por maneco nascimento
[Núbia Lafayette é o que se podia chamar de uma cantora que não negava as suas origens, sempre

(o biógrafo Hamilton Santos e a Obra em mãos/acervo H. Santos)
Livro organizado pelo fã incondicional e amigo pessoal, Hamilton Santos, a biografia da cantora popular brasileira traz, entre outras contas preservadas, histórias de vida e de shows na vida; cartas ao amigo Hamilton; discografia e registro iconográficos que revelam a bela das estações de música de fossa, por que não?; dor; paixão; sentimento e com uma qualidade vocal a lembrar sua rota de espelho, Dalva de Oliveira.
[Quando declarada a Rainha da Voz, no antigo programa de José Duba, Núbia Lafayette chegou a dizer que o título coube, na verdade, à falecida Dalva de Oliveira. "Esse negócio, hoje, já era. A gente tem que acompanhar a evolução. Sou rainha da minha casa, do meu marido e dos meus cachorros" (...) - Eu, cafona?
"Não sei se é cafona ou não. Eu canto o que sinto e o que sente o povo. É pecado a gente cantar para os outros? Na verdade o que se canta hoje é a mesma coisa. Eles complicam e eu simplifico."] (Idem.[Minhas mágoas, pags. 134, 135])
Assim era a autêntica e simples Núbia Lafayette. sincera, sem desmerecer ninguém, mas também sem querer diminuir-se. Cantava o que o povo queria ouvir e interpretou grande compositores e foi dona de grandes sucessos. Cresci ouvindo "Devolvi", em sua voz inconfundível, "Casa e Comida", a voz dramática sobrevalorizava o poeta compositor e aproximava a identidade de recepção.
[Quando perguntavam se Núbia Lafayette gostava que a chamasse de "Nelson Gonçalves de Saias", ela tinha a mesma resposta: - "De há muito, amigos me chamam assim por brincadeira. Afinal de contas é agradável ser comparada a um artista tão elogiado como o Nelson Gonçalves. Dizem, que como ele, procuro viver as músicas que interpreto e que tenho um estilo seresteiro. O fato só pode mesmo causar-me alegria."] (Idem.[Uma cantora de fado, pag. 127])
A intérprete que começou imitando Dalva de Oliveira, como muitas outras Divas da canção brasileira, tem o reconhecimento da própria Estrela Dalva, como consta no assento de passagens biografadas de Lafayette.
[ (...) no programa do saudoso Abelardo Barbosa, o Chacrinha. Objetivando homenagear a estrela Dalva de Oliveira no auge de sua doença, já internada, o Chacrinha levou a seu famoso programa de TV, as cantoras Dorinha Freitas, Edith Veiga e Núbia Lafayette, que cantaram grandes sucessos do repertório da eterna Dalva de Oliveira (...) E Dalva de Oliveira, no seu leito, no hospital, em seus últimos momentos, chorava de emoção ouvindo, atentamente, as cantoras. Quando Núbia Lafayette interpretava "Tudo Acabado", a Estrela Dalva afirmou: Núbia é a única cantora para ser a minha sucessora....] (Idem. [O velho guerreiro, pag. 129])
E, a exemplo de Dalva, Lafayette bem que sabia soltar a voz. E ao interpretar sucessos de sua Diva, então.

(eternamente voz e paixão de Diva/reprodução)
[Demétrio Ferreira, produtor e pesquisador musical, grande amigo de Núbia, recordava que em 1958, no programa "A Voz de Ouro ABC", que J. Silvestre apresentava da TV Tupi, quando Núbia defendeu a composição "Brasil Saudoso", de Tito Clemente, cuja "cópia" foi tão descarada que lhe tirou o primeiro lugar.
- "Núbia Lafayette chegou a fazer o mesmo "oba" que Dalva fazia no final da música", recordava Demétrio.] (Idem. [O velho guerreiro, pag. 129])
É dessa Núbia que o livro reúne frases de efeito (Minhas Confissões); fortuna crítica e curiosidades que a fizeram quem foi, na sua discrição e forma particular de ver as coisas. Ou pouco se sabia sobre o que praticava, ou por não alcançar a alta mídia, também não gerava interesse de paparazzis e revistas de fofocas e celebridades, mas era solidária sem querer promoção.
Núbia cantava em hospitais, clínicas e sanatórios e não cobrava nada e a cantora não admitia qualquer divulgação em torno do assunto. Embora tentasse manter em segredo, nalgum momento alguém descobriu e, em 1977, Sérgio Bittencourt abordou-a sobre esse seu segredo.
[Diante da "descoberta" do repórter, encabulada, justificava:
- "Não, é coisa minha, mesmo. Eu acho que a gente precisa dar um pouco de si a quem não tem nada ou quase nada, muito pouco. Eu gosto, de fato, de cantar em orfanatos, sanatórios. É uma gente que eu sei que precisa de calor humano. De gente que lhe dê alguma coisa. Eu dou o que tenho: a música. A felicidade estampada no rosto, por exemplo, de um velhinho abandonado, no rostinho de um menino órfão, já me paga. É o meu cachê, entende?" (...)
- Como é que você sobrevive?
- "Apresento-me em serestas. Posso inclusive, garantir que fui a primeira mulher seresteira que surgiu. E conforme as palavras de Sérgio Bittencourt, na época... 'Núbia, uma pessoa de coração aberto, tranquila...'"] (Idem. [Cantava para quem precisava, pag. 128])
É dessa mulher de coração aberto, tranquila que rompeu muitos anos de sucessos e um infindável repertório em discos gravados, que Núbia se fez o nome que representa e está contida em memórias registradas pelo amigo Hamilton dos Santos, no livro "Núbia Lafayette - A voz sentimento". Dessa personalidade com seu tempo de felicidade e sucessos inestimáveis que quebraram as fronteiras do preconceitos e marcaram época e hits no dial do rádio nacional.
E, como todo(a) artista, que humano(a) como qualquer um(a), também teve tragédias pessoais e outras ainda imbricadas no coletivo que a aplaudia e seguia-a onde fosse.
[Num período curto, ela perdeu sua avó, o tio e um cunhado. Todos atropelados (...) numa certa ocasião, quando se apresentava em João Pessoa, na Paraíba, assistiu ao desabamento do estádio, local do show, em vista da falta de segurança e do elevado número de pessoas. No final, muita gente ferida. Um grande admirador que foi ali ver e ouvir sua cantora, não resistindo aos ferimentos, veio a falecer.
Outra tragédia aconteceu em Lajedo, rio Grande do Sul (...)
- "Um fã foi me ver e quando dançava ao som da minha música, ele foi atingido por uma bala, falecendo no local. Depois ficou esclarecido que a pessoa responsável pelo disparo, sabia que o encontraria no show, pela sua preferência pela minha voz" (...) o show se transformou em verdadeira tragédia. As pessoas deixando o local em disparada. A própria cantora permaneceu quieta por longo tempo, por trás da caixa de som morrendo de medo.] (Idem. [Acontecimentos tristes que marcaram a vida da cantora, pag. 141, 142])
"Núbia Lafayette - A voz sentimento", de Hamilton dos Santos, é leitura necessária sobre essa voz, essa Diva, uma das + mais tradicionais cantoras do amor e paixões transformados em canção e revelados no timbre singular e devotado de quem soube defender, apaixonadamente, a profissão escolhida e a música que a fez tão feliz e agradou ao seu público fervoroso e fiel.
O livro ainda consta de rica hemeroteca que arquiva seu sucesso e vida popular de estrela da canção nacional e a galeria de fotos com amigos, colegas de profissão, estrelas da grandeza com quem dividiu profissão e talento, bailes populares e salões que reunia seu público embalado por sua voz da paixão.
A obra biográfica finaliza-se com O adeus de Núbia Lafayette e a repercussão da passagem da cantora ao tempo das estelares.
(A Diva Lafayette registrada em biografia/reprodução)
Vale a pena ler o livro, especialmente para quem foi, é seu fã e ou desempenha alguma curiosidade acerca dessa "que pertenceu, assim, a uma categoria de cantoras que tinham o dom de interpretar, hoje em via de extinção: as cantoras de belíssima voz (...) colocar o vinil na antiga vitrola, para deliciar-me ao som da sua voz cristalina e ouvir seu vasto repertório, que traduz a dor, a paixão e o desejo". (Idem. [ Voz cristalina, pag. 251])
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