sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Quanto vale um parlamentar

Sua excelência, o legislador
por maneco nascimento

Muito se tem visto, às redes nacionais de televisão, nos telejornais e, + recentemente, nas redes sociais, o espetáculo da alegria e histeria felicitada quando interesses e campanhas de votos, em circuito fechado das câmaras parlamentares e senado nacional, repercutam resultado satisfatório, sejam de arquivamento de processo de investigação de políticos, sejam de trunfo na eleição realizada, em que o sufrágio alegra parlamentares. Outros arroubos  e inefêmeros manifestados, também, ganham repercussão midiática e tudo vira festa espetaculosa a holofotes aquecidos.

A deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), foi caso emblemático de felicidade representada, em plenário legislativo brasileiro, quando foi confirmada a não cassação do deputado João Magno, durante votação no congresso de representação do povo eleitor.

Após confirmada a vitória de base aliada do governo em votação que beneficiou o deputado, livre de cassação de mandato, por ter sido beneficiado pelo “valerioduto”, a deputada, de bancada e legenda, não conteve a franca alegria e ensaiou, com toda desenvoltura a coreografia, de improviso, à “dancinha da pizza” e fez frente à boa brasilidade feliz e à contente representante do povo brasileiro e do cargo eletivo no plenário da câmara. Uma dancinha que percorreu o Brasil inteiro, através da telinha da tevê.

Era um dos primeiros exemplos, a que se tem lembrança, de tanta emoção jorrada entre as cadeiras do parlamento e que concretizava um sentimento de vitória do governo que sofria iminente processo investigativo, acerca de improbidade administrativa de políticos da legenda.

Em dias e exercícios do fazer política e impor-se a ato político no país de governante de esquerda, aquela se endireitava aos métodos situacionistas, desavergonhada. Ali, entrou para a história, reproduzida em cadeia nacional de televisão, Ângela Guadagnin, pelo efusivo do pouco comum manifestado, em dias de política nacional.
(a deputada dançarina da "dancinha da pizza"/imagem reprodução)

[Deputada pede desculpas por "dança da pizza"

24 de março de 2006  07h57  atualizado às 12h07
A deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), que fez a "dancinha da pizza" durante a votação da cassação do deputado João Magno, disse que não pretendia agredir os eleitores com sua manifestação de alegria e pediu desculpas às pessoas pela sua atitude. Em entrevista ao Jornal do Terra, a deputada negou que sua atitude possa ter implicado em quebra de decoro parlamentar.

A deputada petista dançou no plenário assim que foi anunciada a absolvição do deputado João Magno (PT-MG), na última quarta-feira. Por 207 votos contra a cassação e 201 a favor (5 votos em branco, 3 votos nulos e 10 abstenções), Magno foi favorecido pelo baixo quórum.

Ele é acusado de ter recebido R$ 426 mil do chamado esquema "valerioduto" sem prestar contas à Justiça Eleitoral. O parlamentar petista culpou a legislação eleitoral por qualquer crime que tenha cometido.

Em entrevista à rádio CBN, a deputada afirmou que se sentiu à vontade pois o plenário estava vazio. "Havia meia dúzia de deputados e eu manifestei alegria por um amigo", disse ela.
Ângela declarou ser amiga do deputado João Magno e afirmou que a dança foi uma brincadeira para um colega em um momento inesperado. "Quando surgiu a proposta da cassação eu sugeri uma pena alternativa. Eu acredito que o João Magno só pegou o dinheiro no banco porque o Delúbio Soares pediu", declarou ela (...) pediu desculpas às pessoas que se sentiram ofendidas com sua atitude. "Só posso pedir desculpas e compreensão, pois sou humana e extravaso sentimentos", explicou Ângela.] (http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/Deputada+pede+desculpas+por+danca+da+pizza.html)

Outro caso, + recente, de repercussão significativa de desrespeito à colega parlamentar, foi o do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), em plenário da Câmara dos Deputados.
 (o auto divinizado Bolsonaro em ação/imagem reprodução)

[“Não estupro você porque não merece”, diz Bolsonaro a Maria do Rosário
dezembro 9, 2014 17:52

Exaltado, deputado declarou em plenário, ainda, que o Dia Internacional dos Direitos Humanos é “dia internacional da vagabundagem”

Por Redação* |

O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) protagonizou, nesta terça-feira (9), mais uma polêmica na Câmara dos Deputados. Ao responder fala anterior da colega Maria do Rosário (PT-RS), ex-ministra dos Direitos Humanos, disse que não a estupraria porque ela não merece.

“Não saia não, Maria do Rosário, fica aí. Fica aí, Maria do Rosário, fica. Há poucos dias, ‘tu’ me chamou de estuprador no Salão Verde, e eu falei que não ia estuprar você porque você não merece. Fica aqui para ouvir!”, bradou Bolsonaro no plenário (...)] (http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/12/nao-estupro-voce-porque-nao-merece-diz-bolsonaro-maria-rosario/acesso 13.02.2015 às 12h35)
São dias (in)comuns de representantes do povo em momentos de extravasão de sentimentos, naturalmente humanos, ao despirem-se da pele de cordeiros auto imolados.

Recentemente, no Piauí, ocorreu a disputa pela cadeira de ponta na Assembleia Legislativa do Estado. Concorria à reeleição da presidência da Casa parlamentar o deputado estadual Themístocles Sampaio (PMDB), na frente do exercício de presidente há alguns felizes anos. Corria, por fora, o deputado Fábio Novo, do PT, como novidade audaciosa no ninho de matilha confortável.

Campanha lançada, estratégias direcionadas, acordos e reuniões eleitoreiros realizados e o sufrágio deu resultado de 16 votos a T. Sampaio contra 14, computados a Fábio Novo, político da região sul do estado. Um exercício de democracia finalizado e uma crônica de trajeto indisfarçável anunciado.
(dep. Fábio Novo em plenário da Alepi/imagem photoparlamento.blogspot.com)

Mas o que + ganhou espaço midiático nas redes sociais foi a alegria deslumbrada do deputado estadual, da região sul do estado, e das fileiras do PMDB, João Madson. Sua euforia incontida virou meme.
(a euforia vitoriosa, do dep. J. Madson, na Alepi/foto: Ithyara Borges)

A viral passou, pelo menos duas vezes +, pelo olhar curioso de internautas. Era mesmo um espetáculo difícil de não ver. O Deputado perdeu as estribeiras e consentiu-se comemorar efusiva e, desbragadamente, a vitória de seu partido alto e de seu eterno presidente da Alepi.

Criou espécie e até ganhou alcunha de exemplo de felicidade extremada. Qualquer alusão a uma fuga da tristeza, ou representação de alegria incontida, o momento feliz do deputado pmdebista serviu como sugestão gracejada.

Foi um arroubo de vitória, apertada e cheia de expectativas, logo o frenesi pareceu justificado pelos colegas da Casa e, talvez, incontrolável pela personagem em representação de extrema felicidade. Sua excelência, o senhor deputado.

Ainda do processo da apuração dos votos da eleição à presidência da Alepi 2015, consta que um outro deputado, da região norte do estado, se manifestava a cada voto, contrário a Fábio Novo, com a expressão de cunho muito popular: “Chupa, chupa!”.

Estavam abertos canais a ímpetos domésticos e ânimos eleitorais parlamentares a francas liberdades expressivas e efusivo paralelismo lingüístico de acepção comum de simples mortais. Vale a conquista e a manifestação liberada do vencedor que viu seu pleito eleitoreiro surtir efeito imbatível, não?

A sociedade mudou, a política mudou, o político vem de roldão adaptado aos novos tempos e a linguagem também sofre mudanças porque dinâmica e contextual ao ser, estar e fazer-se comunicação direta e de fácil acesso. Talvez essa ideia de homens e mulheres representantes do povo, com ares de olímpicos e intocáveis, esteja fora de moda.

Representantes do povo, logo nascidos do mesmo barro dos comuns, que também voltam ao pó, como vaticina o ensinamento popular. Políticos que se representem, ou se apresentem, do alto de imortal importância e vislumbrados, à distância, em suas bigas divinas, a lembrar os Césares, que não eram deuses, estão fora de paradigmas da atualidade.

Hoje esse representante do povo está + no meio do povo, sua a camisa, troca amenidades diretas com seu eleitor, visita a vidinha simples do voto em potencial e marca um selfie na carreira promissora de repetir-se nas urnas. Então porque não demonstrar também sentimentos humanos e mortais, como qualquer um do povo?

Dancinhas parlamentares, alegria em natural processo de histeria, expressões que poderiam ter acepções chulas, ora inadequadas, podem ser, sim, adequações sócio culturais nesse futuro do presente que nos regencia e verbaliza corpo, voz, meneios febris de felicidade intensa e o velho reinventado nível da linguagem.

Se cai o nível da linguagem e, consequentemente, o da sociedade, de que fala Mário Faustino, é só um detalhe no caldeirão de cultura social brasis a exemplos de Macunaímas, Policarpos Quaresmas, para registrar exemplos da literatura licenciada na poética, ou os + populares e carismáticos que andejarem pelos salões oficiais e gabinetes da política nacional sui generis.

A queda é para o alto. Parlamentar também é gente, como qualquer safo brasileiro. Então pode rir, extravasar a própria alegria, desembolorar a língua e libertá-la das velhas travas, etiquetas e livrar-se de ares de potestades que se alimentam de ambrosia, ao invés de arroz, feijão, carne e pão, superfaturados.

Quer dançar, pois vitorioso. Extravasar alegria e felicidade por não perder o posto de sempre eleito, pode ser da natureza dos meandros e fisiologias políticas. Usar expressões que aproximem semântica do baixo calão, bobagem. Agredir colega de parlamento, é típico de representante popular endeusado pela autoconfiança e fé fundamentada. Todo mundo pode ter seu dia de traquinas, de porcos com asas e espírito anarquista, inclusive um parlamentar.

A vitória da inocência e da moral social é peça de literatura e romance. A vitória é dos vitoriosos e das estratégias políticas. A realidade é pragmática e a política é mesmo polêmica, estejam os políticos certos ou errados, impunes ou imunes. Parlamentares são gente da nossa gente, gente!

E têm, estes, seu dia de igualdade e liberdades fraternadas aos resultados de interesses de seus pares, de políticas de sobrevivência da própria práxis política a repercutir o extremo da felicidade expressada. É coisa de políticos e política também, pois, pois.

Quanto vale um parlamentar? Vale o “metier” de coalizões, acordos, coragem de ser o que é, sempre; determinação de estar com quem pode e deve vencer; proteger-se e ao partido que o representa de forma a somar pontos e votos e identidade de cunhar espaço e sobreviver. Vale quanto pesa o peso da política instaurada.

Sua Excelência o legislador, o parlamentar, o político, o homem (genérico), o audaz, o safo, o sério, o cínico, o maquiavélico, o senhor das guerras parlamentares, o im(p)une, o criador e negociador das leis e votos.

Sua excelência, o político, mas sempre surdo a premissa império românica cesarina: “Lembrai-vos que não sois deus! Lembra-te que não és deus! Lembre-se que não é deus!”, só humano e falho.

Mortal e humano, mas por vezes com estratégias políticas quase divinas. De poder ser, ou estar, o político, à mercê de como os impérios sejam forjados a sua participação ativa e feliz. 

Isso é política brasis.

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