quarta-feira, 7 de novembro de 2012

XIX Festival de Monólogos


 Hoje abro uma boa margem para publicar um amigo e colega de cena que reflete sobre recepção de teatro.
(FestMonólogos Ana Maria Rêgo 2012/foto: divulgação)

 "SE TER O PODER É SER O DETENTOR DO SABER?

Chego do 19º Festival de Monólogos - Ana Maria Rêgo (Ano Adalmir Miranda). Parabéns à organização, coordenação pela persistência na realização de mais uma edição, desse, que é de suma importância para nosso estado, que nos coloca no circuito da arte do teatro como indispensável para os artistas do país. Parabéns também pela homenagem ao ator/diretor Adalmir Miranda, que nos brindará com um belíssimo trabalho ao final deste Festival. 

Hoje estou numa posição não menos privilegiada que a de espectador... Estou como espectador/artista e jurado. O que me dá um enorme prazer de poder/ter que olhar de forma menos irresponsável para os trabalhos apresentados, sabendo que o compromisso de julgar vai além de mera crítica, ou entalhe procurando dar formas aos propósitos trazidos. 

Propostas de linguagem, de atuação, de leitura... De como se vê o que se está olhando é importantíssima para mim, espectador, diretor, ator, amante, julgador, observador... É a partir daí que tenho possibilidades de saber como o outro se desenvolve na multiplicidade de entendimento do indivíduo que está sujeito a mudanças, estagnações, reformulações conceituais, literais, metodológicas. 

A pontuação dada por esse personagem (jurado) se se isenta, ligeiramente se distancia de suas escolhas enquanto artista, participa desse pleito com mérito ético, reformula, revoga, referenda, ou refuta o que foi oferecido. 

Ter que fazer um trabalho de teatro, até finalizá-lo, se conseguir, é saber que esse será consequência de escolhas, às vezes abrimos mão de umas, por vezes fazemos posse de outras, mas que nunca se leva ao palco aquilo que não foi por si, por vezes angustiosamente, conflituosamente, eleito e que virá a ser a própria escolha. 

O que vem a contrapor com o propósito de um debate pós-espetáculo: artistas esmeram-se em falar do que os emocionam, alguns, do que os incomodam, função que se repetirá com toda certeza nos bastidores em todo o festival, tapinhas nas costas, apertos de mãos, abraços parabenizando pelo esforço, agradecendo pelo que lhe foi dado, a chance de olhar melhor para o mundo. 

E o artista, que apresentou o proposto sente-se como se aproximasse mais de sua meta naquele trabalho. O Júri, que deve entender o que viu, buscar, naquela oportunidade de confronto ideológico, investigar o que levou o julgado a optar por aquelas escolhas, muitas vezes, se coloca como “advogado do diabo”... 

Não qualquer diabo, mas o que não faz teatro... Pois o fazedor de teatro, se assemelha a alguém menos puritano, menos sacralizador, mais irreverente e disposto a consequências menos previsíveis e mais aproveitadas... E ele, o júri inicia, nesse debate, a discussão do espetáculo que ele faria, e não do espetáculo que foi mostrado...Ai pronto... Já viu... Todo mundo começa a seguir o líder e a declarar que na verdade, naquele momento em que se fez assim, seria bom que assado se fizesse. 

Ora, se é para julgar o meu espetáculo, teria inscrito um.
Que HORROR ter que ouvir com PAVOR um júri grosso, mal educado que, o que tem a oferecer-me são ferrenhas críticas ao que eu, depois de atravessar meus infernos, tive que escolher para expor. Será que isso leva o artista a algum lugar de melhora laboral? ... SUBIR NA SANDÁLIA DE PRATA E VIR PRO SAMBA SAMBAR... Só porque minha posição temporária de JURADO me possibilita isso?

Cômodo... Recolho-me a insignificância dos que se querem aprendizes. Vi, ou se quiser por disputa da ocasião, olhei também. Diz a filosofia mais antiga que a uma diferença entre ver e olhar, observar, contemplar, admirar, mirar... Ouvi, vi, vivi, estava lá presente, ao deleite de ser júri e poder escolher quais das escolhas me foram melhor apresentadas, não quais escolhas de linguagem devem os carpinteiros, que cabem a eles talharem seus trabalhos. 

Aprendi que o teatro forma primeiro a pessoa para depois formar o profissional, se nele nos ensinam desde os antigos a arte de sermos humildes, sermos generosos. Por que Santos-e-divinos-deuses-do-teatro não haveremos de sê-los fora dele?

Essa é a 18º edição do Festival que acompanho, desde menino. Que maravilhado estou por saber que o mesmo se encontra em fase adulta, e responsável por si."

Luciano Brandão, ator, diretor de teatro e estudante de Psicologia

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