É Casimira Quietinha
por maneco nascimento
“Eu, que gosto, perdido
Tenho casamentos mil, Com mais de um belo marido, Garboso, rico e gentil, De um
velho agora a proposta, Meu Deus! Devia aceitar? Demais um velho que gosta De
assim tão jarreta andar! Nada! Nada! Não me agrada! Quero um marido melhor! É
bem mau não ser casada, Mas mal casada é pior (... ) Há sido um gato sapato;
Preciso do casamento! O maldito celibato Não é viver, é tormento. Quero honesta
rapariga Entre as belas procurar, Muito embora o mundo diga: Quem já andou não
tem pra andar... A existência de casado Talvez venturas me traga, Se diz
verdade o ditado: Amor com amor se paga. Se eu for constante e fervente, Ela
tudo isso será; Se eu amá-la eternamente, Ela também me amará! Eu escravo e a
esposa escrava, Viveremos sem desgosto; Uma mão a outra lava E ambas lavam o
rosto!...” (Copla/Canto: Amor por Anexins, de Artur Azevedo)
“Amor por Anexins” é de linguagem à farsa, foi escrita pelo
dramaturgo e poeta Artur Azevedo e para registro por volta dos anos 1870 e
1907, em São Luís do Maranhão e que “(...)
segue a trilha da hilaridade da farsa inocente, que explora o jogo com a
sabedoria dos provérbios populares em contraponto com a seriedade contida das
peças-provérbio, ao gosto francês que também se faz ao brasileiro. Em suma, peças que fossem facilmente entendidas por um povo que começava a
criar gosto pelo teatro e que, conseqüentemente, começava a construir sua
própria cultura.” (http://amorporanexins.blogspot.com.br/acesso
04.06.2015 às 13h30)
Para mais
uma versão vista em palco, antes ocorreram sete iniciativas, segundo o autor do
texto, desta vez pegou à responsabilidade de dirigir Siso, o ator, artista
visual e diretor de teatro, Avelar Amorim.
O espetáculo,
pelo olhar de Amorim, estreou na noite do dia 02 de junho de 2015, a partir das
20h 30, no palco do Theatro 4 de Setembro, para um público curioso, cheio de
expectativas e representativo da classe e de amigos e admiradores do diretor. Público esse que também vinha prestigiar a estréia do Projeto Terças da Casa
que, à primeira iniciativa, no mês, estaria direcionada ao teatro, a Terça
Teatro.
Da peça, em
si, dramatizada, Avelar optou também para pesquisa popular de figurinos, que
assina com Edithe Rosa, maneirismos de movimentação de corpo em signos de “commèdie
del’arte”, maquiagem idem e algumas particularidades de didatismos da imagem de
redundância de efeito sexual (flor de obsessão) ao apelo da conquista da platéia
do gargarejo.
O texto de
Waldílio constrói humor natural a partir dos diálogos rimados e na picardia
popular contida na condução da narrativa para apreender a atenção e intenções
que imbricam os encontros e desenredos do namoro rural, às escondidas, que
intenta fugir da vigília canina do pai desconfiado.
Os figurinos
(Amorim e Rosa) são representativos e composicionais, creditando efeito natural,
de dramaticidade farsesca, na escolha de dramaturgia de direção. A maquiagem de
pesquisa à proposta e realizada por Silmara Silva reitera identidade sóbria, mas
contundente, de representar peso de marca das máscaras das personagens
suscitadas pela linguagem de escolho ao ato dramático.
A iluminação
de Erickson Pablo também está na média do escopo dramático e compõe desenho de
reforçar o matiz da estética e plástica do espetáculo apresentado.
O mapa de cenografia
se finaliza para elementos emblemáticos como um pilão em pé, contrarregra
funcional; um carrinho de brinquedo a definir a camionete do "Don Juan" tupi or not niquim; um banquinho/cadeira,
usado pelo pai, que ele mesmo introduz à cena; um plástico de bolhas ao fundo,
representativo do chão sob a copa do pequizeiro e que ilustraria o barulho das
folhas secas pisadas.
A copa do pequizeiro, em que os pequis são
tornado realidade estética a partir de luzes pendentes, abrem precedentes aos
frutos do serrado, ou céu estrelado, nas vezes de noite nordestina,
manecoquinderiano, fecham o design cenográfico.
A música
original, criada e arranjada por Avelange Amorim e pré-gravada em estúdio pela
Banda formada por Zaqueu do Acordeon; Wânya Sales, na Rabeca; Marcelo Campelo,
trompete; Daniel Lopes, Flauta transversal; Beto Boreno, Percussão, e Avelange, na
Trompa, dá um sabor muito original e dinâmica ascendente aos preenchimentos de
espaços e ilustração de passagem e reforço de cena. A música compõe bem.
O elenco
defende muito bem a proposição de direção apresentada. Eristóteles Pegado, o
mocinho conquistador, varia entre um malandro de perfil traquinas e falso
ingênuo, não compromete seu próprio enredo de compor personagem provocada.
(elenco: Eristóteles, Edithe, Roger, Alex e o diretor Avelar/foto: A. Amorim)
Edithe Rosa,
como a mocinha ingênua, também está bem. Salvo a aceleração das falas que, por
vezes, compromete a compreensão d’algumas palavras e gera ruídos na comunicação
direta, intérprete/público, fica na boa média. + tranqüilidade no desenlace dos
diálogos lhe dará tempo de estar muito + à vontade na cena.
Talvez não
exigir-se tanto de provocar riso e acuidar na mensagem que a natureza histriônica
do texto já traz, poderá impor melhor desempenho e maior identificação com
economia e humor + concentrado no menos que é +. Os desenhos corporais à
didática sexual geram um over e ficam na obsessão do diretor.
Roger
Ribeiro, o pai desconfiado, que traz em sua composição, de estímulo ao riso, um
deslocamento farsesco, de sonoridades onomatopeicas, está bem solucionado como
construtor da personagem. É funcional e risível. O velho dá um peso e opera às
outras duas medidas, a filha e o mancebo, equilíbrio e tranqüilidade de
interagir o diálogo.
O delegado
espirituoso, elaborado por Alex Zantelli, além de uma máscara muito eficiente à
farsa proposta, detém uma construção muito carismática de uma autoridade que
interage na cena, tendo como elemento de bengala, uma bicicleta em que está
sempre fazendo reparo e abrindo perspectiva de um quase desdém ao que ocorre em
volta.
No excesso
de flor de obsessão do diretor de dramaturgia de cena, vigora desnecessário, a
não ser que propositado para forçar riso, a masturbação que a autoridade
delegada realizada ao roçar o traseiro no celim, varão, pneus da bicicleta e
até encostar, maliciosamente, a bunda no sexo do mocinho.
Abre um
quase precedente de vulgaridade cênica, de apelo a estritos eróticos à pecha do
risível, mas teatro de expressão da escolha e, talvez à classificação de
público, mesmo que o texto traga discurso à linguística popular e de apelo da
ingenuidade rural.
Da
dramaturgia que intertextualiza linguagens, ponto para o diálogo das
personagens quando elas realizam conversa indireta. Atores manipulam bonecos à
semelhança das personagens que interpretam. No desdobramento da ação, as
personagens “distanciadas” do real manipulam as próprias falas, com o suporte
da linguagem do teatro de bonecos. Metateatro e reforço do lúdico.
Waldilio
Siso já pode compensar seu diretor de dramaturgia, Avelar Amorim. Este conseguiu,
segundo as próprias palavras, montar "Casimira Quietinha", numa leitura profissional,
haja vista considerar as leituras anteriores de expressão amadoras, e orgulhar
aquele.
Texto
original para Amor em Rimas gerou, a princípio, uma Casimira espertinha da
caneta de Siso e agora reverbera outra de estímulo forçoso a platéia do
gargarejo, na assinatura de Amorim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário