por maneco nascimento
O mundo das histórias das civilizações está cheio de atos heroicos, heróis emblematizados como divinos por seus feitos de guerras, conquistas de territórios e povos, lobo alfa mijando no território do dominado. Assim ganharam a posteridade, como heroicos e divinos que foram, viram e venceram a quem não conseguiu se proteger da arte da guerra.
Ulisses (Odisseu), um dos divinos da tomada de Tróia, território não curvado, facilmente, pelo braço Espartano; Alexandre III da Macedônia, dito o Magno, ou o Grande da Macedônia, ao norte da Grécia, o Zeus Amon quando dominou o Egito; Júlio César e o império de Ave Césares; Genghis Khan e seu império mongol; Carlos Magno e o Império Franco, ou Carolíngio; Átila, o huno, do império bárbaro visigodo que mijou sobre a cabeça do império romano do Oriente e outros líderes invasores germânicos que enfraqueceram, o já decadente Império do Ocidente, com desordem, fome, pilhagens, saques, abrindo o precipício da sua desintegração no final do século V.
Também na construção sócio-cultural e política dos mundos ocidentais houve termo para Ricardos, Carlos e Luises divinos e mortais. Alguns deram nome a história das sociedades civilizadas e outros fizeram sua parte sobrecomum para guardarem-se aos compêndios históricos como reis dos reis, homens em mitos forjados, divinos, sol autoproclamado, poetas e mortais perenes como um dia atrás do outro.
Na atual Grã-Bretanha, Reino Unido, Ricardo I da Inglaterra, o Ricardo Coração de Leão, imortalizado pela literatura, cinema, quadrinhos e imaginário popular de grande herói das cruzadas inimigas contra os "pagãos", na Terceira Cruzada rumo à Terra Santa em objetivo de recuperar Jerusalém ao controle cristão. Sem conseguir tomar a Terra Santa, retorna e no caminho de volta para casa, "O Rei dos Reis da Terra" (alcunha do medievalista Régine Pernoud) - sem a proteção mítica do semideus Aquiles, herói de falha trágica no calcanhar - é ferido e morre em consequência de uma flecha que atingi-o no abdômen. Não usava armadura nesse dia. Sem descendentes, foi sucedido pelo irmão, rei João da Inglaterra, o João Sem Terra.
Ricardo III, o último rei de Inglaterra, que na peça "Ricardo III", de William Shakespeare, era coxo, de um braço + curto, descrito como “um sapo corcunda”, “deformado” e “incompleto”, tão feio que até os cães ladravam quando passava por eles. Dono da frase célebre quando derrotado: "RICARDO III (Rei) — Um cavalo! Um cavalo! Meu reino por um cavalo!".
Na França, os territórios de monarquia tiveram seu tempo de Luíses que compuseram histórias de popularidade festejada e tiranias freadas pela queda de Bastilha. No tempo de Luíses houve papel para os mortais Luís XIV, o Rei-Sol (o rei baixinho, criador do salto Luis XV, artifício que continua ditando moda e ostentação de elegância nos sapatos femininos de nossa contemporaneidade); Luís XV, o Bem Amado e Luís XVI, guilhotinado pela revolução francesa.
Na literatura mundial e imprescindível, o grande ícone da poesia que do além-mar nos toca até hoje e unifica cultura e língua da península ibérica portuguesa ao mundo colonizado da terra brasis, Luís Vaz de Camões e sua epopeica "Os Lusíadas"; Luís da Câmara Cascudo e o Dicionário do Folclore Brasileiro; Luiz Ayrão, um bamba do samba; Luiz Melodia, nosso Pérola Negra; Luiz Gonzaga, Rei do Baião; Luiz Gonzaga Jr., o príncipe herói da resistência que cantou "Não dá mais pra segurar (Explode Coração)", alguns exemplos da língua e obras que nos aproximam e nos orgulham como povos transversais.
Mas há, na natureza humana, também as falhas em nomes repetidos a Luiz, Luís, Carlos, Ricardo e que, nem sempre honram a identidade, deslizam sobre a própria história, deixando as marcas da própria petulância ignorante e, no afã de avançar territórios, acabam desempenhando a práxis da esperteza na "advocacia" em causa própria. Ofendem até os rábulas, que dirá a academia da profissão que envolve ética, respeito e exercício de proteção dos direitos alheios. Cometem inadequações, disfarçadas de bom mocismo em nome da arte e cultura de grupos, organizações e empresas sem fins lucrativos.
A atriz Célia Lopez foi convidada pela Organização Ponto de Equilíbrio - OPEQ, uma entidade sem fins lucrativos, para realizar produção executiva de um espetáculo de dança, intitulado "Musical Palmares". Na conversa de tratar de valores de pagamento ao serviço que prestaria, segundo a atriz, foi acordado com o representante da OPEQ, à época, o senhor Luis Carlos Vale, que o cachê pela ação de produção ficaria em torno de R$ 1.500,00 (hum mil e quinhentos reais). Célia comprova, em agenda de abril, durante a reunião, as anotações que definem seu cachê pelo trabalho.
Agora, na hora de receber seu pagamento, pelos serviços já realizados com eficácia, Célia Lopez que fez produção do Musical teve uma infeliz surpresa. Foi comunicada pelo senhor Ricardo e depois confirmada a informação pelo próprio senhor Luís Carlos Vale, que respondem pelo pagamento dos cachês, que a atriz e produtora deverá receber só R$ 1.000,00 (hum mil reais). Os R$ 500,00 (quinhentos reais) restantes, como diria o ditado popular "são outros quinhentos!". Ficaram perdidos no encolhe cachês da OPEQ, desequilibrando o acordo, anteriormente fechado com Célia Lopez.
Segundo Célia Lopez, os administradores do caixa da OPEQ (Ricardo e Luís Carlos Vale) alegaram que não estão pagando + que R$ 1.000,00 (hum mil reais) a quem trabalhou na realização dessa circulação, com recursos do MINC (Circuito Palmares "Prêmio Myriam Muniz 2014"). O Projeto Circulação do espetáculo de dança "Musical Palmares" viajou por palcos de Teresina e cidades do interior do estado do Piauí e também chegou em municípios do Maranhão e em sua capital, São Luís.
Agora, que o trabalho da atriz e produtora já está concluído, seu cachê acordado com os donos do dinheiro da OPEQ parece fugir de suas mãos cheias de expectativas pelo lavor realizado. Ela tem tudo anotadinho em sua agenda, com dia, hora e local em que foi acertado o valor do cachê, que agora fica no discurso de quem detém a última palavra. Só é mil e não tem outra alternativa que fuja dessa imposição da OPEQ.
A atriz parece que vai ter mesmo que amargar o prejuízo. E, sem poder contar com nenhum ato heroico da OPEQ, fica a transigir sobre a perda de valor de trabalho: "Oh, quem poderá me defender?" (Chapolim Colorado/Chaves - série infanto juvenil mexicana).
Com tão considerável recurso público, recolhido pela OPEQ, do MINC - "Prêmio Myriam Muniz", por que não há como honrar o compromisso com a atriz e produtora Célia Lopez? Artista também tem compromissos planejados com resultado da força de trabalho dispendida e paga contas. Então, OPEQ, faz uma forcinha. Paga a profissional. Não suja a barra da cultura, de saída. A arte e as relações de trabalho e serviço, na cidade de Teresina, agradecem.
Atitude não precisa ser divina, nem heroica de mitos e batalhas. Em dias de liberdades e democracias plenas, avançar sobre territórios alheios é contraproducente e politicamente incorreto. Uma inversão de sucesso.
Não sejam anti-heróis das políticas públicas de cultura, régua tão bem estruturada por projetos de rede nacional. Antes de burocratas, artistas. Não?
Não neguem princípios de arte e cultura estatutários da OPEQ. A vida de artista, da cidade, precisa de boas atitudes e política de transparência e eficiência cultural às respostas de sinceridade ao coletivo.
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