Sou de novela também
por maneco nascimento
“(...) Mas o que foi que aconteceu com a Leonor
Tirania, ousadia, ou foi a Janete Clair
Que fez a cabeça desta mulher (...)" (Prendas do Lar - Carlinhos Vergueiro/sucesso de fins da década de 70)
O Brasil detém uma tradição de
maior exportador de novelas de tevê. Sucesso no mundo inteiro, com incursões
pela China e penetração festejada da inesquecível adaptação de A Escrava
Izaura, protagonizada por Lucélia Santos, entre outros grandes sucessos que
ganharam o mundo, do ocidente ao oriente, e venceram prêmios de
teledramaturgia, o país ainda está no hall de ponta de lança nessa linguagem.
Quem não cresceu, vendo as tramas
e dramas janeteclairianos que fizeram escola, ou temas + políticos e engajados
que povoaram o universo de Dias Gomes, entre um panteão de grandes criadores e
teledramaturgos (Cassiano Gabus Mendes, Benedito Rui Barbosa, Gilberto Braga, João Emanuel Carneiro, Manoel Carlos, Mário Prata, Bráulio Pedroso, Glória Peres, Maria Adelaide
Amaral, Aguinaldo Silva, Miguel Falabela e uma inesgotável geração sempre renovável de artistas
autores que preencheram a telinha mágica para 30, 50, 70, 120, 170 milhões de
habitantes nesse país continental do Iapoque ao Chuí.
“Eu perdi o meu amor para uma
novela das 8. Veja só a desilusão, eu me desiludi (...) Agora vive longe eu não
sei mais nada, fugiu da nossa casa com a televisão (...)” (Fugiu com a novela - Vanessa da
Mata) reflete, em nova leitura, crítico humorada, as velhas questões de “amores perdidos”,
esquecidos, ou desencontros consentidos, quando alguém fica ligado na novela
das 2, das 6, das 7, das 9 ou das 10 horas.
Já houve o tempo de se negar as
novelas, pois alienantes. O tempo de abraçá-las, pois de entretenimento e
lazer, nas pausas para descanso das jornadas impostas pela força motriz do
capital e negócios dos donos dos negócios e poder detentores do quinhão de +
maioria rica.
A teledramaturgia, às vezes, também
consegue ser mata e cura, em microsséries e minisséries, com tempo e argumento
que quebram o paradigma de cotidianos mágicos, do mundo de Bob, de sempre
felicidade e facilidades que só o feijão com arroz e muita gordura imprimem nos
dramas circulares de realismo opera sabão à força da opinião do ibope, medições
de tevês ligadas, em lares que não mudam de canal. Aquelas dobram o
patrocinador e fogem do lugar comum e mediam equilíbrio, enquanto mantêm o
padrão de qualidade premiada.
Assim cominho e orégano temperam
a humanidade que se vê refletida na tevê. E já não se quer negar o gosto pela
novela, pois parte da cultura nacional. Um colega de cena, ator e diretor, em
conversa recente, disse gostar de novelas. Assiste as novelas para ver bons
atores e atrizes, boas dramaturgias. Assume que vê novela. Eu o acompanho.
Desde que me entendo por gente, que vejo, quando posso, algum capítulo de uma
nova trama.
Aliás, peguei gosto pelo teatro,
vendo artistas na televisão, desde a era da imagem em preto e branco. Depois,
algumas oportunidades de rever os artistas, ao vivo e a cores, em palcos de
teatro foi um prêmio.
Ver boas interpretações, bons
diálogos e o deslizar convincente, no plano americano, de profissionais
migrados da rádionovela, do teatro de tradição e competência e da práxis da
cena Opinião e Oficina e das novas oficinas e laboratórios vanguardistas e
contemporâneos de criação da personagem não tem preço. Grandes estrelas
desfilam talento em meio das indústrias culturais e do anunciante e,
coadjuvados por belos rostos e adestrados em série à renovação da plástica da
televisão.
Como nem tanto ao céu de divinos
e celebridades, nem tanto à terra de desejosos de alcançar a mesma divindade e
intuir catapulta ao posto de olímpicos, a todo custo, a teledramaturgia
sobrevive para mundo democrático dos bons, dos aceitáveis, dos treinados, dos
belos e malditos, dos que nunca pisaram um palco de teatro, dos que nunca leram
um livro e dos que aprenderam de cor a lição do enquadramento da tevê.
A televisão sobreviveu à intenet
e as novelas, idem. Sexta feira, 13 de março, + uma trama fechou seu ciclo de +
de seis meses de dramas, melodramas, comédia e estereótipos, caricatura e
criaturas recriadas das geladeiras frankensteinianas
e requentados populares que encheram a curiosidade e interesse da audiência
brasis. Império era a novela e seu deus criador Aguinaldo Silva et al.
Autor que passou um ano
divulgando, antecipadamente, sua narrativa, contratando e demitindo elenco via
twitter, fazendo seu marketing pessoal e de sua teledramaturgia e do patrão,
acertou + nessa última novela. De bom parceiro em novelas de grande sucesso, e
temas rurais e de realismo fantástico aos urbanos, o autor foi fazendo as suas.
Algumas com + acertos, outras + enfadonhas, mas sempre cumprindo sua sinopse e
tempo de atuação.
Em Império conseguiu
recuperar um bom tema e teve um elenco nunca desprezível. Ninguém pediu ao
autor para ser suprimido da trama e parecia ser prazer dos profissionais em
estarem na cena. Em vias a beijar os cinqüenta anos da Vênus platinada, o autor
foi muito feliz até o dia em que teve que construir o “felizes para sempre” e
assinar o Fim.
Fora o fato de bang bang à italiana
e fotografia em set de dinamismo policial americano, foram poucas as novidades
que deixassem melhores lembranças. O take colhido do alto para canteiro dos
mortos, imagem bonita.
Todos os maus são punidos, com a
morte pelo fogo quente de arma moral e, a agilidade para a morte de alguns
parece não ser eficaz para poupar o anti-herói, purgado com a morte “à
treição”, tiro nas costas.
Um seqüestro, humilhações à mocinha e
preferida do pai e homem de preto, as falhas trágicas e as mágicas surreais dos
tempos e soluções fáceis descomplicam e finalizam o Império, de Aguinaldo
Silva.
Moralismo conservado, público
(in)satisfeito, trama fechada com chave de bronze e protagonistas (Lílian Cabral
e Alexandre Nero) impagáveis, em suas construções da
personagem, seguidos de perto por atores e atrizes em núcleos de ótima atuação.
Até os intérpretes opera soap tiveram ganho de causa.
(A. Nero/Zé Pedro, um fantasma assombra em tempo de (i)mortalidade/reprodução)
Um final morno, sujão, mas padrão
de novela das 9. Agora é esperar pra ver o furacão de Gilberto Braga e
parceiros. Quem o conhece, o compra sem pestanejar e não parece ser à toa que
sua trama assinará os cinqüenta anos da emissora que emprega divinos e
divinizados, artistas e artífices da profissão, textos e obras que romperam
décadas e criaram um monstro da teledramaturgia nacional, chamado Gilberto
Braga que, confessadamente, sempre foi fã de Janete Clair.
Gilberto deu o seu “Pulo do Gato”
e construiu o próprio nome e ninguém tasca. Quem tiver dúvida que recorra ao
Google, Youtube, a memória de fluxo informacional muito + ágil que os tempos de
arquivos mortos e sujeitos, em maior escala de sinistro, a risco de se perder.
(Glória Pires e Adriana Esteves, as marias de fátima e carminhas em eterno retorno/reprodução)
Que venha Babilônia. Já chegou com o assombro de primeiro capítulo quente e envolvente. Mocinhas da tevê assassinas e chantagistas, velhinhas homoafetivas, traição e ambição pelo dinheiro alheio, (in)justiça dos podres e poderosos, mocinhos enganados pelo feitiço da lua da Lucrécia Borgia, filhos estragados pelo amor de proteção cega e as discussões, sempre em pauta revisitada, pioneiras nas tramas gilbertobraguianas, desde que o tempo é tempo de criar para o autor.
(Fernanda Montenegro & Nathalia Timberg, homoafetividade na terceira idade/reprodução)
O público, de
direita, meio, esquerda, volver!, vai assistir sim essa nova trama. Pode até
nem confessar, mas que vai “curiar”, de perto, isso vai sim.
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