Sua excelência, o legislador
por maneco nascimento
Muito se tem visto, às redes nacionais de televisão, nos telejornais e,
+ recentemente, nas redes sociais, o espetáculo da alegria e histeria
felicitada quando interesses e campanhas de votos, em circuito fechado das
câmaras parlamentares e senado nacional, repercutam resultado satisfatório,
sejam de arquivamento de processo de investigação de políticos, sejam de trunfo
na eleição realizada, em que o sufrágio alegra parlamentares. Outros arroubos e inefêmeros manifestados, também, ganham repercussão midiática e tudo vira festa
espetaculosa a holofotes aquecidos.
A deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), foi caso emblemático de felicidade representada, em plenário legislativo
brasileiro, quando foi confirmada a não cassação do deputado João Magno, durante
votação no congresso de representação do povo eleitor.
Após confirmada a vitória de base aliada do governo em votação que
beneficiou o deputado, livre de cassação de mandato, por ter sido beneficiado
pelo “valerioduto”, a deputada, de bancada e legenda, não conteve a franca
alegria e ensaiou, com toda desenvoltura a coreografia, de improviso, à “dancinha
da pizza” e fez frente à boa brasilidade feliz e à contente representante do povo brasileiro e
do cargo eletivo no plenário da câmara. Uma dancinha que percorreu o Brasil
inteiro, através da telinha da tevê.
Era um dos primeiros exemplos, a que se tem lembrança, de tanta emoção
jorrada entre as cadeiras do parlamento e que concretizava um sentimento de
vitória do governo que sofria iminente processo investigativo, acerca de
improbidade administrativa de políticos da legenda.
Em dias e exercícios do fazer política e impor-se a ato político no país
de governante de esquerda, aquela se endireitava aos métodos situacionistas,
desavergonhada. Ali, entrou para a história, reproduzida em cadeia nacional de
televisão, Ângela Guadagnin, pelo efusivo do pouco comum manifestado, em dias de política nacional.
(a deputada dançarina da "dancinha da pizza"/imagem reprodução)
[Deputada pede desculpas por
"dança da pizza"
24 de março de 2006 • 07h57 • atualizado
às 12h07
A deputada
Ângela Guadagnin (PT-SP), que fez a "dancinha da pizza" durante a
votação da cassação do deputado João Magno, disse que não pretendia agredir os
eleitores com sua manifestação de alegria e pediu desculpas às pessoas pela sua
atitude. Em entrevista ao Jornal do Terra, a deputada negou que sua atitude possa ter implicado em
quebra de decoro parlamentar.
A deputada petista dançou no
plenário assim que foi anunciada a absolvição do deputado João Magno (PT-MG),
na última quarta-feira. Por 207 votos contra a cassação e 201 a favor (5 votos
em branco, 3 votos nulos e 10 abstenções), Magno foi favorecido pelo baixo
quórum.
Ele é acusado de ter recebido
R$ 426 mil do chamado esquema "valerioduto" sem prestar contas à
Justiça Eleitoral. O parlamentar petista culpou a legislação eleitoral por
qualquer crime que tenha cometido.
Em entrevista à rádio CBN, a deputada afirmou que se sentiu à vontade pois o
plenário estava vazio. "Havia meia dúzia de deputados e eu manifestei
alegria por um amigo", disse ela.
Ângela declarou ser amiga do
deputado João Magno e afirmou que a dança foi uma brincadeira para um colega em
um momento inesperado. "Quando surgiu a proposta da cassação eu sugeri uma
pena alternativa. Eu acredito que o João Magno só pegou o dinheiro no banco
porque o Delúbio Soares pediu", declarou ela (...) pediu desculpas às
pessoas que se sentiram ofendidas com sua atitude. "Só posso pedir
desculpas e compreensão, pois sou humana e extravaso sentimentos",
explicou Ângela.] (http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/Deputada+pede+desculpas+por+danca+da+pizza.html)
Outro caso, + recente, de repercussão significativa de desrespeito à colega parlamentar, foi o do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), em plenário da
Câmara dos Deputados.
(o auto divinizado Bolsonaro em ação/imagem reprodução)[“Não estupro você porque não merece”, diz Bolsonaro a Maria do Rosário
Exaltado, deputado declarou em plenário, ainda, que o Dia
Internacional dos Direitos Humanos é “dia internacional da vagabundagem”
Por
Redação* |
O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) protagonizou, nesta
terça-feira (9), mais uma polêmica na Câmara dos Deputados. Ao responder fala
anterior da colega Maria do Rosário (PT-RS), ex-ministra dos Direitos Humanos,
disse que não a estupraria porque ela não merece.
“Não
saia não, Maria do Rosário, fica aí. Fica aí, Maria do Rosário, fica. Há poucos
dias, ‘tu’ me chamou de estuprador no Salão Verde, e eu falei que não ia
estuprar você porque você não merece. Fica aqui para ouvir!”, bradou Bolsonaro
no plenário (...)] (http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/12/nao-estupro-voce-porque-nao-merece-diz-bolsonaro-maria-rosario/acesso
13.02.2015 às 12h35)
São dias (in)comuns de representantes do povo em momentos de extravasão
de sentimentos, naturalmente humanos, ao despirem-se da pele de cordeiros auto imolados.
Recentemente, no Piauí, ocorreu a disputa pela cadeira de ponta na
Assembleia Legislativa do Estado. Concorria à reeleição da presidência da Casa
parlamentar o deputado estadual Themístocles Sampaio (PMDB), na frente do
exercício de presidente há alguns felizes anos. Corria, por fora, o deputado
Fábio Novo, do PT, como novidade audaciosa no ninho de matilha confortável.
Campanha lançada, estratégias direcionadas, acordos e reuniões
eleitoreiros realizados e o sufrágio deu resultado de 16 votos a T. Sampaio
contra 14, computados a Fábio Novo, político da região sul do estado. Um exercício de democracia finalizado e uma
crônica de trajeto indisfarçável anunciado.
(dep. Fábio Novo em plenário da Alepi/imagem photoparlamento.blogspot.com)
Mas o que + ganhou espaço midiático nas redes sociais foi a alegria
deslumbrada do deputado estadual, da região sul do estado, e das fileiras do
PMDB, João Madson. Sua euforia incontida virou meme.
(a euforia vitoriosa, do dep. J. Madson, na Alepi/foto: Ithyara Borges)
A viral passou, pelo menos duas vezes +, pelo olhar curioso de
internautas. Era mesmo um espetáculo difícil de não ver. O Deputado perdeu as
estribeiras e consentiu-se comemorar efusiva e, desbragadamente, a vitória de seu
partido alto e de seu eterno presidente da Alepi.
Criou espécie e até ganhou alcunha de exemplo de felicidade extremada.
Qualquer alusão a uma fuga da tristeza, ou representação de alegria incontida,
o momento feliz do deputado pmdebista serviu como sugestão gracejada.
Foi um arroubo de vitória, apertada e cheia de expectativas, logo o
frenesi pareceu justificado pelos colegas da Casa e, talvez, incontrolável pela
personagem em representação de extrema felicidade. Sua excelência, o senhor
deputado.
Ainda do processo da apuração dos votos da eleição à presidência da
Alepi 2015, consta que um outro deputado, da região norte do estado, se
manifestava a cada voto, contrário a Fábio Novo, com a expressão de cunho muito
popular: “Chupa, chupa!”.
Estavam abertos canais a ímpetos domésticos e ânimos eleitorais
parlamentares a francas liberdades expressivas e efusivo paralelismo
lingüístico de acepção comum de simples mortais. Vale a conquista e a manifestação
liberada do vencedor que viu seu pleito eleitoreiro surtir efeito imbatível,
não?
A sociedade mudou, a política mudou, o político vem de roldão adaptado
aos novos tempos e a linguagem também sofre mudanças porque dinâmica e
contextual ao ser, estar e fazer-se comunicação direta e de fácil acesso.
Talvez essa ideia de homens e mulheres representantes do povo, com ares de
olímpicos e intocáveis, esteja fora de moda.
Representantes do povo, logo nascidos do mesmo barro dos comuns, que
também voltam ao pó, como vaticina o ensinamento popular. Políticos que se
representem, ou se apresentem, do alto de imortal importância e vislumbrados, à
distância, em suas bigas divinas, a lembrar os Césares, que não eram deuses,
estão fora de paradigmas da atualidade.
Hoje esse representante do povo está + no meio do povo, sua a camisa,
troca amenidades diretas com seu eleitor, visita a vidinha simples do voto em
potencial e marca um selfie na carreira promissora de repetir-se nas urnas.
Então porque não demonstrar também sentimentos humanos e mortais, como qualquer
um do povo?
Dancinhas parlamentares, alegria em natural processo de histeria,
expressões que poderiam ter acepções chulas, ora inadequadas, podem ser, sim,
adequações sócio culturais nesse futuro do presente que nos regencia e
verbaliza corpo, voz, meneios febris de felicidade intensa e o velho
reinventado nível da linguagem.
Se cai o nível da linguagem e, consequentemente, o da sociedade, de que
fala Mário Faustino, é só um detalhe no caldeirão de cultura social brasis a
exemplos de Macunaímas, Policarpos Quaresmas, para registrar exemplos da
literatura licenciada na poética, ou os + populares e carismáticos que
andejarem pelos salões oficiais e gabinetes da política nacional sui generis.
A queda é para o alto. Parlamentar também é gente, como qualquer safo
brasileiro. Então pode rir, extravasar a própria alegria, desembolorar a língua
e libertá-la das velhas travas, etiquetas e livrar-se de ares de potestades que
se alimentam de ambrosia, ao invés de arroz, feijão, carne e pão,
superfaturados.
Quer dançar, pois vitorioso. Extravasar alegria e felicidade por não
perder o posto de sempre eleito, pode ser da natureza dos meandros e
fisiologias políticas. Usar expressões que aproximem semântica do baixo calão,
bobagem. Agredir colega de parlamento, é típico de representante popular
endeusado pela autoconfiança e fé fundamentada. Todo mundo pode ter seu dia de traquinas, de
porcos com asas e espírito anarquista, inclusive um parlamentar.
A vitória da inocência e da moral social é peça de literatura e romance.
A vitória é dos vitoriosos e das estratégias políticas. A realidade é
pragmática e a política é mesmo polêmica, estejam os políticos certos ou
errados, impunes ou imunes. Parlamentares são gente da nossa gente, gente!
E têm, estes, seu dia de igualdade e liberdades fraternadas aos
resultados de interesses de seus pares, de políticas de sobrevivência da
própria práxis política a repercutir o extremo da felicidade expressada. É
coisa de políticos e política também, pois, pois.
Quanto vale um parlamentar? Vale o “metier” de coalizões, acordos,
coragem de ser o que é, sempre; determinação de estar com quem pode e deve
vencer; proteger-se e ao partido que o representa de forma a somar pontos e
votos e identidade de cunhar espaço e sobreviver. Vale quanto pesa o peso da
política instaurada.
Sua Excelência o legislador, o parlamentar, o político, o homem (genérico),
o audaz, o safo, o sério, o cínico, o maquiavélico, o senhor das guerras
parlamentares, o im(p)une, o criador e negociador das leis e votos.
Sua excelência, o político, mas sempre surdo a premissa império românica
cesarina: “Lembrai-vos que não sois deus! Lembra-te que não és deus! Lembre-se
que não é deus!”, só humano e falho.
Mortal e humano, mas por vezes com estratégias políticas quase divinas.
De poder ser, ou estar, o político, à mercê de como os impérios sejam forjados
a sua participação ativa e feliz.
Isso é política brasis.
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