da fortuna da cena
por maneco nascimento
A Roda da fortuna cênica girou em sentido de Teresina e trouxe, pelos sopros dos moinhos de ventos artísticos, duas belas produções, que excelem qualidade estética e plástica cênicas a não deixar que se perca de vista um bom teatro.
Em junho, foi o primor de economia, humor clownesco e magias e ilusionismo malabares maravilhoso em "O Descotidiano", com a Cia do Relativo, de São Paulo.
A pérola aconteceu dia 05 de Junho, às 9 horas da manhã, no Theatro 4 de Setembro, com Entrada Franca ao público, magnetizado pela técnica e arte de manipular objetos comuns da vida doméstica.
(Otavio Fantinato em O Descotidiano/foto Ricardo Avelar)
Jornais, xícaras, livros, rádio, balde e vassouras, entre outros, são manipulados de maneira que encantam pelo inesperado. O teatro d'O Descotidiano cria situações entre o cômico e surreal e encontra na plateia uma correspondência de atração, pelo ato do Palhaço.
(o silêncio e a economia de Fantinato, em O Descotidiano/foto Ricardo Avelar)
O criador, ator e diretor do espetáculo, Otavio Fantinato, consegue não só realizar, mas com muito sucesso, uma cena econômica, sutil e de leveza à alegria do fazedor de rir, em suas magias e lúdico de levitar objetos.
Embora os truques pareçam revelados, está na boa técnica aplicada, na narrativa da cena, em envolvente carisma do fantástico, da licença poética aplicada ao mágico do circo e seus encantos ao público infante.
As bolas de malabarismo clássico, numa variação sobre o mesmo tema, ao correrem e parecer erro ganham a expectativa de acerto ao serem recuperadas no ápice da queda pela graça do clown, sem muita conversa, que não as interjeições de espanto, pasmo e susto brincados.
(O Descotidiano, de Fantinato/foto Ricardo Avelar)
Uma peça, de ato solo e alegria contagiantes, bela.
Em julho, foi a vez do Ceará com sua obra "Criaturas de Papel". Neste 9 de julho, às 15 horas, o Theatro 4 de Setembro recebeu enredo fantástico e lúdico do Grupo cearense Bricoleiros.
As criaturas de origami "gigantes", ou melhor, em tamanho natural de bichos e homens, recebem animação de manipulação invisível dos atores/intérpretes dos títeres da companhia de teatro bricoleira.
(Criaturas de Papel e sua manipulação invisível/acervo Grupo Bricoleiros)
"O espetáculo traz um refinado processo de animação das marionetes, inspirado no trabalho do grupo japonês Kawasemiza." (divulgação)
(os enamorados são criaturas comoventes/acervo Grupo Bricoleiros)
A narrativa extraordinária conta um romance, misto de felicidade e tragédia, em que as personagens de papel ganham a cena e prendem a criançada e os adultos, que se deleitam com a cena de infância e memória representadas no enredo de "Criaturas de Papel".
(comoção e dor na morte da mocinha/acervo Grupo Bricoleiros)
Da cornucópia, de licença poética (às vezes de baú/poço/tambor duto da fantasia) da fuga das personagens, surgem as pernaltas (garças), o menino, outro pássaro e a bailarina, enamorada do garoto.
As cenas de marionetes (títeres) enlevam o sopro da fantasia e brincam de encantar, a partir de brincadeiras infantis e cotidianos alegres de bichos e crianças.
(o balé das Garças/acervo Grupo Bricoleiros)
O encontro e o balé das Garças, maravilhosos. As manipulações invisíveis a duas,quatro, seis mãos, dão uma magia encantadora, embora reveladas, sempre imbuem à recepção a acionar o relaxamento. O espectador(a) abstrai o revelado de quem manipula as criaturas.
O menino em diálogo com a Garça, montando-a, jogando bola com o pássaro, ou dançando um "pas de deux" com a garota, um primor e uma síntese estética e técnica de dar sopro de vida a seres inanimados.
(um belo de imagem em pas de deux/acervo Grupo Bricoleiros)
A tragédia, não anunciada, se dá com a chegada da cobra ao éden dos enamorados. A peçonha mata a mocinha, deixando o menino inconsolável.
Os espíritos de luz, quando vêm recolher a mocinha morta, realizam uma cena linda. É um belo imagético, cinematográfico de espelho de luz, vencendo a sombra e alçando liberdade da vida pós morte.
"Criaturas de Papel", do Grupo Bricoleiros, representa um grande teatro de construção da cena de animação e magias de vigorar arte e lúdico na forma dada ao papel.
O Ceará brindou Teresina, com sua passagem de beleza cênica e de licença poética e marca o teatro brasileiro de expressão a criaturas manipuladas, em confecção do papel vivo nas formas animadas.
A cena vista, de São Paulo e Ceará, é Gira!
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