quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Vida longa a Tsamba!

Evoé, Klemente!
por maneco nascimento

Para mote de memórias orais africanas, contadores de histórias e 

[relatos de Ualalapi, livro do escritor moçambicano Ungulani Ba ka Khosa, vencedor do prémio de ficção narrativa (Moçambique - 1990) (...)]

a narrativa de "Nos tempos de Gungunhana" se apropria de usos e costumes e comportamento e relações para início ao [grande  karingana ou conto tradicional sobre os ciúmes e os feitiços vividos numa família comum, que muito rapidamente se transforma numa sequência de outros pequenos karinganas que relatam aspectos relacionados com a vida na corte do rei Gungunhana.]

A noite do dia 23 de agosto, às 20h30, no palco do Theatro 4 de Setembro, o FestLuso 2016 - Ano Júlio Romão, possibilitou + um encontro com intangibilidades e material artístico a não ser desprezado.

Em cena, ator solo em grande simplicidade, de encenar, orientada pela tranquilidade, carisma, técnica despretensiosa de estereótipos, intérprete e método distanciado de comunicar dramaturgias regurgitadas na experiência, dever de casa revelado às laboriosas noite de domínio da aritmética dos jogos de bem fingir e práxis dramática.

Klemente Tsamba, já parceiro do FestLuso, retorna à Casa da Lusofonia de Fronteiras ampliadas e brinda a cidade, com sua natural aptidão de convencer, persuadir, comunicar, sem ruídos, na linguagem do Teatro Sem Tradução.

Aponta luz de alegria confortável e prazer cênico, ao desvelar a cena moçambicana/portuguesa, à assistência interativa e partícipe direta, a cada sinal provocador da personagem contadora de histórias (o guerreiro Tsonga, Umbangani Namani) que se nos foi apresentada pelo carismático ator.

Tempo de deleite e satisfação plena, em concentrar ação dramático humorada e conectar com a plateia Lusófona um diálogo livre e de retorno imediato, desde o prólogo à frente da cortina, até as entrecruzadas histórias e variações de tipos ilustradores, das narrativas estreitadas, ao feito de teatro de avanço e recuo indisfarçável da quarta parede.

'Nos tempos de Gungunhana" atrai olhares não só ao intérprete, convincente e apaixonante, como à linha de linguagem e geografia dramatúrgicas do contar histórias e expandir a atenção e mergulho da recepção no desenho dramático, em feições de bom humor e tempos de dominar a cena e ser domínio consentido sobre o público.

O figurino, luz, cartografia de cena e dramaturgia azeitadas se convergem à arte e ato do ator, em método de encenar e  revigorar a personagem primordial dos contadores de histórias, mergulhada nas vezes do novo poundiano.

O corpo fala +, sem criar falsos enredos ou cacos de superfície da marca de cena. As falas e vozes da memória afetiva vêm levitando alegria e certezas de gerar, no simples, a força de reiterar memórias orais e concorre para escrever um livro invisível, materializado pelas imagesns, gestos, sons e fúria econômica, nas linhas do papel do ator à personagem inscrita na cena.

Não perde o fio de Ariadne, nem prende a recepção em falsas verdades de cena, ou armadilhas de apelo do gargarejo. É teatro sincero, cheio de verdades da personagem ao coletivo e do intérpete à personagem alçada pela obra e arte do fingimento.

Vida longa ao teatro moçambicano/português e a Klemente Tsamba que, em força e expressão artística do simples, como +, revitaliza matéria expandida e atomiza cultura e artístico e teatro para expressão da natureza humana a ser bebericada e, na sinestesia antropofágica gerar moto contínuo sinérgico do fazer teatral.

Bom de ver "Nos tempos de Gungunhana".


fotos/imagem: (FestLuso 2016/K. Tsamba)

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