Conversas de
cinema
por maneco
nascimento
Aberta + uma
temporada de cinema e vídeo na Casa da Cultura de Teresina – CCT. De 26 a 30 de
novembro de 2012, sempre às 18h30, a cidade, de cinéfilos e amantes curiosos da
fotografia em movimento, pode concorrer ao 18º. Festival de Vídeo de Teresina –
FestVídeo e verificar, in loco, as produções na área de Animação, Documentário,
Experimental (vídeo-poemas, clips musicais), Ficção e Produção Piauiense
(Prêmio Estímulo). Serão exibidos 34 filmes no diverso das linguagens e câmera
criativa de diretores e roteiristas.
Na noite de
abertura, 26, a melhor exibição que ocorreu foi a conversa sobre cinema. Uma
franca e necessária discussão sobre cinema e produção local. Entre as
intervenções de quem foi partícipe na comunicação interativa, há que ressaltar
as falas de José Wanderson Lima Torres, um dos componentes da comissão seletiva
e julgadora do FestVídeo, formada por Wanderson L. Torres, Alfredo Werney,
Francisco Aristides S. Filho e José Luis O. e Silva.
O
catedrático em literatura comparada, Wanderson L. Torres, apontou que, do
material espiado, pode-se concluir que a ficção apresentou trabalhos de
excelência, narrativas bem engendradas, bem elaboradas, mas que deixou a
desejar qualitativa e quantitativamente.
Na linguagem Documentário houve uma grata
surpresa, no aspecto da diversidade. Televisivos institucionais, porém de valor
muito grande ao expoente de figuras exóticas. Sem muita qualidade
cinematográfica, mas que o documentarista conseguiu dar a cara do documentado,
completa.
Projetos
representativos dos estados inscritos. Há uma contribuição substancial, “Não
devem estar seguindo um mau caminho”, acrescenta Wanderson. Citou “Garotas da
Moda” e “Dique”, de Recife, no Pernambuco, e também o Ceará com documentário de
elaboração poética, com discurso narrativo a partir das imagens e sonoridade.
Lembrou ainda de Alagoas, com uma representação de pouco profissionalismo de
realização, mas feito com ousadia nas escolhas das locações. Já sobre a
produção local vaticina que “Nosso audiovisual precisa ser repensado, debatido,
discutido.”
Também nessa
conversa sobre cinema foi acrescentado pelos julgadores que, no Piauí, às
categorias Ficção e Documentário não dá para avaliar apenas sobre o que chegou
ao Festival. E que a produção local, vista, acaba deixando a sensação de que
talvez não se esteja vivendo um bom momento no Piauí, no que diga respeito à
produção audiovisual.
Levantada a
questão de apoio institucional, do Estado, para uma melhor realização de
produção local, quis acrescentar o estudioso de cinema, José Luis Oliveira e
Silva, que a linguagem precisa de um + incisivo olhar e apoio efetivo
financeiro dos governos, seja a partir dos editais e incentivos direcionais. O
cineasta Douglas Machado discordou de Zeca Luis Silva sobre a questão do apoio
estatal. Acredita o diretor de cinema que nosso problema não seria só da falta
de apoio do governo, mas um problema cultural que passa pela negação da própria
identidade.
Reflexões levantadas muito pertinentes. Quem
vê o que é produzido localmente. Quem consome ou apóia o produto local.
Acredita o cineasta que não há produção de cinema no Piauí. Há o produto dele
(Douglas), o do Monteiro Jr. e do Cícero Filho. Uma produção isolada, pouco
conhecida por aqui.
E que cinema profissional, quando levantada
essa questão, seria quando há os contratos e pagamento dos serviços prestados pelos
artistas envolvidos no projeto. Quando recebem pelo trabalho os técnicos e
diretor do filme, porque todos precisam pagar as contas. Cinema profissional
seria a circulação fora do eixo familiar e doméstico dos amigos, mas de
representação fora daqui, nos grandes canais de exibição, produto com registro
na Ancine.
Fco.
Aristides Oliveira Santos Filho também mexeu no quesito produção amadora, uma
realização que estaria pouco apegada a + busca pelo aprimoramento técnico.
Também foi levantado tema sobre uma batalha inglória de abrir canais de
exibição de cinema e formação à recepção de audiovisual, o que suscitou sobre
ver e discutir cinema e aprender pesquisando e estudando cinema.
Para que se
deixe de brincar de cinema em uma cidade em que todo mundo já é sabido e
algumas pessoas nem dividem conhecimento. No que Douglas Machado acrescentou
que talvez o que torne o produto audiovisual consistente, nos estados de
Pernambuco e Ceará, seja a solidariedade que há em quem realiza essa produção
por lá.
Wanderson Lima Torres lembrou que nesses
estados existe um fermento cultural que embasa as manifestações de identidade e
que, naturalmente, estas solidificam o produto finalizado, também na área de
cinema. Foi uma noite em que não se poderia prescindir da conversa provocada,
quer seja pela discussão acerca da pequena contribuição à produção audiovisual
local, seja porque se estava devendo, a nós mesmos, essa franca reflexão de
como se está conduzindo os projetos que insistimos em não deixar morrer e que,
às vezes, não conseguem dar o salto da evolução necessária.
Os trabalhos
e produtos culturais audiovisuais carecem de incentivo, reflexão coletiva e
tomada de posição sobre o que se está produzindo e com que perspectivas de
resultados.
Esse comentário sobre 18º. FestVídeo começou
pelo fim, ou seja, sobre a conversa planejada para após a exibição dos filmes
da primeira noite. Mas nessa edição do 18º. Festival de Cinema de Teresina,
diferentemente dos anos anteriores, o resultado dos premiados saiu antes das
exibições.
Os
premiados, na categoria Animação: “Uma Estrela no Quintal”, de Danielle
Divardin (São Paulo) levou o 1º. Lugar; “Bom Tempo”, de Alexandre Dubiela
(Minas Gerais), 2º. Lugar; “O Ciclo”, de Maurício Ramos Maques (Curitiba – PR),
3º. Lugar. Os vencedores de Documentário foram, Tuca Siqueira, de Pernambuco,
com “Garotas da Moda” (1º. Lugar); Marcley de Aquino, de Fortaleza – Ceará, com
“Monte pedra” (2º. Lugar) e Adalberto Oliveira, de Pernambuco, com “Case” (3º.
Lugar).
Na Ficção,
“Caos” arrebanhou o 1º. Lugar, filme dirigido por Fábio Baldo, de São Paulo; “A
Noite dos Palhaços Mudos”, de Juliana Luccas, também de São Paulo, ficou com
2º. Lugar e ainda de São Paulo “Projeto Silêncio”, dirigido por Bruno Caticha.
Os Experimentais premiados em 1º. Lugar, “Dique”, de Adalberto Oliveira
(Pernambuco); 2º. Lugar, “Borboletas Delicadas”, direção de Wladimir Lima, de
Alagoas, e em 3º. Lugar, “Terceiro Passo”, de Dalson Carvalho, de Teresina – Piauí.
O Menção
Honrosa foi para Ficção, de Marcelo Quintella (Rio de Janeiro), com “Hooji”. A
premiação Categoria Piauiense ficou com “Fourth Step”, idealizado pelo
piauiense Dalson Carvalho.
18º. FestVídeo,
em sua maioridade de existência, premia + uma vez uma variedade equilibrada no
amplo da produção audiovisual nacional que envolveu filmes vindos do nordeste,
sudeste e sul do país. Do Piauí, para não perder a indicação da premiação
especial local, apontou “Fourth Step”, roteiro a registro de discurso de seita
budista. O comum bem feitinho que, talvez, possa ser encaixado na lista dos
“doc” expressivos.
A maioridade
do Festival, quem sabe possibilite uma inversão, ou melhor, uma maior condição
produtiva de audiovisual local, para contrapor ou equilibrar a ótima produção
nacional que chega à concorrência do FestVídeo de Teresina.
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