por maneco nascimento
A prova de fogo deu-se a todo calor no grande primeiro espetáculo apresentado na fase de reabertura do Theatro 4 de Setembro.
Nesse 13 de junho de 2014, às 20 horas, a Casa recebeu a estreia do "Era Uma Vez... Grimm", um musical de José Mauro Brant e Tim Rescala.
Montagem idealizada pela Belazarte Realizações Artísticas, em circulação pelo Piauí através do Ministério da Cultura e Petrobrás, é de uma arquitetura de pé direito alto para construção rica de detalhes e planejamento curioso onde mora um ótimo teatro de experiência e beleza plástica apaixonante.
Ousadia premiada encontra beleza, estética, acuidade, zelo, tradição e ruptura em contos de ontem revisitados para hoje e sempre e arcabouçados de novidades, tecnologia e teatro puro de ator e método a musical ritmado na excelência.
Abrir o livro das histórias e contos populares alemães recolhidos à pena mágica dos Grimm (Jacob Ludwig Carl e Wilhelm Carl) adquire novas magias e efeitos contemporâneos para magos da cena e das novas tecnologias transversalizadas.
Luz apropriada e rica de detalhes que se bifurcam com as expressivas e singulares projeções que enriquecem a narrativa tatuada em formas, cores, símbolos, signos e ícones que ilustram os contos revisitados, sobrepostos no cenário elementar e indispensável.
Um livro aberto, em páginas, compõe a cenografia basilar da contação de histórias musicadas. Livro feito chão, palco das narrativas, ambiente doméstico, floresta, palácio. Páginas naturais dos Irmãos Grimm para que deleitem suas criações, enquanto dialogam com as personagens de memórias afetivas e as de reconstrução dos contos recolhidos e revisionados às tramas da história oral. Nessas páginas são operadas as linguísticas simbólicas.
Desse livro palco, assim como os contos ungidos das páginas da obra, saltam os elementos que constroem a narrativa, baú, casinhas do vilarejo, sala de jantar, túmulo, árvore, entre outros mágicos efeitos saídos da fantasia cenográfica inteligente.
Sobre essa cenografia emblemática, um construtivo mapa de ilustrações que, aplicadas sobre a base do cenário, criam a imagem e ilusionismo de realidade fantástica em preenchimento dos dados apresentados aos contos escolhidos, Chapeuzinho Vermelho, O Junípero e Cinderela.
A surpresa magnética de abertura do espetáculo, um teatro de sombra em que a personagem reproduzida descobre a mágica de realizar a imagem do Lobo Mau. O ator na boca da cena, recortado na luz, reproduz-se ao fundo, tela transparente, como o grande monstro devorador da menininha ingênua do capuz vermelho.
Elenco exemplar na dinâmica de repercutir personagens divididas entre quatro intérpretes, José Mauro Brant, Wladimir Pinheiro, Helga Nemeczyk e Chiara Santoro. Um quarteto inconfundível de tenor, barítono, soprano e mezzo soprano que determina timbres musicais e canto afinados ao expressivo musical.
Brant e Wladimir na pele dos Irmãos Grimm e outros personagens masculinos, + as irmãs da Cinderela, definem concentração e rigor dramático para risos e trágicos caminhos das composições. Uma acirrada disputa, com saudável resposta ao projeto de contar e cantar as falas sociais recolhidas pelos Grimm.
Helga Nemeczyk e Chiara Santoro, a dupla dinâmica feminina do espetáculo, não deixam por menos. Receitam, as atrizes, felicidade e talento depurado para cantos e dramas divididos às personagens femininas que disputam ao enredo redondo de práxis teatral atomizada.
Os libretos que levam assinatura de José Mauro Brant e Tim Rescala para musicalidade incidente entre o trágico e o cômico encontram doce deleite nas interpretações dos cantantes e intérpretes da cena viva de melodias explosivas, sentimentais e revivificadas nas oralidades musicais que os construtores das personagens apresentadas se permitem expandir à força da ação teatral.
As trocas de cenas e mudanças de personagens impressas, em dinâmicas inteligentes e soluções cênicas eficazes, reiteram o prazer dos intérpretes em dividir a cena com a plateia, enquanto o público recepciona arrojada experiência preenchedora dos olhos com a cascata de informações, emoções, ações e ritos de comunicação expressivos que transformam realidade de ciência e sensibilidade cênicas em mágicos momentos para o olhar do tradicional reinventado e inserção criteriosa e estética das tecnologias de ponta, eficientizando magia.
Direção prática, perspicaz e definidora da proposição apresentada. Brant e Sueli Guerra quebram limites e brindam força e competência no ato diretor. Recolhem boas tiradas para a aproximação conjugada da prática de encenar e recepção da plateia envolvida na magia da arte do fingimento em arte de razão e do sensível.
A música original de Tim Rescala ganhou vida de instrumentos, em Teresina, através de músicos da Orquestra Sinfônica de Teresina, contratados para temporada de "Era Uma Vez... Grimm" que fica em cartaz até dia 15 de junho.
Essa nova concha madreperolada de Brant e Rescala ativa teatro musical de qualificada experiência e grande força de dramaturgia equilibrada no melhor resultado de encenação. Teatro para todas as idades e até fator de fazer imergir no mundo fantástico a criança perdida nas vagas lembranças dos contos e fadas do tempo da vovó.
"Era Uma Vez... Grimm" é de Brant, Wladimir, Helga e Chiara na era revisitada dos Irmãos Grimm.
Serviço:
“Era Uma Vez... Grimm”
Versão Adulta, dias 13, 14 e 15 (sexta, sábado e domingo), às 20 horas. Não recomendada para menores de 12 anos.
Versão Infanto Juvenil, dias 14 e 15 (sábado e domingo), às 17 horas. Não recomendada para menores de 10 anos.
Ingressos – R$ 20,00 (inteira)/R$ 10,00 (meia)
Informações: (86) 3222 71 00.
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