Paixão de Cristo de Bom Jesus
por maneco nascimento
Um diretor de cena e dramaturgo, um autor de dialogismos
musicais à cena local de teatro. A empreitada, reproduzir vida, Paixão e morte
de Cristo. O palco, o Salão da Serra, em Bom Jesus do Gurgueia. A fonte de
adaptação, à releitura da história recontada, os evangelista Matheus, Marcos,
Lucas e João. O escafandrista de licenças poético dramáticas, José Afonso de
Araújo Lima.
Assim foi a experiência de retorno ao mito do eterno
retorno, para lembrar Eliade, quando + uma vez acompanhei o cortejo de
releitura da Paixão e Morte de Jesus Cristo, numa realização da Associação de
Amigos de Bom Jesus do Gurgueia, que em 2016, assinou a produção da 12ª. edição
do espetáculo, no Salão da Serra, local que absorve a + de cinco mil pessoas
atentas a reviverem os últimos dias do Senhor, na mímesis das oralidades e
escritas trazidas à posteridade dos passos do Filho do homem.
De quarta feira, 23 a sexta feira, da Paixão, 25, os
processos de montagem foram a olhos vistos e realizadores de milagres de junta,
emenda, costura, sela, aglutina, sedimenta a amálgama da obra feita lirismo e
drama às mãos do dramaturgo e diretor apaixonado, Zé Afonso.
Ao passo da primeira passagem de construção da cena, já
havia toda uma sinergia de fazer o teatro a que se propunham atores, técnicos,
convidados especiais e a nova geração de atores que Bom Jesus vem produzindo,
acerca de + uma década.
Na terceira tomada dos Passos de Bom Jesus levado à expiação
pública, na reprodução da expiação sofrida, a seu contexto, já havia ocorrido o
Milagre dos Peixes resgatado à cena, de origens profanas, assentada à Via Sacra
repetida, às vezes de + de dois milanos herdados.
Era a noite de Sexta Feira, santa, e o elenco dirigiu-se à
cena rumo ao cortejo final dos últimos dias de aproximação à saga de história e
Paixão de Cristo. Com figurinos criados por Bid Lima e adereços assinados por
Wilson Costa, a montagem recebe, desde sempre uma forte e rica trilha,
apropriada de verdade cênica, pelas mãos de Márcio Brytho. A luz à Luz da
Terra, teve o argumento de Pablo Erickson.
Um público ardente aguardava a chegada da Hora confirmada.
Antes do início do espetáculo, houve uma demonstração do Grupo de Rabecas,
núcleo da Escola de Rabecas de Bom Jesus, que alinhavou, às cordas primitivas
de tradição, a trilha original do espetáculo criada por Aurélio Melo.
As canções criadas por Melo, uma de louvores de chegada, que
abre o espetáculo (para coro). Os Solos das personagens centrais dão vozes à
fúria de Jesus (na persona de João Olicar), ao Templo transformado em mercado;
uma ainda para Pilatos (Marcel Julian): “água, quero água pra lavar as minhas
mãos...”; uma + para as desditas de Verônica (Vera Leite) ao rosto de Cristo,
estampado no pano, e o Solo da Pietá, interpretada por Lari Sales (Maria, a Mãe
de Jesus). No intercurso, os cânticos de coro, Hosana (entrada em Jerusalém) e
Jesus Vive (arremate do espetáculo), na Ressurreição.
Zé Afonso conseguiu + uma vez, esta foi sua segunda
investida, confrontar história e memórias orais posterizadas e criar licenças
poéticas às forças dramáticas do teatro a céu aberto, com toda a eficiência, de
realizar dramaturgia reunida em elenco de + artistas, envolvidos na cena. Um
regalo de ação dramática e efeitos plásticos na estética de interação cênica.
Nas participações especiais, Caio Junqueira (apóstolo Pedro)
e Cacau Melo (Salomé) assomaram-se ao brilho da noite de Estrelas (Fábio Novo, Bid Lima, João Vasconcelos, Eliomar Vaz, Rosângela Borges, Francisco de Castro, Beth Bátalli, preparadora de números de dança, e o
elencão do núcleo de teatro de Bom Jesus), sob as estrelas e lua cheia que
espiaram e guardaram a noite de Paixão e recepção comovida do grande público
presente à Mesa da Santa Ceia servida, no Salão da Serra.
(Sinédrio[João, Eliomar, Maneco] e Pilatos {Marcel}/foto: Fábio Novo)
Há sempre um sentimento de dever cumprido, de teatro sempre
experimentado e de uma revivificação das memórias primordiais do teatro ao
berço ocidental que, a seu contexto, propôs a cena de rituais profanos aos
templos de clássicos, sacros, modernos e contemporâneos atos do teatro que a
arte e cultura impuseram à reinvenção da cena dramática.
(elencão dos aPaixonados/foto: David Poul)
A Paixão de Cristo de Bom Jesus já detém seu lugar ao sol e
céu de Bom Jesus do Gurgueia e atrai olhares de vizinhos, turistas, a
comunidade em peso e os demais que somam conspiração ao universo da arte de
tradição e ruptura do tempo da cena dramática.
(Marcel, Rosa, Bid, seu Chikin, João, Maneco/foto: Marisa Oliveira)
Evoé, Paixão de Cristo de Bom Jesus!
Para música, textos, mapas de apropriação de palco,
estéticas e estilos dramáticos de reviver a cena da Paixão, você fica no lucro
das boas moedas que revitalizam a cena do teatro vivo e das forças cósmicas que
rendem artista e público ao melhor espetáculo da terra, o teatro nosso de cada
Estação das dores e prazeres de bem representar.
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