Aberrazei!
por maneco nascimento
“Amanhecer”, o filme, da série Crepúsculo da Lua, tinta cintilante da indústria de cinema americano, ganhou sua versão de paródia com identidade registrada para “A manha é ser”, a peça de teatro, para a série, da sátira corpúsculo. O projeto tem texto, direção e mapa de dramaturgia de Franklin Pires.
O elenco que deu forma, máscaras, evento de efeméride e presença cênica destacável, em alguns casos, é composto por Bid Lima, Franklin Pires, Luciano Brandão, Valdemar Santos, Zé Carlos di Santis, Edith Rosa, Nayara Fabrícia, Nilda Neres, Bruno Lima, Danilo França, Fernando Goldan, Alex Reis, Júnior Vieira, João Vasconcelos e Gleyciane Pires.
O conjunto do elenco amanhece no histrionismo e decai para o ocaso com certa picardia do teatro em misto de “stand up” revisionado e localizado e de um improviso contundente em um ou dois intérpretes bons de “timing” e os demais correndo atrás de um prejuízo em que não apreenderam a técnica, jamais adquirida através do espírito santo.
“A manha é ser”, na esteira de uma fórmula que já deu certo em outros movimentos da variação sobre o mesmo tema, é risível, extravagante, bem humorada e, por vezes, no descuido de entendimento e fé cega à vaidade particular d’alguns, derrapa no apelo aberrativo. Mas, teatro livre de amarras e dono da própria iniciativa compensada pelo público e gorda assistência do gargarejo.
Bid Lima, não fosse uma excelente atriz, ainda assim teria destreza em palco, haja vista brincar de fazer teatro com uma naturalidade planejada. Sua Bela Suína, anti heroína da Bella Swan, tem tempo de inflexões e intenções de construção de personagem que, mesmo pueril, é invejável.
Franklin Pires e seu Eduardo Cualém (Edward Cullen) é expressivamente determinante entre o cacoete, a caricatura bem cuidada e tempos de falas lacônicos e elementares do seu dramalhão. Conspira para dramaturgia que assina e não suja na saída.
O lobisomem de Luciano Brandão, Jacobe Pink (Jacob Black) também tem nervos e sangue para o teatro seja em drama, ou comédia escatológica. Fecha o triângulo de sustentação do projeto do riso e entretenimento para não deixar vestígio de dúvidas do que queiram alcançar: público identitário e novidade à cena local que “se acha”.
Destaques, para essa nova investida, podem ser vistos em Zé Carlos di Santis na pele do velho pai da tribo de homens lobos. Cadeirante e empolgado na cena, traduz ao coletivo da encenação uma atitude imberbe, mas concentrada em corpo de bailarino, ator e artista criador do próprio espaço de ocupação. A energia vitaliza a cadeira de rodas em uma quase extensão de si mesmo.
Edith Rosa, com um tempo particular de histrionismo, se auto sustenta e ganha o público com uma qualidade dramalhona. Está + pé dentro que fora. Valdemar Santos tem dinâmica e humor venais e sabe aproveitar-se bem da linguagem que seu corpo lhe destina. A legenda está à frente do texto, seja do corpo, seja da dramaturgia literária.
Danilo França, entre o exagero e o princípio da descoberta de uma economia em construção, consegue compor um vampiro obscuro e quase obsessivo para “punks” e emos em princípios de sentimento “dark”. Come pelas beiradas e, no silêncio de propósitos à atuação, realiza seu pulo do gato sem fazer alarde e estapafurdia.
Fernando Goldan seria ator de personagem só, se se tratasse de “commèdie d’larte”. Incorre no lugar comum sem peso de renovação de repertório do fútil e trivial óbvio. Nilda Neres tem presença e desempenha o texto com cuidado de, ao que parece, observação de marca da direção.
Os outros atores, não dispensáveis, compõem marcas e falas para excessos, ou obscurecimento da cena, mas cumprem seu papel. Como texto, para a peça “A manha é ser”, consegue ser + sucinto, objetivo e cáustico. Por vezes, é mola de sustentação da cena, especialmente, por apropriar-se do contexto local e frases de efeito de identidade da cidade e seus comuns.
A dramaturgia textual quebra o paradigma do teatrão, brinca de reinvenção da própria fórmula de se impor e ser teatro e, para os + céticos, seria “um elefante que incomoda muita gente”.
E a dramaturgia de cena alimenta-se de novidades que se estabelecem pelo impacto risível, como as participações do transsexual Tátyla, como uma loba sem “Ray ban” e de “mega hair” e da anã Suely, como o bebê prodígio e energético, nascido de Bela Suína.
“A manha é ser”, a sátira em peça de teatro, tem todos os elementos para o riso e o entretenimento e ainda está para o palco, como o ator está para a cena. Não perde a piada, dá-lhe nova intenção, mesmo que escatológica.
Quem não gostou, que gostasse!
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