Doce de
goiaba
por maneco
nascimento
“Os bóias-frias quando tomam umas biritas/Espantando
a tristeza/Sonham, com bife à cavalo, batata frita//E a sobremesa/É goiabada
cascão, com muito queijo, depois café/Cigarro e o beijo de uma mulata chamada/Leonor,
ou Dagmar (...)//São pais de santos, paus de arara, são passistas/São
flagelados, são pingentes, balconistas/Palhaços, marcianos, canibais, lírios
pirados/Dançando, dormindo de olhos abertos/À sombra da alegoria/Dos faraós
embalsamados” (O Rancho da Goiabada/Aldir Blanc-João Bosco)
Imagine as
goiabas da “carne” vermelha selecionadas e a polpa jogada no tacho de zinco
azeiado e sobre as trempes de pedras grandes, e de fogo, que acomodam a lenha
que vai aquecer a massa do fruto que, adicionado o açúcar e alguma pouca
quantidade de água, completam a fórmula do prazer degustado na forma do doce de
goiaba. E, quem sabe, a goiabada cascão raspada do velho tacho, melado em
grossa camada do bom ponto do doce.
Assim são as
memórias afetivas da culinária rural e quiçá aplicam-se ao sabor deixado na
boca de quem provou o doce, talhado nas fornalhas da cozinha brasileira e
compotado para degustar-se com calma e, por vezes, com voraz apreço de amaciar
as papilas identificadas com propriedades organolépticas do paladar.
Mas há
outros doces que também passam pela mesa de qualquer mortal e, dependendo de
quem o cultiva, podem ter sabor não muito palatável, mas sempre um “doce” que
desce goela abaixo.
Planta-se e
colhe-se. As goiabas nem sempre produzem a massa apropriada ao doce da vovó. Por
outro lado, sempre doce com sabor para acre e sem as regalias da tradição rural
e culinária memorável. Mas “doce” que plantado, nalgum momento será digerido,
queira ou não queira o doceiro de magias sem a graça branca, mas feitor de toma
lá, dá cá. Doce dado, doce recebido de volta a La Lei de Newton.
Mas, saindo
da culinária e ficando nas boas notícias que correm os chegados das águas de
março, porque como diz o poeta “É pau, é
pedra, é o fim do caminho/É um resto de toco, é um pouco sozinho/É um caco de
vidro, é a vida, é o sol/É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol (...) É o
mistério profundo, é o queira ou não queira/É o vento ventando, é o fim da
ladeira (...) Das águas de março, é o fim da canseira/É o pé, é o chão, é a
marcha estradeira (...) É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto/É um
pingo pingando, é uma conta, é um conto (...) É a luz da manhã, é o tijolo
chegando/É a lenha, é o dia, é o fim da picada (...) É pau, é pedra, é o fim do
caminho/É um resto do toco, é um pouco sozinho/É uma cobra, é um pau, é João, é
José/É um espinho na mão, é um corte no pé/São as águas de março fechando o verão/É
a promessa de vida no teu coração (...)” (Águas de Março/ Tom Jobim)
Há uma
novidade que nos pega de surpresa alegre e recebe, de alguns, um indisfarçável
nariz de pouca felicidade. E a vida sendo assim mesmo e parafraseando Nelson, a
unanimidade é burra e, às vezes despeitada. Então, quem não gostou que
gostasse.
(ator e promotor cultural J. Vasconcelos/image face J. Vasconcelos)
João Batista
Vasconcelos recebe, às 8h30 da manhã, do dia 06 de março, das mãos do
representante da Fundac, a responsabilidade oficial de coordenar o Complexo
Cultural Clube dos Diários/Theatro 4 de Setembro. Solenidade fechada ao quadro
de funcionários, colaboradores e alguns amigos que chegam para prestigiar o
amigo.
Promotor
cultural e agitador de arte e cultural transversal de todos os tempos, entre
parceiros de todas as linguagens, o ator e produtor cultural recebe a confiança
de um novo desafio e responsabilidade ímpar, estar à frente da maior Casa, oficial,
de espetáculos do Piauí e espelho de corredor cultural centrado na Praça Pedro
II (Aquidabã Sem Número), na velha Teresina de sempre.
Torcer o
nariz, ou o rabo do tatu, em espírito de porco com asas cortadas, pode ser o
sentimento que povoa alguéns que gostariam de ver outros nomes que liderassem
essa Casa. Não deu, ficará a outra oportunidade. Dessa vez, será a vez de João
Vasconcelos e ele sabe agitar cultura e o faz como resposta em agregar +
valores artísticos e artistas que também se identificam com sua forma de ação
cultural.
Vai essa aí,
galera dos sins e nãos. João Vasconcelos está ai e não está prosa. Vivendo e
aprendendo a jogar. “Vivendo e
aprendendo a jogar/Vivendo e aprendendo a jogar/Nem sempre ganhando/Nem sempre
perdendo/Mas aprendendo a jogar (...) Água mole em pedra dura/Mais vale que
dois voando/Se eu nascesse assim pra lua/Não estaria trabalhando (...) Mas em
casa de ferreiro/Quem com ferro se fere a tudo/Cria fama, deita na cama/Quero
ver o berreiro na hora do ronco/Vivendo e aprendendo a jogar” (Aprendendo
a Jogar/Guilherme Arantes)
João está
poesia, drama, comédia, música, artes visuais, dança e o que vier + porque urge
fazer cultura e arte, seja em Bar, praça, parque ou palco empenhado em urdir o
fazer artístico em expansão, atomizando quem soma coletivo e sana a fuga do
complexo de coitadismo, da teoria conspiratória, ou da arraigada leniência de não
ser de fato e direito artista e construir arte (aqui entenda-se o viés
paulofreireano).
Quem não gostou
que gostasse, confere a gira setentona em gíria cultural de recorte à alegria e
metáfora de discurso vencedor em combate aos pessimistas, na era da exceção
brasileira de céu de brigadeiro e outros marechais de ferro. Vasconcelos chegou
ao cargo, de indicação também política, a partir de seu histórico de trinta
anos no batente do fazer arte nessa cidade. Então, essa é sua deixa. O texto
está dado, a cena começa agora!
Aos
“perseguidores” e amargurados com essa boa notícia, vão cantar em outra
freguesia. O mundo anda, circula, e a fila é indiana e às vezes até as pedras
se encontram.
No meio do
caminho, salta-se a pedra e continua-se o curso da vida voejando à arte e
cultura locais. Peguem os painéis para alargar conhecimento e revisionem as
próprias ações, até dos últimos dias de pregoeiros da excelência produtiva da
cidade, ou leiam um romance. Mas paguem as contas do mercado, as prestações...
parafraseando Torquato.
Mas deixem
em paz meu coração, pois ele é um pote até aqui de doce de goiaba, goiabada
cascão. E, para não sofrer de diabetes, evito levar “doces” do destino. Vigio a
ação e colho a reação + respeitosa e vivo bem, obrigado. Falou bicho!
Parabéns,
João Vasconcelos. Vai que é tua. Operário do viço artístico, não é Elis, “Essa
Mulher” inesquecível, que aniversaria neste 17 de março, uma setentona de
guerra, e é de sempre boa lembrança,
mas ele viaja na cauda do furacão e sabe
ser porque está sempre girando, girando feito cantiga de roda e é sal da terra.
E sei que os
parceiros estarão não só torcendo, mas dividindo essa alegria e contentamento.
O 4 de Setembro te aguarda e Daniel, para lembrar o bíblico, sempre vencerá a
jaula dos leões e sem matar nenhum deles, para manter-se politicamente correto.
Ah, raspe
esse tacho e deguste o doce da tradição desinteressada e + próxima do agregar
de sabores apurados. A quem não soube lavorar um bom fruto, sobre-lhe o “doce”
da hora.
Evoé,
Vasconcelos!
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