Loucura branco
azulejada
por maneco nascimento
“As mulheres devem ser educadas para agradar os homens e ser mães. Devem ser educadas na reclusão sexual e castidade que legitimam a paternidade (...) elas são desejosas de agradar, modestas, tolerantes da injustiça, ardilosas, vãs, e artísticas em grau menor. Na família, os homens devem governar essas frívolas criaturas.” (trecho de Émile, de Rosseau IN NYE, 1995, p.20 IN Albuquerque, Marleide Lins [org.]. Identidades e Diversidade Cultural – Coletânea. Teresina: Avant Garde, 2011. 292 p.)
Aberta a temporada de teatro para todas as tribos, na noite do dia 06 de novembro de 2012, às 19 horas, no palco do Theatro 4 de Setembro, com o XIX Festival Nacional de Monólogos “Ana Maria Rêgo” – Ano Adalmir Miranda. Nesse certame 2012 concorrem, aos prêmios do Festival, os estados do Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
(Cena de espetáculo concorrente do FestMonólogos "Ana Maria Rêgo" 2012/foto: divulgação)
por maneco nascimento
“As mulheres devem ser educadas para agradar os homens e ser mães. Devem ser educadas na reclusão sexual e castidade que legitimam a paternidade (...) elas são desejosas de agradar, modestas, tolerantes da injustiça, ardilosas, vãs, e artísticas em grau menor. Na família, os homens devem governar essas frívolas criaturas.” (trecho de Émile, de Rosseau IN NYE, 1995, p.20 IN Albuquerque, Marleide Lins [org.]. Identidades e Diversidade Cultural – Coletânea. Teresina: Avant Garde, 2011. 292 p.)
Aberta a temporada de teatro para todas as tribos, na noite do dia 06 de novembro de 2012, às 19 horas, no palco do Theatro 4 de Setembro, com o XIX Festival Nacional de Monólogos “Ana Maria Rêgo” – Ano Adalmir Miranda. Nesse certame 2012 concorrem, aos prêmios do Festival, os estados do Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
(Cena de espetáculo concorrente do FestMonólogos "Ana Maria Rêgo" 2012/foto: divulgação)
Após a abertura solene que reuniu coordenação do evento, gerência
de promoção cultural, superintendência e presidência da Fundação Municipal de
Cultura Monsenhor Chaves e público interessado, foi dada a largada à hora e a vez da magia do teatro
mostrar suas cartas. A primeira peça da noite veio do
Ceará. “Azulejo Branco”, interpretado e dirigido por Gabriel Matos.
Do release do espetáculo, a enredo da peça que discute gênero, obtém-se que “Ela muda-se frequentemente de casa por vontade do marido e perde-se em meio a tantas caixas de mudanças que parecem fazer parte de si. Seu cotidiano é o de uma dona de casa e está repleto de lembranças da sua finada mãe e de ordens do seu marido. Só às cinco da manhã, ela consegue ser feliz e plena ao observar o azulejo branco do banheiro.”
Da Cenografia apresentada, caixas de papelão brancas, um banco (cadeira) com pernas em “x” e tecidos também brancos, relegados ao fundo do mapa dramático. A dramaturgia de cena é apresentada para palco intimista, com público fechando a “boca” do palco italiano. Cadeiras dispostas, em abertura de semi-arena, com platéia voltada à cena e fundo do palco.
A Iluminação marcada para flagrantes fotográficos e mudanças de cena e nuances da personagem Ela. Em 42 minutos de atuação, Gabriel Matos andeja por conflitos, medos, memórias afetivas familiares, culpas, impotência e “loucura” espelhada na amizade com o azulejo branco do banheiro. Uma luminária que pende do teto e é desafinada pela personagem, suaviza e obscurece, planejadamente, a face da mulher conspirada e, talvez, replique cena de coerção e violência de exceção.
A Dramaturgia construída pelo próprio Gabriel estigmatiza perfil de mulher presa aos preceitos de vida mal escolhida. A forja da personagem se estabelece por paradigma do frágil híbrido dos movimentos marcados, articulados coreograficamente para automatismo, forma de limites a que se fez, ou é feita prisioneira. Máscaras que permeiam pelo grave medido, tenso acadêmico e suaves inflexões em contraponto ao peso do cárcere social e doméstico do drama estabelecido.
No ir e vir ao mesmo ponto dramático, a personagem arrisca qualquer interação com objetos cenográficos de ilustração de sua “loucura”. Caixas de guardados e mudanças, caixinha de música, entre outros objetos quase obsoletos na contação da história. O Figurino da personagem, uma malha base, preta, e um vestido doméstico (robe) que o ator veste ao início do enredo e que o retira ao final, para transformar no ilustrativo do azulejo, como extensão do braço da mulher. Todo mundo possui o seu (azulejo), vaticina a personagem.
Sem parecer querer dar ao público personagem dramática, fazendo as vezes de distanciamento da construção do sujeito expiado, reforça a dramaturgia encenada para um drama de épico “falseado”, às luzes brechtniana. Não que não haja proposta, parece escolha pensada. Um neutro dramático para facetas experimentais.
Os gestos medidos, desdenhosamente congelados e ou impactados a novos focos, têm tônus e força expressiva. O olho e a frialdade das interfaces da persona, as marcas de ocupação espacial em contados coreográficos, tudo faz crer que aponta cartografia de experimentação a novo viés, sem perder as malhas aristotélicas do teatro original.
Nalgum momento, os conflitos de Ela andejam por perspectivas claricelispectinianas (A Paixão segundo G.H) ou coisificação do cotidiano vago, noutras vias parecem talvez identificação do ator em intrínseca sintonia com a personagem buscada, em referências que ganhem particularidades da construção do ator à narradora.
“Azulejo Branco”, com Gabriel Matos, um místico de paixão pela busca de uma pesquisa (im) pessoal e um exercício de ator que assente em corpo e alma de mulher, pulsada a coração e sangue do gênero masculino que a idealiza.
Texto claro, boas inflexões e intenções em franco acolhimento das escolhas do ator à personagem. Corpo centrado em economia premeditada ao “kitsch” midiático e um sopro do teatro que se reinventa no Ceará, para palcos do Brasil e memória coletiva da construção da cena nacional.
Do release do espetáculo, a enredo da peça que discute gênero, obtém-se que “Ela muda-se frequentemente de casa por vontade do marido e perde-se em meio a tantas caixas de mudanças que parecem fazer parte de si. Seu cotidiano é o de uma dona de casa e está repleto de lembranças da sua finada mãe e de ordens do seu marido. Só às cinco da manhã, ela consegue ser feliz e plena ao observar o azulejo branco do banheiro.”
Da Cenografia apresentada, caixas de papelão brancas, um banco (cadeira) com pernas em “x” e tecidos também brancos, relegados ao fundo do mapa dramático. A dramaturgia de cena é apresentada para palco intimista, com público fechando a “boca” do palco italiano. Cadeiras dispostas, em abertura de semi-arena, com platéia voltada à cena e fundo do palco.
A Iluminação marcada para flagrantes fotográficos e mudanças de cena e nuances da personagem Ela. Em 42 minutos de atuação, Gabriel Matos andeja por conflitos, medos, memórias afetivas familiares, culpas, impotência e “loucura” espelhada na amizade com o azulejo branco do banheiro. Uma luminária que pende do teto e é desafinada pela personagem, suaviza e obscurece, planejadamente, a face da mulher conspirada e, talvez, replique cena de coerção e violência de exceção.
A Dramaturgia construída pelo próprio Gabriel estigmatiza perfil de mulher presa aos preceitos de vida mal escolhida. A forja da personagem se estabelece por paradigma do frágil híbrido dos movimentos marcados, articulados coreograficamente para automatismo, forma de limites a que se fez, ou é feita prisioneira. Máscaras que permeiam pelo grave medido, tenso acadêmico e suaves inflexões em contraponto ao peso do cárcere social e doméstico do drama estabelecido.
No ir e vir ao mesmo ponto dramático, a personagem arrisca qualquer interação com objetos cenográficos de ilustração de sua “loucura”. Caixas de guardados e mudanças, caixinha de música, entre outros objetos quase obsoletos na contação da história. O Figurino da personagem, uma malha base, preta, e um vestido doméstico (robe) que o ator veste ao início do enredo e que o retira ao final, para transformar no ilustrativo do azulejo, como extensão do braço da mulher. Todo mundo possui o seu (azulejo), vaticina a personagem.
Sem parecer querer dar ao público personagem dramática, fazendo as vezes de distanciamento da construção do sujeito expiado, reforça a dramaturgia encenada para um drama de épico “falseado”, às luzes brechtniana. Não que não haja proposta, parece escolha pensada. Um neutro dramático para facetas experimentais.
Os gestos medidos, desdenhosamente congelados e ou impactados a novos focos, têm tônus e força expressiva. O olho e a frialdade das interfaces da persona, as marcas de ocupação espacial em contados coreográficos, tudo faz crer que aponta cartografia de experimentação a novo viés, sem perder as malhas aristotélicas do teatro original.
Nalgum momento, os conflitos de Ela andejam por perspectivas claricelispectinianas (A Paixão segundo G.H) ou coisificação do cotidiano vago, noutras vias parecem talvez identificação do ator em intrínseca sintonia com a personagem buscada, em referências que ganhem particularidades da construção do ator à narradora.
“Azulejo Branco”, com Gabriel Matos, um místico de paixão pela busca de uma pesquisa (im) pessoal e um exercício de ator que assente em corpo e alma de mulher, pulsada a coração e sangue do gênero masculino que a idealiza.
Texto claro, boas inflexões e intenções em franco acolhimento das escolhas do ator à personagem. Corpo centrado em economia premeditada ao “kitsch” midiático e um sopro do teatro que se reinventa no Ceará, para palcos do Brasil e memória coletiva da construção da cena nacional.
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