antonia Rodrigues, Danielle Martins, Flávia Sousa, Giselle Tôrres, Iarla Ribeiro, João Paulo, Josinaldo, Malu Mendes e Orlene, compõem o conjunto em festejo do ato de encenar. Mantêm vigor em busca de acenar ao coletivo da representação proposta.
Os novos atores lançaram placar ao final da partida, de um ano e meio de banco escolar, agora é correr em busca do sonho e gerar mercado da profissão de ator. Merde!
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