memórias de resistência
por maneco nascimento
O Teatro, de Portugal, se representou no Festival de Teatro Lusófono - FestLuso 2016/Ano Júlio Romão, na noite do dia 25 de agosto, às 20h30, no Theatro 4 de Setembro.
O espetáculo limpo e tranquilo, ao viés de distanciamento crítico, na cena dramática narrada, encontra horizontalidade estética premeditada. Discurso de memórias de exceção política, durante a ditadura, repercute história de Portugal, nas vezes de dramaturgia elementada pelo quase realismo-naturalismo concentrado.
"No Limite da Dor" aposta em narrativa mais sóbria, em que possa reflexionar + mensagem e compreensão do discurso informativo didático ao diálogo memorial revisitado e revisionado à licença teatral.
Montagem da Cia Lendias d'Encantar, de Beja, Portugal, afia as histórias de homens (Luís Moita, Domingos) e mulheres (Georgina, Conceição) que revezam narrativas, de memórias entrecruzadas, na cartografia dramática desenhada, e intercursos, idas e vindas e desdobramentos de presos e monitorados pela polícia da ditadura.
["No Limite da Dor" narra drama, em quatro histórias que se entrelaçam numa peça que traz aos espectadores de hoje, a experiência vivida por muitos portugueses às mãos da PIDE, durante os anos da ditadura.]
A cenografia abre uma discreta aglutinação de ambientes, entre domésticos e grades de prisão, em que as personagens se movimentam na simbiose espacial e vão construindo as passagens e mudanças contextuais da memória, em terreno de limites e liberdades fora dos cercados e dentro da dramatização panóptica da dramaturgia cenográfica.
A luz discreta contribui a essa escolha de resfriar o drama, enquanto aquece as narrativas em sol da meia noite que mantém energia de ascendência sobre o enredo.
Os figurinos neutros também corroboram a + explicitar as histórias, em que, nestas, o discurso reflexiona humanidade mergulhada e reverbera maior atenção e intenção de olhar.
Dramaturgia documental e depoimental de memória social, transversalizada na arte de intérpretes e persuasão de mensagem.
Forja, às vias hefésticas de milagre criativo do mito primordial dramático, e reitera cena política, sem aquecer discurso panfletário.
Os intérpretes (Ana Ademar e António Revez) deslizam, com tranquilidade de comunicar cena discreta, em contundente dramático, e legam lição de cor, à recepção, com aptidão aristotélica de práxis da construção da personagem e de intérpretes, pela ascensão do teatro que transformam em verdade, um real histórico ficcionado na licença de cena.
"No Limite da Dor" dói como efeito de crítica reflexiva e define teatro aplicado para defesa de cena viva portuguesa.
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