sábado, 3 de novembro de 2012

Tarsila para crianças


 Tarsila para crianças
por maneco nascimento

A Cia. Druw, de São Paulo, gracejou teatro e dança nova no palco do Theatro 4 de Setembro, dia 01 de novembro de 2012, às 15h30m, para encanto de crianças e adultos também, o "Vila Tarsila". No programa impresso, a recomendação de gênero dança, classificação etária a adolescentes e crianças acima de 5 anos. Duração 60 minutos. Os + curtos 60 minutos em tão delicioso ato transversal pictórico.

                                                              (Abaporu, 1928)


Na sinopse, “Com um roteiro que valoriza o lúdico, Vila Tarsila joga luzes nas memórias de infância de Tarsila do Amaral. Miriam Druwe em parceria com Cristiane Paoli Quito transportam o espectador ao mundo antropofágico da artista, (...) sua obra nasceu de experiências visuais nas inúmeras viagens realizadas e das brincadeiras que recheavam as tardes na fazenda onde a pintora vivia em Capivari, interior de São Paulo (...)


Com Direção Geral e Artística e Texto de Miriam Druwe, Concepção e Criação de M. Druwe e Cristiane Paoli Quito e Roteiro e Direção Cênica de Cristiane Paoli Quito, “Vila Tarsila” devora o espectador do início ao fim, sem deixar sobras para outro tema que não seja Tarsila, em suas memórias reinventadas à cena.

Dramaturgia didática e informativa com o recurso do lúdico e da fantasia da estética teatral, a montagem reverbera arte, cultura, memória, história e o humor peculiar não só das encenadoras e intérprete que releem a artista, mas das temáticas livres, antropofágicas, de frente ao Brasil, construídas a partir da Semana de 22.

                                           (Operários, 1933)

Das influências cubistas para + tarde se apropriar, naturalmente, da estética de brasilidade das cores e cotidiano brasileiro, seja rural ou urbano, Tarsila do Amaral (1886-1973), componente do Grupo dos Cinco, ao lado de Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Picchia, inspirou com “Abaporu”, de 1928, o Movimento Antropofágico lançado por Oswald de Andrade e Raul Bopp.


                                                  (Tarsila do Amaral/foto: divulgação)


Da estética rica e encantadora de Tarsila é que a Cia. Druw, com seu Vila Tarsila”, recheou de inteligente resposta e virtuose cênica a montagem de dança e teatro vista no palco do 4 de Setembro. Das memórias de viagens em cais do porto e estações de trem, brincadeiras infantis e lembranças da fazenda é que se vê ilustrada a cena viva ao enlevo do público.

A Iluminação, desenhada por Marisa Bentivegna, operada por Marcel Gilber, uma pintura, em tela, à parte. O transversal das linguagens vai se acomodando sem que qualquer uma sobreponha a outra. O uso das tecnologias, Videocenário, Felipe Sztutman, que operacionaliza obras da artista, mimetiza o coletivo de dança que ilustra momentos pictóricos.

O Cenário e o Figurino, de Marco Lima, casam com todo o + da proposta para memórias de épocas e contextos de comportamento vivenciados. A Trilha Sonora, de Natália Mallo, infiltra-se como segunda pele mimética. Os Adereços e Bonecos, da FCR produções artísticas, completam as tintas, paletas e pincéis de “Vila Tarsila”. A voz de Luciana Paes cose os enredos apresentados acuidadamente.

O coletivo de dança, muito à vontade, transpõe à cena com qualificável alegria e vigor artístico a obra da artista dos pincéis e o laboratório cênico prospectado, sem deixar dúvidas da excelência do objeto estudado. Adriana Guidotte, Anderson Gouveia, Bruna Petito, Elizandro Carneiro, Luciana Paes, Miriam Druwe, Tatiana Guimarães e Weidy Barbosa, graça e encanto de obra revelada no labor de intérpretes.

Não há como não ser transportado para mundo mágico visto em cena. O cais, a estação de trem, as brincadeiras infantis, o(a)s banhistas, a provocação do boi, a tela “Abaporu” ganhando vida, os bichos da fazenda dialogando na memória infantil da artista e o diálogo com “Abaporu”, todo um recurso perspicaz pelo lúdico e fantástico de envolver, aproximar Tarsila do público infantil. Bingo!

Homenagens a Carmem Miranda, com “Disseram que eu voltei americanizada”, de Luiz Peixoto e Vicente Paiva e “O trenzinho do Caipira”, parte integrante da peça Bachianas Brasileiras No. 02, de Heitor Villa Lobos, também ilustram a didática à memória musical brasileira. Ficam ainda dentro do transdiscurso de “combate” ao “Manifesto Paranóia ou Mistificação” (Monteiro Lobato), ou de confirmação da memória rural no rincão brasis.

“Antropofagia” (1929); “Sol Poente” (1929), “Estação Central do Brasil” (1924); “Paisagem com touro” (1925); “A Lua” (1924); “São Paulo” (1924); “Operários” (1933); “Palmeiras” (1925), “Morro da Favela” (1924); “Abaporu” (1928), entre outras, enriquecem a sensível leitura trazida à cena em “Vila Tarsila”.

(Cartão Postal, 1928) 


Facilitado aos palcos de Teresina, através do Projeto Palco Giratório 2012 – Rede Sesc de Intercâmbio e Difusão das Artes Cênicas, o espetáculo “Vila Tarsila” deixou um gostinho de quero mais. A bailarina e coreógrafa Miriam Druwe, na busca de ampliar formas e contextos na dança, está no passo certo.

A Cia. Druw que o diga, em dança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário