por maneco nascimento
«Pai, graças te dou que me ouviste. Eu sabia que sempre me ouves, mas assim falei por causa desta multidão que me cerca, a fim de crerem que tu me enviaste.» (João 11:41-42) |
Após ter dito isto, Jesus gritou em voz alta: " Lázaro, sai para fora!" O morto então saiu, com as mãos e pés enrolados em tiras de linho e com panos à volta do rosto. Jesus disse então ao grupo: "Desatai-o e deixai-o ir." (Jo, 11 v. 44)
Muitos milagres podem ser realizados, fora da narrativa bíblica e, especialmente, longe da fé cega apregoada pelos negócios da novas igrejas, sejam de cultura religiosa, ou de cultura política. Há milagres que, para ocorrerem, bastam atitude, definição real e ética de política pública e interesse coletivo.
Quando essas prerrogativas não se estabelecem, então tem-se um misto de zona de conforto, comodidade acompanhada de omissão sócio cultural e a cultura de bicho dependente da teta oficial do cargo público, de generosa indicação política.
O município de Teresina sempre teve uma boa referência de efervescência cultural e movimento de atração pública aos serviços da pasta cultural da cidade. Desde que foi criada a Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves - FMC, na década de 1980, no governo do prefeito Wall Ferraz, o projeto de fomento cultural sempre buscou manter proposições sugeridas por artistas, técnicos, historiadores e parceiros outros convidados, pelo prefeito Wall, a somar e compor a pedra base do que seria o órgão com status de secretaria municipal de cultura do município.
Grandes nomes estiveram à frente dessa entidade cultural. Noé Mendes (professor pesquisador da cultura popular); João Cláudio (jornalista e ator); Cecília Mendes (professora e educadora cultural); José Afonso de Araújo Lima (historiador, diretor e ator de teatro); professor José Reis Pereira (educador e filósofo), o eterno e querido presidente; Cineas Santos (professor, educador e promotor cultural); Laurenice França (cantora, artista da cepa musical e loura + poderosa do circuito local de arte e cultura); Marcelo Leonardo Simplício (advogado e músico) e o artista popular Lázaro do Piauí.
Pelo "cast" se tem ideia de que nem tudo foi em vão. Nomes que representam o perfil artístico cultural da cidade que não tem + fim. A cidade pode ser de infinita temporalidade, como quer o poeta, mas os projetos, por vezes, perdem o norte e a finitude vai ganhando força.
Exemplo, a FMC já foi local de grande circulação de artistas, promotores culturais, referência de obras e projetos fomentados à galeria de memória sócio cultural local, mas atualmente parece cerrar-se a túmulo de regurgitadores da folha pública.
O que + se tem atualmente, como experiência, é que aquela agência de fomento cultural tornou-se local inexpressivo, nada aprazível, em que as pessoas comuns e artistas só frequentam em casos extremos, quando precisam, e não há a quem + recorrer, para resolver problemas e pendengas de ingerência administrativa.
Virou um parque da felicidade de generosas acomodações de indicações políticas e pouco traquejo com o real negócio cultural das primeiras origens da Casa.
O desenredo que + tem influenciado o afastamento dos munícipes da FMC, talvez seja a ausência consentida do presidente indicado àquela instituição. Alardeado, em primeiras chegadas, como administrador e artista, logo próximo do "mètier" de gerência cultural, se foi percebendo que há + céu e terra, longe da imagem do mortal sem fé artística para ser agraciado com obra de milagre, seja para traquejar entre os pares e, sobretudo, entre artistas e promotores culturais da cidade.
Recentemente, o SATED - PI, promoveu o Fórum das Artes Cênicas 2014, entre 26, 28, 29, 30 de abril e 6 de maio. No encontro se recebeu artistas e técnicos (da dança, teatro e música) diretores de teatro, dramaturgos, técnicos executores de projetos culturais, professores doutores da UFPI e representantes do aparelho público cultural.
(mesa cultural do Fórum, dia 28.04.2014/foto Vítor Sampaio)
Convidado, para um diálogo com os artistas, em agenda ao dia 29 de abril, o senhor presidente declinou da presença, alegou problemas de saúde na família. Em seu lugar enviou seu auxiliar imediato, para todos os assuntos daquela pasta, Daniel de Aracacy.
O Fórum, em decisão de plenária, resolveu adiar a conversa planejada com o presidente da FMC e enviou novo convite para que Lázaro pudesse se fazer presente, em nova data, dia 06 de maio, as 9 horas, na Sala Torquato Neto. O Fórum queria ver a cara do presidente. Não deu muito certo.
Às 10h, a Presidente do SATED - PI, Lari Salles, ligou à FMC na procura de Daniel de Aracacy para obter resposta da presença do representante da Fundação. A secretária disse que Daniel estava em reunião, mas iria bater na porta do chefe e informar que o Fórum aguardava um sinal de presença daquele órgão cultural.
Em milagrosos minutos, quando já havíamos iniciados os trabalhos do Fórum, Aracacy chegou, representando seu superior. Desta vez, a justificativa fora que o então presidente estaria em reunião na procuradoria do município e enviara seu soldado para responder as inquirições dos artistas.
O representante do presidente, com trânsito livre entre os artistas, fez seu papel. Defendeu seu contracheque e aliviou a ficha do patrão. Das políticas públicas ao município, Daniel declarou que a FMC lançou editais de concorrência pública para oficinas de arte, que ainda não foram publicados no site da Fundação, porque este não está funcionando. Recorreram ao site da PMT, mas as respostas ainda não haviam aparecido até ali, segundo ele.
Palavras ao vento e fonte de boas intenções, do gerente de promoções culturais da FMC, fizeram seu papel. Para uma pasta em franco processo de descrédito; atrasos a soluções de problemas de quadro de prestadores de serviços terceirizados; dívidas de 2008 a 2012 com proponentes de projetos culturais da cidade; prêmios de editoração atrasados; quadro desinformado para recepção de pessoas que procuram aquela instituição e ausência de soluções pragmáticas para clarear os serviços que aquela Casa deve prestar à sociedade, a coisa anda mesmo mal.
Sobre a Lei A. Tito Filho, segundo Daniel de Aracacy, não deve abrir novo edital enquanto não saldar dívidas caducadas. Nesse aspecto qualquer artista concorda, até porque fazer números, sem mostrar milagre de soluções, seria atitude burra e de pouca atenção a políticas reais e públicas de cultura.
Quanto ao presidente, sempre ausente, parece que ou desaprendeu a dialogar com seus pares, já que o vemos também como artista, ou talvez pratique um descuido total com quem o procura para uma conversa franca.
Durante o Fórum, foi declarado, e isso não é motivo de segredo, pela professora doutora Ana Regina Rêgo, em seu depoimento, que teria agendado uma conversa com o senhor Lázaro do Piauí, para tratar de atrasos de projetos culturais na Lei A. Tito Filho.
(Ana Regina e Lari Salles, durante o Fórum/foto cel. Fco. de Castro)
A promotora cultural esperou um mês para concretizar a agenda. O presidente não pode recebê-la, não estava na Casa, transferiu a responsabilidade ao superintendente, que ninguém sabe quem é realmente. Este deixou-a esperando uma hora e foi embora transferindo o "problema" ao gerente de promoções culturais, o al faz-tudo, Daniel de Aracacy, e ao responsável pela Lei, de nome Eurípedes.
No Fórum ficou marcado nas falas dos artistas que, se o presidente não atendeu Ana Regina Rêgo que tem papel indiscutível nas ações culturais da cidade, que dirá aos simples que o procurarem.
Parece que as ausências do presidente são papel comum. Durante a III Conferência Municipal de Cultura, que aconteceu no Teatro do Boi, no período de 1, 2 e 3 de agosto, os delegados exigiram a presença do presidente da FMC.
Ameaçaram não dar continuidade aos serviços, caso o presidente da pasta cultural não desse seu ar da graça. Surgiu rápida e milagrosamente por lá, fez seu "mis en scène" e, sem nada + a acrescentar, partiu para sua qualidade de gestor invisível.
Para essa Conferência, esse presidente canetou ponto facultativo para que os prestadores da FMC participassem do evento. Aproveitaram a folga para outros interesses. Por lá apareceram umas três madames de cachorros, dos novos colaboradores absorvidos nesta gestão, ficaram uma meia hora pelo pátio do Complexo do Boi e, cumprida a missão oficial, foram embora.
Na Conferência Municipal de Cultura, a presença maciça da sociedade civil (artistas), as plenárias sempre lotadas. Dos aditivos daquele evento, ainda não há sinal real de mudanças.
Segundo Daniel de Aracacy, "O Plano Municipal da Cultura está só pelo tronco. A Lei A. Tito Filho só o pescoço de fora", disse, numa metáfora para justificar que os trabalhos de construção da Lei Municipal de Cultura, Plano Municipal de Cultura e Conselho Municipal de Cultura, que se alinhem ao Plano Nacional, andam a passos de cágado.
O que significa que embora o município tenha aderido ao Plano Nacional de Cultura, falta muito esforço concentrado dos responsáveis, naquela Casa, para que o município esteja apto a concorrer a recursos do fundo federal às políticas públicas de cultura.
Ainda sobre a ausência de Lázaro do Piauí, não foi difícil descobrir-se, na própria Sede, que o gestor da pasta cultural do município esteve à manhã na FMC. Salvo momento em que visitou a Casa da Cultura para mostrar, ao novo superintendente empossado, aquele equipamento cultural. É, o superintendente anterior, que ninguém sabe quem é, já bateu gavetas, rumo a novo cargo generoso.
Nas considerações finais do Fórum das Artes Cênicas 2014, dia 06 de maio, a Presidente do SATED -PI, Lari Salles, disse que "A não presença do Lázaro é uma sempre desculpa para não receber os artistas. Parece que o Lázaro não nos leva a sério. Se pensou em sair em movimento até a Fundação e dizer 'Levanta-te e sai'. Um gestor de cultura que é um artista e não se comunica com os artistas", marcou falas.
E acrescentou, "Vamos fazer um documento de desagravo, neste Fórum, pela ausência do presidente da Fundação Cultural Monsenhor Chaves", concluiu.
Como se vê, não parece haver qualquer sinal positivo de presença cultural do atual presidente da FMC. Como este tipo de cargo é da pecha de interesse político do prefeito FF, então estamos fadados a ter um gestor que, com a licença da palavra, foge de artistas e reuniões como diabo alarma-se da cruz.
Não há milagre à vista, a não ser que o prefeito detenha algum preceito de atenção à causa da coisa pública, no que concerne à atitude pragmática de políticas públicas de cultura.
Então, a nós artistas, resta sugerir ao prefeito FF que ouça + os artistas, também eleitores, e force esse homem, que carrega nome emblemático e bíblico, a levantar a banda saturada da cadeira e gabinete de negócios público-coletivos de fomento cultural.
E, ainda, clamar com fervor e fé em mudanças e provocar "Levanta-te, Lázaro! E sai".
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