por maneco nascimento
(Franklin/Príncipe e Sisley/Cinderela/foto: Marcos Montelo)
Em duas apresentações, na tarde de 31 de maio, às 16h e 18h, o espetáculo infantil "Cinderela, um musical" cumpriu sua ordem de despacho ao lúdico e fantástico, aplicados aos maneirismos das novas tecnologias que ressaltam a fantasia e corroboram para que a atração às crianças esteja toda voltada ao mundo da caixinha mágica a que está contida a narrativa dramática franklinpireana.
A tela de filó (cenografia) que redoma a boca de cena dá ao espetáculo um misto de enredo protegido pela névoa da fantasia, contida no pós-tecido transparente. Do lado de lá do filó, as cenas de casa da Cinderela, Castelo do Príncipe e cemitério onde está enterrada a mãe da mocinha. Do lado de cá do tecido, no proscênio, ocorrem cenas do Rei pai e do Príncipe filho, num acionamento de quebra da quarta parede, física, o filó.
(Alex/Rei pai e Pires/Príncipe filho/ft: M. Montelo)
Também abre margem, nesse exercício de ação histriônica, no proscênio, a maior aproximação do público infantil com um Rei velhinho em gagues de efeitos semi-clownescos, em contraponto com um Príncipe atrapalhado, numa cumplicidade de provocação ao riso.
A peça, com cifras musicais em maior escopo para composição do próprio autor da adaptação, detém um ar de gracejo e felicidade cantados, especialmente no solo da Mádrasta (Gislene Danielle), mas também ganha encorpado com a dobradinha que reúne a voz da Cinderela (Gleyciane Sisley) e Príncipe (Franklin Pires).
À exceção da cena da "bruxaria" da Fada Mãedrinha (Fada/Mãe da Cinderela, vigorada por Gislene Danielle), em que a montagem utiliza a música original da versão da Disney (transformação da Borralheira em Princesa), toda a maior parte musical acompanha enredo musical autoral e referencia a dramaticidade composta ao libreto, por Franklin Pires.
(Gislene/Fada Mãedrinha e Sisley/Cinderela em azul/ft: M. Montelo)
Os cortinados da cenografia, pano de boca de cena (filó) e cortina drapeada do fundo tridimensional do Palácio + os figurinos que vestem as personagens, são da pecha da agulha de Stela Simpson. Repercutem encanto de ligeira apreensão de ilustração pragmática, sem perder a fantasia, no geral, e geram um impacto mágico. Especialmente ao surgimento do vestido azul que Cinderela usa no baile. Um dos melhores momentos de lúdico e magia, de ação simples, está no aparecimento do vestido da mocinha.
(a mágica do vestido azul/ft: M. Montelo)
Ainda compõem a cenografia, uma escada ao fundo, plano superior de apresentação das personagens, em suas entradas ao tapete vermelho, e candelabros e jarros de plantas que ambientam o Salão do baile e Palácio Real.
(o Baile da redenção: Alex, Gislene, Marcelo, Pires e Gleyciane/ft: M. Montelo)
As ambientações virtuais se ampliam para a ilustração do cemitério e árvore que sombreia a cova da mãe de Cinderela; pássaros sobrevoando a cena; a fuga do cavalo real; magia de apresentação do surgimento da Fada Mãedrinha e a mágica do surgimento da carruagem transformada da abóbora. As novas tecnologias resolvem problemas de produção e eficientizam ideias (reprodução virtual de ambientes) ao imaginário infantil, no entrecruzamento do mundo real ao universo lúdico proposto.
No elenco, Gislene Danielle (Mádrasta e Fada Mãedrinha), que realiza contraste entre a perversa segunda mãe da menina e a mãe que retorna do túmulo paras as vezes de Fada madrinha, consegue destaque evolutivo concentrado na primeira e tranquilidade equilibrada na segunda. Dá seu recado de atriz cantora e dinamiza a própria cena.
Destaque de interação de cena, quando a Fada Mãedrinha pede ajuda da plateia para reforçar a magia de transformação da Borralheira. Os celulares, na plateia, deram luz auxiliar ao momento mágico e geraram energia lúdica. O saque da tecnologia atomizada na integração do espetáculo.
(Gislene/Mádrasta e Gleyciane/Borralheira/ft: M. Montelo)
As irmãs postiças de Cinderela, na pele de Alex Zantelli e Marcelo Rego, conseguem envolver a plateia infantil numa "rejeição" natural da vilania apresentada e pelo comportamento perverso de "pequenas" maldades contra a meia irmã e mocinha. Estão compreendendo a linha dramatúrgica do autor/adaptador e deslizam, com histrionismo e peleja de apelo do riso. Ficam dentro do dramático e do pilheresco dramatizados na pecha de só risos.
(as irmãs postiças: Marcelo e Alex e a Borralheira/Gleyciane/ft: M. Montelo)
Zantelli também apresenta sua versão ao Rei pai e dialoga com o Príncipe filho (Franklin Pires) que dão um refresco, no proscênio, e conseguem uma interação e empatia com as crianças. Pires está um Príncipe + relaxado e em busca da serenidade para receita de mocinho e redentor de Cinderela. Canta e repercute um Príncipe menos empostado, desde a pre-estreia do espetáculo.
Gleyciane Sisley (Ela/Cinderela) tem um "composé" entre menina maltratada e chorosa e a perfilada de coragem, quando vestida para casar. O belo vestido azul realça a beleza da atriz dirigida para encantar o público fim. Tem, a atriz, buscado amadurecer a efígie da personagem e, logo que tiver maior domínio de si mesma, para a construção da personagem que desafia trazer à cena, terá logrado todo o encanto de uma das + famosas e injustiçadas e redimidas princesas das fábulas medievais.
(a Gata Borralheira/Sisley/ft: M. Montelo)
Um produto para consumo infantil e + um dentre as produções locais de formação de plateia. Seu tempo de vigorar e hora de se fazer arte está aberto, o tempo de maturidade na cena será resposta de resultados a serem alcançados com a repetição e conquista de público.
"Cinderela, um musical", no mercado e futuros de artes cênicas para pequeno público.
Obrigado pelas belas palavras. Muito bom saber q temos um crítico tão criterioso e eficiente no estado.
ResponderExcluirnão por isso, baby.
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