Fé n(d)a cena
por maneco nascimento
“Aurora Boreal”, do Rio Grande do Norte (Mossoró) norteou o segundo momento da programação de concorrentes ao XIX FEstMonólogos “Ana Maria Rêgo” – Ano Adalmir Miranda, na noite do dia 06 de novembro de 2012, às 20 horas, no Theatro 4 de Setembro. 55 minutos pancada, num virtuoso “ensaio” de ator com Dionízio do Apodi que dirige, atua e aplica dramaturgia construtivista, na pedagogia da cena grotowskiana e seu teatro pobre, do ator no centro da cena.
Dionízio em elementar ato, meu caro Watson, conspira teatro tenso, denso, poético, lúdico e científico, variando entre o impressionismo e expressionismo de dramaturgia limpa, para dramas e distanciados revezes à construção da personagem. A cenografia, uma cadeira e um ator, narrador em domínio da história revelada. Conflitos entre a fé à religião e à busca da crença na felicidade dão mote ao enredo rico de interpretação e polifonia da memória relatada pelas vozes que reverberam dramáticos efeitos.
Seguindo uma linguagem franca e no risco da maturidade experimentada por “O Pessoal do Tarará” à dramaturgia própria, a montagem alia-se ao rito grotowskiano de que “no teatro, que tudo saia do ator” e apresenta uma experiência em que a presença do intérprete será todo o teatro. Brinquedos livres e de pertinácia da experimentação transformam a narrativa num enleio para diálogos de clareza apaixonantes, onomatopaicas liberdades lingüísticas e corpo que (trans) pira qualidade comunicacional.
Como numa brincadeira infantil do “tá quente, tá frio”, a dramaturgia constrói o denso e depois abre janelas para refrescar a tensão dramática. No “quente” a platéia interage nas vezes da personagem, no “frio” é facilitada a contracenar, fazer-se personagem, direto, da narrativa. A economia dos gestos, em sustenidos, ou os graves sonoros da melopéia engajam felicidade de participação ativa do público, na práxis do fingimento, para transdiscurso teatral aplicado.
O intérprete é apaixonante, a(s) personagem(ns) cativante(s), a lingüística proposicionada exala teatro vivo e de inteireza cênica para todo entendedor, sem brechas ou ruídos na comunicação. A dramaturgia brinca de felicidade, enquanto perpassa conflitos do homem dividido entre a escolha da fé, ou da esperança no amor de uma mulher.Também reflete ações que deslizem do convencional para abraçar sentimentos liberados das obrigações cotidianas, fugir do inconsciente coletivo de senso comum das amarras sociais (im)postas.
Dionízio do Apodi nos deixa uma lição de amor, de fé na cena, crença da cena experimentada para o exercício da construção do ator e da personagem. “Aurora Boreal” abre luminosidades e lampejos do teatro sem medidas falseadas, só arte e cultura prospectada na experiência buscada, na força e compreensão solidária do ato de encenar para somar.
Homem, cena, memórias e histórias se completam em esforço concentrado e técnico, numa organicidade de excelência do teatro amador, já que amante da arte do fingimento. Existencial porque humano, humano porque da natureza da espécie que reflete a si mesma, artístico porque reelabora a própria compreensão do objeto questionado a pertencimento e identidade do receptor.
“Aurora Boreal”, talento e técnica versejados para novo olhar da cena nacional. Labor artístico a pesos e medidas determinantes do entendimento da cena premeditada. Evoé, filhos de Baco!
por maneco nascimento
“Aurora Boreal”, do Rio Grande do Norte (Mossoró) norteou o segundo momento da programação de concorrentes ao XIX FEstMonólogos “Ana Maria Rêgo” – Ano Adalmir Miranda, na noite do dia 06 de novembro de 2012, às 20 horas, no Theatro 4 de Setembro. 55 minutos pancada, num virtuoso “ensaio” de ator com Dionízio do Apodi que dirige, atua e aplica dramaturgia construtivista, na pedagogia da cena grotowskiana e seu teatro pobre, do ator no centro da cena.
Dionízio em elementar ato, meu caro Watson, conspira teatro tenso, denso, poético, lúdico e científico, variando entre o impressionismo e expressionismo de dramaturgia limpa, para dramas e distanciados revezes à construção da personagem. A cenografia, uma cadeira e um ator, narrador em domínio da história revelada. Conflitos entre a fé à religião e à busca da crença na felicidade dão mote ao enredo rico de interpretação e polifonia da memória relatada pelas vozes que reverberam dramáticos efeitos.
Seguindo uma linguagem franca e no risco da maturidade experimentada por “O Pessoal do Tarará” à dramaturgia própria, a montagem alia-se ao rito grotowskiano de que “no teatro, que tudo saia do ator” e apresenta uma experiência em que a presença do intérprete será todo o teatro. Brinquedos livres e de pertinácia da experimentação transformam a narrativa num enleio para diálogos de clareza apaixonantes, onomatopaicas liberdades lingüísticas e corpo que (trans) pira qualidade comunicacional.
Como numa brincadeira infantil do “tá quente, tá frio”, a dramaturgia constrói o denso e depois abre janelas para refrescar a tensão dramática. No “quente” a platéia interage nas vezes da personagem, no “frio” é facilitada a contracenar, fazer-se personagem, direto, da narrativa. A economia dos gestos, em sustenidos, ou os graves sonoros da melopéia engajam felicidade de participação ativa do público, na práxis do fingimento, para transdiscurso teatral aplicado.
O intérprete é apaixonante, a(s) personagem(ns) cativante(s), a lingüística proposicionada exala teatro vivo e de inteireza cênica para todo entendedor, sem brechas ou ruídos na comunicação. A dramaturgia brinca de felicidade, enquanto perpassa conflitos do homem dividido entre a escolha da fé, ou da esperança no amor de uma mulher.Também reflete ações que deslizem do convencional para abraçar sentimentos liberados das obrigações cotidianas, fugir do inconsciente coletivo de senso comum das amarras sociais (im)postas.
Dionízio do Apodi nos deixa uma lição de amor, de fé na cena, crença da cena experimentada para o exercício da construção do ator e da personagem. “Aurora Boreal” abre luminosidades e lampejos do teatro sem medidas falseadas, só arte e cultura prospectada na experiência buscada, na força e compreensão solidária do ato de encenar para somar.
Homem, cena, memórias e histórias se completam em esforço concentrado e técnico, numa organicidade de excelência do teatro amador, já que amante da arte do fingimento. Existencial porque humano, humano porque da natureza da espécie que reflete a si mesma, artístico porque reelabora a própria compreensão do objeto questionado a pertencimento e identidade do receptor.
“Aurora Boreal”, talento e técnica versejados para novo olhar da cena nacional. Labor artístico a pesos e medidas determinantes do entendimento da cena premeditada. Evoé, filhos de Baco!
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