Arte
Integração
por maneco
nascimento
Manhã
cheia de emoções dramáticas e dramaturgias experimentadas. Dia Internacional do
Teatro, não poderia ser diferente. A partir das 9 horas da manhã, no palco do
Theatro 4 de Setembro, aconteceu a estréia do espetáculo A Onça e o Bode,
versão de texto a fábula farsesca do inventário popular, com a assinatura de
Walfrido Salmito.
Para a
estréia de A Onça e o Bode, a montagem contou com elenco formado por Vitorino
Rodrigues (Bode), Herberth Costa (Onça), Kleyson Kardozo (caboclo Zeca da Mata, intermediador dos
bichos) e Chicão Borges (Coronel Pimentão). Os figurinos e cenário de Wilson
Costa e Direção de Roger Ribeiro.
A peça
retém cenografia prática, eficaz. A casa da narrativa bem humorada, construída
pela Onça e o Bode, numa simultaneidade de desencontros, reúne telhado e
paredes às vezes de tecido frisado, a compor estética de cobertura e paredes de
palha. Nas cores terrais, realiza composição de efeito convincente ao lúdico e
plástico das ações que enredam os bichos que disputam a mesma moradia.
(a Casa da Onça e do Bode/ft: m. nascimento)
Os
figurinos que revelam e escondem personalidades dos bichos em peles de homens,
ou homens em personagens de bichos fabular populares, muito eficientizam o
conjunto da obra, no viés dos figurinos, em sinergia estética do matiz aplicada, por
W. Costa.
Numa dialética de vozes do bicho homem volatizadas nas falas de
animais “inferiores” que, na fábula ganham status humano, a segunda pele se
instala às identidades das personagens e identificação com o universo de
aproximação, na recepção, com o público alvo, o infantil.
O Bode
Manhoso (Vitorino Rodrigues), que foge da fazenda por não suportar + os maus
tratos do seu dono, Cel. Pimentão e resolve construir sua casa própria, tem em
seu figurino, composição de tons sobre tons terrais e sua pele/pelo é um
avental de operário, que se comunica com um chapéu tradicional de couro cru e
chifres de bode naturais, embutidos na “cabeça” do bicho, completam na
simplicidade de signos a identidade do animal, bicho da cabeça pra cima e homem
com roupas humanas (camisa, calça comprida, sandália de couro), do tronco pra
baixo.
(cena aberta de A Onça e o Bode em estreia no Dia 27, dentro do Ato 27/ft: m. nascimento)
A Onça
(Herberth Costa) veste-se de uma camisa tecido seda oncinha, colada no corpo, e cabeça (chapéu de onça) confeccionada do
mesmo tema à identidade do felino matreiro. Segue as mesmas medidas de pesquisa
de figurino, meio bicho, meio homem, como distanciamento cênico na estética de
vestuário e envolvimento dramático na apresentação do lúdico de modernidade em
releitura da tradição.
O caboclo
(Kleyson Kardozo) Zeca da Mata e o Cel Pimentão (Chicão Borges) têm também, na segunda pele, elementos identitários
de suas personalidades ao mágico do universo de enleio infantil, ao farsesco e
ao histriônico que se amplificam na integração do mapeamento da direção de cena
(R. Ribeiro).
(Chicão. Herberth, Kleyson e Vitorino no farsesco mundo fabular de A Onça e o Bode/ft: m. nascimento)
Das
composições e construções da personagem, Vitorino Rodrigues consegue deslizar
livremente como um Bode esperto, manhoso em valorização do próprio nome do
animal e amplia o bom humor na veia de convencimento e persuasão do público
afetivo.
Herberth Costa exercita um corpo que também fala bem, embora não se
tenha ouvido as inflexões da personagem a todo corpo sonoro e intenções +
nuançadas. Não perde o rebolado da Onça, mas poderia executar o pulo do gato em
fuga do homem tímido que ainda há no próprio ator e gera o bicho acanhado.
Kleyson Kardoso,
que faz o caboclo Zeca da Mata aos diálogos interacionais dos bichos e media a paz entre o bicho do terreiro e seu
inimigo natural, o bicho da mata, é talvez o ator que menos parece à vontade na
encenação. Quase fala pra dentro e parece introspectar a personagem em
“apavorado” sentimento muito particular de não conseguir se doar inteiro à cena.
Romper essa película do medo e ser ator completo, talvez melhore a performance à construção da personagem a que se propõe. Sabe por onde ir, só precisa caminhar
e atirar-se ao precipício do drama e emergir do drama pessoal e imergir no
teatral, sem medos.
Chicão Borges desempenha um padrão particularmente aproximado de ser e estar muito próximo de
si mesmo. Embora todo ator carregue consigo também suas idiossincrasias, alguns
transformam em subsídios à personagem. Seu Coronel Pimentão cria empatia com o
público infantil e a caracterização farsesca, apropriada ao universo fabular da
história contada, dá-lhe um porto seguro de apoio ao seu perfil de personagem
entre a magia e o mundo real de fingimento dramático.
A Onça e o
Bode, peça montada, confere linhas divisórias da facilitação de cena, Roger
Ribeiro, para agradar o público a que está direcionada. É risível, envolvente e
está na média de teatro infantil de formação de platéia.
Ressalve-se
que, como para platéia sujeita à agitação, intervenções naturais e burburinhos
incontinenti dos infantes, talvez requeira da direção do espetáculo estimular maior projeção
de alguns atores para que não fique a audiência prejudicada com os ruídos que
se imponham na intercomunicação de platéia infantil.
Eficazmente,
só Vitorino Rodrigues conseguiu fazer-se audível em toda presença. Mas teatro
se constrói todo dia e a cada nova apresentação. A Onça e o Bode está só em
dias de estréia. Pode +, é só ouvir a personagem e aplicar-se às falas dos
bichos homens de teatro.
Na programação do Ato 27 - Arte Intervenção Cultura Integração, A Onça e o Bode, de W. Salmito, direção de Roger Ribeiro, cumpriu duas apresentações para público quente e escolar e ganhou a companhia e aceitação da plateia interativa.
O Dia Internacional do Teatro e Dia Nacional do Circo, na manhã para crianças e tempo de teatro de expressão e preservação do ato de encenar e integrado ao Dia de Ato 27, cumpriu bem o exercício do teatro nas vezes e vozes de A Onça e o Bode.
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