por maneco nascimento
A manhã do dia 13 de março de 2016 pegou, atores, atrizes, diretores, músicos, secretários de estado, governador, prefeito municipal, assessores, imprensa, convidados, agraciados com comendas e um público, que também cumpriu seu papel, e levou-os ao campo de encenação e local de museu e memória de um dos mais sangrentos movimentos pela adesão à independência do Brasil, o Parque Monumento/Memorial "Heróis do Jenipapo" (Campo Maior, BR 343, ao norte do estado).
(cartaz divulgação/foto ascom secult)
Há dezenove anos, sendo repetida a dramatização da Batalha do Jenipapo, a de 2016 fez um diferencial. Desta feita a encenação levou a assinatura do diretor de teatro e cinema, ator e autor de textos, Franklin Pires. A direção musical foi carimbada por Edivan Alves e o texto carpintariado à dramaturgia de cena foi construído pelo historiador Bernardo Aurélio.
Para essa versão, que já havia tido uma primeira encenação em 2013, com a mesma equipe de diretores e autor, houve um novo corpo de elenco mais engrossado. Além de 80 atores/atrizes de Teresina e os capoeiristas já tradicionais (Grupo Cordão de Ouro), foram encorpados ao espetáculo 10 índios de uma tribo da cidade de Piripiri (PI) e 10 atores/atrizes, que já participam da encenação, há alguns anos, da cidade de Campo Maior (PI), sede do drama relido.
(a revolução popular/foto: ascom secult)
Da linguagem musical, o espetáculo detém composições assinadas por Edivan Alves e Franklin Pires e, entre os destaques, a cantora lírica e popular Gislene Danielle que sobrevaloriza a cena ao cantar e costurar solos, entremeando o mapa dramático, e sua filha Nereida que, com segurança, economia e dramaticidade de contenção e explosão silenciosa fez a diferença, para uma criança que também já havia participado, na primeira versão do musical, só que à época, era quase uma criança de colo, mas já se postava com muita dignidade.
(o Leonardo, de Franklin Pires; Cleverson e Tércia/Siro e Tércia/picollage Fábio Novo)
Outros destacáveis, Franklin Pires como Leonardo Castelo Branco; Márcio Felipe, como um soldado inflamado e aguerrido; Siro Siris, capataz de uma fazenda portuguesa, muito bem realizado; Cléverson Rodrigues, o menino Zezé, aprendiz de herói morto; Tércia Maria, como sua mãe; Alinie DoCarmo, a mocinha enamorado por soldado português; Gleyciane Sisley, líder das lavadeiras da margem do riacho Jenipapo; a atriz Andréia, estreante como a escrava alforriada, foi outro grande ganho à encenação. Edith Rosa, uma mulher do povo, determinante em expressão e tônus de atriz destacável.
Uma participação especial, vinda do eixo sul e fruto das indústrias culturais, produto das mídias e efemérides da caixinha mágica, Carlos Casagrande, poderia passar despercebido, não fosse a beleza, porte e um certo esnobismo em estar, mas nada presente, eficazmente, em pequenas passagens que exigiam a presença da personagem do comandante em guerra português, Major Fidié.
O elenco local, índios, capoeiristas, atores e atrizes de Campo Maior e Teresina enobreceram uma encenação que já caminha para quase duas décadas, desde que se teve a boa ideia de reproduzir a história e memória desta Batalha, travada em solo piauiense, numa luta desigual de foices e facões de roceiros ingênuos contra espingardas, rifles e canhões regimentados pela estratégia de um soldado de guerras europeias.
(numa luta desigual, o campo de mortos/foto: ascom secult)
A encenação é a última peça do jogo de cena no tabuleiro de espetáculos apresentados no Parque Monumento/Memorial "Heróis do Jenipapo". O cerimonial se empertiga e abre o protocolo para entrega de Medalhas e Comendas do Mérito Renascença a políticos, intelectuais, artistas, et al. Depois vêm as falas oficiais de um representante de agraciados, do prefeito do município, que recepciona no palco das honrarias, e do Governador do Estado.
Encerrada a parte oficial de pompas e circunstâncias, é desfeito então o perfilamento do corpo do Exército brasileiro ali representado, com sua banda marcial; do Comando da Polícia Militar do Piauí e suas ações, desdobradas ao exercício militar e dialogismo com a comunidade. O Estado militar desfila, em retirada e, só então acontece o espetáculo que reproduz a Batalha, ali ocorrida no século 19 do estado brasileiro.
(cenas campo de mortos e igreja/picollage por Fábio Novo)
Marcada a solenidade às 9 horas da manhã, conteve os seus atrasos de práxis, as arrumações, início e desfecho da entrega das Medalhas e discursos. Este ano Medalhas entregues, aos merecimentos, no pátio onde ocorre a encenação, sob um sol bem caliente. O Governador Wellington Dias, em seu elegante terno de excelentíssimo governador do Piauí, também dividiu o sol, por algum tempo, com as tropas militares perfiladas e os agraciados com o mérito da Comenda.
O palanque de autoridades era um mar de gente, capitão! O público não era o mesmo dos anos anteriores. O horário, o domingo, sem atividade de escolas que, normalmente, preenchem mais ainda a curiosidade de público presente. Mas havia um público fiel, expectativo e desejoso por ver a encenação, mesmo após extensa e necessária solenidade a que cerimonial e governo estabelecem àquele encontro sócio cultural, educativo e artístico.
À hora do espetáculo estavam lá o público que não arreou o pé, amigos, parentes de agraciado(a)s com a Medalha, o Secretário de Estado de Cultura do Piauí, Fábio Novo; Bid Lima, atriz e assessora direta da Secult, assessores da pasta. Demais autoridades e companhias partiram em revoada. Ao final do espetáculo, até as cadeiras dispostas no palanque para convidados e autoridades já haviam sido recolhidas. Havia uma pressa, talvez, em encerrar os jogos de cena da manhã, mas a última cena ainda acontecia.
O público, que prestigiou o espetáculo musical da Batalha do Jenipapo, se emocionou, chorou, aplaudiu, pediu autógrafo, fez selfie e, particularmente, ficou para ver o desfecho de trabalho que marca ponto na agenda oficial do Governo do estado, em Campo Maior. A nosotros se assegura a compreensão de que o Governador tenha outros compromissos que o apressou à saída estratégica e, naturalmente, foi seguido pelos de campanha direta e indireta dos assuntos oficiais.
(Vitorino Rodrigues e Nilda Neres, em cena aberta/ foto: Vitorino Rodrigues)
Teatro é feito para público que espera. E quem esperou não perdeu a viagem, ganhou mais uma lição sobre história e memória da construção social e política piauiense, através das letras e acepções lúdicas da dramaturgia do teatro brasileiro de expressão piauiense, para lembrar alcunha do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes.
Do ponto de vista da estética e plástica, a encenação do espetáculo musical da Batalha do Jenipapo, realizada durante o dia, perde muito de efeitos, haja vista não se poder usar o recurso de iluminação. O dia de domingo, também, por estar locado em dia da semana a descanso e o Parque estar fora do centro urbano do município, pode ter encolhido a plateia e preterido as escolas. Mas o espetáculo se justifica no dia em que ocorreu a Batalha, logo dia 13 de março se instala na data do calendário e o espetáculo acompanha a data oficial.
Estão de parabéns atores/atrizes, diretores, músicos (Octeto da Orquestra Sinfônica de Teresina), Fábio Novo e Bid Lima que, no empenho de reiterar memória e história local, localizam forças aguerridas à realização presente da encenação.
Obrigado, ao Governo do Estado e Secult, por propiciarem esta obra aberta, à apreciação pública, de uma revisita à Batalha do Jenipapo histórica, numa releitura do teatro que não corrobora ao teatro morto. Vive o contexto da novidade e da fuga da moeda azinhavrada aos feitos de medalhões de discursos prontos e réplicas do mesmo tema, sem atentar para outros olhares sobre o vértice triangulado a reinvenção da cena.
A encenação da Batalha do Jenipapo, dirigida por Arimatan Martins, por mais de dez vezes; Siro Siris, uma vez; Franklin Pires, três vezes, conspira à democracia de olhares de diretores de cena e oportuniza que o público tenha outra visão aplicada, quer seja ao texto do historiador Bernardo Aurélio, quer seja pelo texto adaptado pelo dramaturgo Aci Campelo, a partir de pesquisa do jornalista e historiador Chico Castro.
A dramatização de A Batalha do Jenipapo está escrita nas estrelas e gera guerrilhas, confrontos, dissidias brancas e até reencontro de velhas histórias e bastidores que compõem 19 anos da encenação.
Aos de ontem, de hoje e de amanhã: Macktub!
Parabéns a você também Maneco que além de nos proporcionar a leitura estava conosco na encenação. Meu nome: Cléverson Rodrigues e não Soares rsrs
ResponderExcluirdesculpa, querido amigo cleverson. muitos sobrenomes poderosos e estelares. corrigindo....
ResponderExcluirdesculpa, querido amigo cleverson. muitos sobrenomes poderosos e estelares. corrigindo....
ResponderExcluirdesculpa, querido amigo cleverson. muitos sobrenomes poderosos e estelares. corrigindo....
ResponderExcluirdesculpa, querido amigo cleverson. muitos sobrenomes poderosos e estelares. corrigindo....
ResponderExcluirdesculpa, querido amigo cleverson. muitos sobrenomes poderosos e estelares. corrigindo....
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