É moda
por maneco nascimento
Teresina,
a província mesopotâmica, tem das suas ousadias e acompanha a volta ao mundo. Já, às vias de 162 anos, ganha margens de modernidade ansiada. Terra esticada para fora dos leitos do Poti e Parnaíba, a cidade cresce e varre velhos costumes, na esteira das novidades e do mundo capital, e tem pressa em se perfilar com os grandes centros urbanos.
Inchada de veículos, com projetos de mobilização urbana pífios, serviços de transportes públicos coletivos ineficazes, mas com produto para mercados e futuros. Grandes lojas de departamentos, redes nacionais de supermercados, empresas de investimento diverso, hotéis 5***** e shoppings sorrindo às margens do rio Poty e a vizinhança de arranha-céus e condomínios e boom da especulação imobiliária e Teresina de serviços a oferecer como sinal ao fluxo turístico de negócios de recepção.
No mundo da ciência ampliada, a academia (UFPI, UniNovaFaPi) também abriu mercado para moda e a escola, de ensino-aprendizagem, vem em reforço aos ensaios de negócios de estilo e criação conceitual, modelo, passarela, desfile. Na esteira da indústria da moda, surge ainda o agenciamento e desdobramentos do mundo da passarela, beleza, dependência e serviço escravo das operárias de desfile e a + valia (como prognosticou Marx) aos patrões, donos de lucros e mercados em ascensão local.
A cidade tem acompanhado os padrões, da moda, com referência no velho mundo (in)esgotável e também nesse lado do ocidente, reprodutor dos conteúdos e produtos à venda e consumo. Piauí Fashion Week - PFS - repetiu sua versão, para este ano, em um Hotel Três Torres Azuis, no bairro Ilhotas, de frente ao Rio Poty.
(divas desfilam seu look em noite de moda/acervo 180graus)
Para os críticos do bom humor de plantão, o evento deveria se chamar Piauí Tree Day como resposta ao improviso observado, em alardeado como "best", repercutido a restritos três dias e encolhida infra que requereria encher a atenção e curiosidade de olheiros e investidores ao produto que envolve estilistas, criadores e proletários que correm atrás para entrar na indústria e estar na moda.
Evento para lojistas e empresários têxteis "se mostrarem", o Piauí Tree Day, aos humorados, e PFW, para os detentores da franquia, as noites cumpriram seu ritual de passagem e trânsito da moda e tráfico de afluências de agências de modelos e manequins e de influências a quem dita normas de inclusão na passarela.
(moda, criadores e imagens de identidade/acervo 180 graus)
Para proprietários de pequenas agências de modelos e manequins tudo recai sobre o esforço e dedicação total das profissionais e suas famílias que insistem na carreira das artistas de passarela. No Piauí Fashion Week, segundo Frank Coelho, os serviços de artistas de passarela é hercúleo, têm que percorrer as lojas da cidade, em dois dias, por sua conta e desfilar os outros três dias. Não há horas extras para as profissionais, enquanto provam roupas. O cachê por todo o serviço em que são incluídas é de R$ 70,00, a diária.
Os três dias de desfiles correm de estarem no local a partir das 13 horas e a conclusão do serviço às 23 horas. Coelho confirma, "é setenta reais a diária, tendo prova de roupa dois dias antes. Ir de loja em loja provando peças. No final, são cinco dias de trabalho", diz. Cansaço, desgaste e investimento pessoal de cada profissional para estar no mundo da passarela.
Os três dias de desfiles correm de estarem no local a partir das 13 horas e a conclusão do serviço às 23 horas. Coelho confirma, "é setenta reais a diária, tendo prova de roupa dois dias antes. Ir de loja em loja provando peças. No final, são cinco dias de trabalho", diz. Cansaço, desgaste e investimento pessoal de cada profissional para estar no mundo da passarela.
Na cidade, o evento teve, à frente da organização, a promotora de eventos Kalor Produções e a agência de modelos Vila Models, com um apoio midiático de uma empresa de comunicação de massa local, sistematizada para meios que norteiam negócios de mercados comunicacionais.
Para Frank Coelho, não há muita clareza nas relações que envolvem promotores do evento, lojistas e empresários de confecção e os profissionais da passarela. "Não existe papel, não existe contrato, tudo era feito de boca. Descobrimos quase na hora que o cachê seria de R$ 70,00, e ai surge a velha, antiga proposta aos donos de agências. De aparecer o nome da agência nos telões", espalhados no local, diz Frank.
Ainda informa Coelho que, houve uma reunião com todos os donos de agências de modelos e manequins e as profissionais da passarela. Na reunião "eles definiram que nenhuma agência poderia investir nem mais R$ 10,00, além dos R$ 70,00", conta. Para Frank, os donos de agências é que são os produtores do evento. Levam as modelos para provar roupas, das 8 da manhã às 22 horas. As profissionais "gastam o cachê se deslocando, de loja em loja", conta, numa maratona de escolha de peças aos desfiles. "Desfilam por prazer e pelo sonho de ser top model. A ilusão do mundo do glamour, fashion, da moda", conclui.
Um dos nomes dos negócios de moda, passarela e desfile na cidade, com incursões por outras cidades brasileiras é o da empresária Eveline Duarte, com passagem e compromissos a finalizar com profissionais de Fortaleza. Na cidade o SATED-CE e profissionais do desfile, passarela e modelos têm conseguido melhorar a qualidade de aproveitamento dos artistas dessa área. Hoje, com a mediação do Sindicato de Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão do Ceará - SATED-CE, os profissionais percebem a diária de R$ 380,00, em contrato de eventos de moda.
O SATED-PI realizou, nos dias 26, 28, 29, 30 de abril e 6 de maio deste ano, o Fórum das Artes Cênicas 2014. Na abertura do Fórum, dia 26 de abril, o Presidente do SATED-CE tratou sobre o tema "Modelos e Manequins - Direitos e Deveres da Profissão", com profissionais da área, em reunião na Sala de Vídeo da Casa da Cultura de Teresina. Na ocasião Oscar Roney concedeu, em seguida, entrevista à Revista do Sindicato daqui, em que falou da realidade de políticas do SATED, acerca do mercado da moda e ações do Sindicato que protegem artistas e técnicos das cênicas, circo, modelo e passarela e transformismo.
(Oscar Roney, Sated-CE e Lari Salles, Sated-PI/divulgação)
Revista do Sindicato - Oscar Roney, você tem desempenhado um trabalho eficaz de fortalecimento do Sindicato de Artistas no Ceará. Você acredita que o SATED se estabelece como representação de classe?
Oscar Roney - O Sindicato tem a representação legal da classe. Mas a classe tem que se organizar para inquirir seus direitos. O artista construindo as ações do Sindicato seria mais interessante.
RS - Há uma aproximação política e integrativa dos Sindicatos de artistas no Brasil?
OR - O Brasil tem uma dimensão continental de diversidade cultural, econômica e dificulta a aproximação. Não se pode tratar o SATED-SP e o de Roraima da mesma forma. Existe uma integração que possibilita a parceria, apoio, fiscalização. São 27 estados. Em 13 de janeiro de 2014 se estabeleceu a Federação Nacional de SATEDs - FENATED e isso vai mudar os rumos na representação legal dos estados. O SATED representa o município e o estado. A Federação será benéfica como representação nacional, comum a todos os estados.
RS - Você veio a Teresina para uma conversa com profissionais modelos e manequins. Qual a importância desse encontro?
OR - Alertar sobre problemáticas do mercado da moda. Tratar sobre o cumprimento das legalidades trabalhistas a manequins e modelos. O SATED tem ação de ver junto aos contratantes como devem caminhar os processos de prestação de serviços e ação de orientação junto aos manequins e modelos. O problema não está nos artistas, mas no contratante que contrata irregularmente.
RS - Existe uma distância muito grande entre o tratamento de profissionais da moda, de estado a estado?
OR - Dois caminhos, em se tratando de Sindicatos. A fiscalização é indispensável e a conscientização da profissão e do empresário da moda deve ser igual em qualquer estado. Com as devidas proporções de cada mercado, deveria haver a proteção da profissão no que concerne sindicatos, profissionais conscientes da profissão e diálogo com promotores de eventos da moda. Cada centro tem sua peculiaridade de mercado. Não adianta pedir aos associados que só paguem a mensalidade ao Sindicato. Não basta só o documento oficial para caracterizar a proteção do profissional seja das cênicas, seja da área de modelos e manequins. O Sindicato deve ser atuante, informar, instruir, abrir diálogos e fazer frente junto ao profissional para que tenha a profissão assegurada pelos direitos e deveres no trabalho.
RS - Qual a função do Sindicato nesse assunto de proteção de profissionais da moda?
OR - Quando se fala em arte, se divide discussões em educação pela arte, manifestação artística, representação profissional artística e vale para as profissões que envolvem o universo da arte e cultura e moda também. Agora se está esclarecendo que o artista precisa ser valorizado como artista. Ninguém quer impedir editais ou eventos de qualquer natureza cultural, mas que se considere os artistas como o profissional das cênicas, ou da moda. Não se trata artista como vaquejada ou quadrilha junina. Mesmo na paixão da profissão sempre deverá haver um cuidado para que o artista seja tratado como profissional, sem excluir a comunidade.
RS - O que precisa ser feito para melhorar a qualidade dessa categoria de modelos e manequins?
OR - Esclarecer sobre jornadas de trabalho de 8 horas e nunca profissionais trabalharem das 8 da manhã até às 22 horas. Ou 24 horas de trabalho. Definir o cumprimento da tabela de Convenção Coletiva de Trabalho, com tabela de preço que pode variar de estado para estado. Mas ela deve existir porque na hora de problemas, acidentes, a Convenção é quem vai finalizar a negociação.
RS - Que órgãos oficiais o Sindicato operacionaliza, que respaldem uma ação do SATED?
OR - O Ministério do Trabalho, a Procuradoria do Trabalho, o Ministério Público. Às vezes a Secretaria de Cultura e em alguns casos a PF porque a Lei é federal. E caso envolvam crianças e adolescentes também são acionados o Conselho Tutelar da Criança e a Delegacia da Criança.
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