por maneco nascimento
De Maristela Mauler Gruber, muito se conhece de sua expansividade, alegria, humor acelerado e troca de humor, sem deixar vestígio da lua. Mas, especialmente, se conhece Essa Mulher, a voz em belo canto que desenvolveu, ao longo de carreira e maturidade, já em contados 50 anos, reveladas e que apresentou em toda emoção, durante Concerto "Maristela Gruber Eruditamente Popular", visto na feliz noite do dia 15 de março, no palco do Theatro 4 de Setembro.
(arte divulgação da hora da Estrela)
Mergulhando no túnel do tempo, dos dias que éramos bem felizes e sabíamos disso, lembro que a conheci, através do querido e saudoso barítono Raimundo Pereira. Amizade comum se instalou ali. Eu admirador incondicional de Pereira, cantor maravilhoso, conhecia ela, uma bela mulher, iniciando sua carreira, na cidade de Teresina. Vinda de um arcabouço irrefutável à música e canto no esteio familiar e entorno artístico das Minas Gerais. Cada encontro e convivência culturais, mais prazer de dividir horas de arte.
A Beladona despontada viera, viu e venceu. Não sem beber a água doce do Velho Monge, encantar-se e nunca mais sair de terras mafrensinas, mesmo quando se radicou em Espanha para carreira internacional.
Teresina manteve-se seu quintal de saudades, amigos, boas noites de trabalho e lazer, dias da construção do nome Maristela Gruber, que tanto amamos. Vez por outra, o ar de sua graça nos contamina, em contagioso efeito de felicidade e alegria artísticas de belo canto aqui compartilhados.
Diz a lenda de urbanidade histórica que, quando parnaibanos tentavam convencer o imperador Don Pedro I, de que Parnaíba seria local viável à capital piauiense, primeiras tentativas, ofereceram-lhe um copo d'água colhida à fonte das correntezas do segundo maior rio nordestino, que nos lambe por privilégio.
O Imperador bebeu, degustou, gostou e não encontrou motivos para que a capital pudesse, caso exigisse mudanças, ser em terras litorâneas de, naturalmente, águas salobras. O futuro legou, já ao segundo Império, uma decisão de saída da velha capital Oeiras, no centro do sertão, e fazer-se nova às margens do Poti que, seguindo história, subiu o Alto da Jurubeba e virou Teresina entre frentes do Velho Monge (centro) e do Poti (zona leste, atualmente).
A saída da Vila Velha do Poti, norte das terras mafrensinas, que hoje cumpre identidade do bairro Poti Velho, começo da cidade, deu-se por aquele sítio ribeirinho estar sempre sujeito às epidemias tropicais das chuvas de verão. A nova capital encontrou, na Chapada do Corisco, o local ideal que nos legou, à contemporaneidade, o que vivenciamos por hoje.
Essa variação cultural entre história oral e construção social mafrensina, que envolve Impérios, tradições e história extraoficial, seria só para justificar que também a mineirinha e efígie de princesa das terras de montanhas e sem mar, também elegeu Teresina.
Não se sabe quem lhe deu o primeiro gole d'água, se Raimundo Pereira, Fred Marroquim, Ramsés Ramos, Reginaldo Carvalho, João Vasconcelos, Lorena Campelo, ou outra personagem das boas convivências artístico culturais. Eu, não fui, pois muito suspeito para herdar essa paternidade de ganhá-la para sempre à cidade.
Gruber bebeu do Parnaíba e Poti, gostou e ficou para sempre em nosso legado de intangíveis tesouros adquiridos. E é dessa defesa à mulher atriz, cantora de popular e erudito, Diva das árias de libretos das operetas e Óperas mater espanholas e alhures que esse texto se constrói, na emoção de ter visto, + mais vez, a Maristela bem cantar.
Entre amigos, listados e convidados à noite de honra musical e canto, José Reis Pereira e Dona Helena; Paulo Libório; Cineas Santos, o sertanejo como se alcunhou à hora que improvisou, com rigor de licenças poéticas e memórias revisitadas, uma apresentação digna a uma chefe de estado; Rubeni Miranda; Conceição Farias; Mariano Marques; Luiza e Andréa Miranda; Josy Brito; Luana Campos; João Vasconcelos; Douglas Machado e Gardênia; Nerinha; Verusca; Carla Ramos; Frederico e Mário Marroquim; Lene Alves e Tércia Maria e um infindável de amigos, gerações de aluno(a)s, admiradores e seu público cativo e empolgante.
Uma noite memorável, a que recepcionou Maristela Gruber, em o Concerto "Maristela Gruber Eruditamente Popular", no último 15 de março. Impecável encontro entre técnica da arte de cantar da amiga e Diva, com a da música instrumentalizada pelo violonista, de mancheia, Josué Costa, e o percussionista de sonoridades discretas e pontuais, Gilson Fernandes.
Em seu repertório, de revisita à construção da história da Estrela, temas de ouvir cantar da mãe também cantora; de ouvir tocar do pai ou tio; sucessos do rádio e das memórias colhidas pelo ouvido afiado e afinado da criança, menina moça, jovem e mulher que corporificou o endosso musical ao canto profissional, talhado a ferro e fogo na alforja do belo canto.
A luz de Renato Caldas, sutilezas e nuances que compunham o repertório rico e gradavam as emoções das melodias sentimentais apresentadas. Cenário de cortinas e caixa cênica estritamente concentrada aos sentimentos latino-américa do cancioneiro popular e erudito brasileiros e vizinhos ibéricos a portenhos e hispânicos.
Um belo piano, um arranjo de flores em rico vermelho, o set do violonista e percussionista, a cortina rubra a La Diva, uma luz de sutis e delicadezas na marca de sensações e sinestesias poéticas, estético plásticas de bem compor cena dramática.
E Ela, Essa Mulher que, em seu belo traje de abertura, à Diva em vermelho, brindou o público à primeira investida, com Odeon, de Ernesto Nazareth. Depois vieram suas outras memórias musicais, a de Clara Nunes intertextualizando o nordeste, terra que Gruber escolheu como segunda pátria; canções calientes d'Argentina e Espanha; populares brasileiros a dramas e alegrias festivas. Clara Nunes retornou em "Feira de Mangaio".
(uma Diva em vermelho a rubros das canções/fotos: Carla Ramos)
Um repertório que cresceu com a artista e a artista que cresceu com as melhores memórias à construção da própria partitura de belo canto, no aprendizado de compor à profissão em que veio, viu e venceu o livro de pauta musical da vida em arte. Luiza Miranda, aluna, amiga e bela voz, brindou o público em dois momentos. Era uma das convidadas de honra a dividir o palco de Maristela.
("O que tinha de ser", com Luiza Miranda, em "Eruditamente Popular"/fotos: Carla Ramos)
Maristela voltou, em elegante traje negro, para entoar tangos latinos das pátrias comuns a essa música de sangue, areia, calor e coração e rosas rubras. Em últimas pérolas ofertadas ao público, chamou ao palco o pianista Luciano Azevêdo, o violinista David Carvalho e o violoncelista Gilberto Queiróz. Na canção "Andança" foi acompanhada por Coro refinado e, num mergulho histórico da construção dramática clássica, persona e coro se confundiram e cantaram bem.
(na cia. luxuosa de celo, violão e Coro afiado/foto: Carla Ramos)
Na coda, do grande espetáculo apresentado, o hino popular "Teresina" (Aurélio Melo e Zé Rodrigues) fez-se festa. Cantou acompanhada pelo Coro (Luana Campos, Edivan Alves, Gabi, Nerinha, Luiza e Andréa Miranda, Luciano Azevedo, et al).
(os instrumentos, vozes e a canção in Euditamente Popular/fotos: Carla Ramos)
Também, em outro momento do show, homenageou José Afonso de Araújo Lima e A. Melo, na canção "Canto da Solidão" (Mulher prezada e descabida/de Zé Afonso e A. Melo, hit da peça Itararé, a República dos Desvalidos)
Um trem mineiro, sô, de emoções! Com cara de alegria compensada ao sabor e memórias também piauienses regurgitadas. "Maristela Gruber Eruditamente Popular", trouxe de volta à cidade essa menina moça.
Essa Mulher, com nome aglutinado de mar e estrela, que vai e vem em ondas melódicas a valorizar nossas memórias, em brados do cancioneiro nacional e afins e, definitivamente, compor história aos velhos e novos encontros, na Chapada do Corisco que estala, sempre que possível, a hora da Estrela de Maristela Gruber.
Um beijo na canção de amor e amizade, bela Gruber!
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