segunda-feira, 28 de abril de 2014

FormArCen 2014

Fórum das Cênicas
por maneco nascimento


Manhã extra proveitosa, essa de 28 de abril, em que na Sala Torquato Neto (Complexo Cultural Clube dos Diários/Teatro 4 de Setembro) se confirmou encontro para discutir arte e cultura, política e mercado cultural durante o segundo dia do Fórum das Artes Cênicas 2014. 

No último sábado, 26, o primeiro dia do Fórum trouxe o Presidente do Sindicato de Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão do Ceará - SATED CE, Oscar Rooney, que tratou sobre "Modelos e Manequins - Direitos e Deveres da Profissão", direcionado a profissionais da área fim.

Nesta segunda, artistas, técnicos, amigos e representantes culturais desempenharam conversa em dois momentos. Às 9 horas, o primeiro tema "Formação e Qualidade Técnica”. Na mesa com representação diversa e embasada, a presença de Ací Campelo, diretor de cena e dramaturgo; Adriano Abreu, ator e diretor de teatro; Franklin Pires, diretor da Escola Técnica de Teatro Gomes Campos; Luzia Amélia, diretora da Escola Técnica de Dança do Estado, Roberto Freitas, coordenador do Grupo Estação Cordão de Dança e Odailton Aragão (UFPI).

O privilégio e o nível das conversas, discorridas, estabeleceram bem qual seria o caminho que o encontro planejou que se chegasse. Os trabalhos foram abertos por Lari Salles, Presidente do Sindicato de Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão do Piauí - SATED PI. 

Em suas falas reiterou a necessidade de compreender-se a importância do sindicato e da profissão do artista e acrescentou que, às vezes, "exigimos muito do outro lado e damos nada para que aconteça um melhoramento no movimento teatral, como um todo", ao lembrar que as mudanças dependem de todos e que o SATED é feito pelos associados participativos.

(mesa de debatedores culturais do FormArCen 2014/foto Vítor Sampaio)

O professor doutor, Odailton Aragão, discorreu sobre o Parfor - Programa de Formação de Professores (UFPI). Projeto de habilitação para quem não tem formação e habilitação para quem tem formação em outra área, mas transversaliza pedagogia ao artístico (artes visuais e música). Ainda informou que a coordenação geral do Parfor, Glória Fe, espera instalar em breve o Programa de Formação que atenda também as áreas de Teatro e Dança.

Lembrou ainda do Curso de Artes de Corpo, Música e Teatro, da PUC, para reforçar sua atenção de que seja implantado, no Piauí, o Curso Superior de Artes Cênicas e Dança (UFPI). O Parfor é curso de férias e, sem abrir mão dessa perspectiva, será preciso juntar forças para a instalação do curso regular das cênicas. Amadurecer o Parfor não deixa de ser uma maneira de sedimentar a implantação do Curso de Artes Cênicas.

Aci Campelo lembrou do assunto, Comissão da implantação do Curso Regular de Artes Cênicas na UFPI, na qual está incluído. Disse da importância do Parfor, de ter professores qualificados às cênicas, mas o curso superior é indispensável para a cidade de Teresina. Lembrou do princípio da Escola Técnica de Teatro Gomes Campos e que, anteriormente, foi criado o Núcleo de Teatro como ideia inicial à fundamentação da escola. 

Mas que, mesmo com a existência da instituição, existe uma dificuldade de melhor formação por conta das circunstâncias em que se consegue manter as iniciativas na instância pública. A falta de informação pesa sobre quem chega a escola. "Às vezes, nem o ator sabe ler uma peça de teatro e aqui vai uma metáfora", disse Aci ao definir o despreparo até de quem já está no "mètier" da cena local. Acredita que seja hora e necessidade de levar a escola para a comunidade e que se tenha uma aproximação real dela.

Acerca da relação academia e artistas da cidade, há uma distância para quem não tenha formação acadêmica nessa área específica e que "vamos continuar nessa periferia, rondando o saber", sem participar efetivamente dele, haja vista não haver o curso superior das cênicas. Também apontou a importância do "ator politizado", esse ator, artista precisa ter o corpo político para existir como corpus social.

Franklin Pires tratou da Escola Técnica Professor Gomes Campos e disse que montar escola técnica sem instrumentos materiais, equipamentos, dificulta bastante manter uma eficiência de trabalho. Sobre o quadro de professores e disciplinas, disse que será necessário sair da teoria e ir à prática. A disciplina precisa ser melhor eficientizada e otimizar a pedagogia de ensino aprendizagem. O aluno tem que sair da escola, praticar. Ter o momento cênico fora da escola, na comunidade. A escola saindo da escola. 

Sobre a qualificação do professor, ela deveria ser diferenciada para que o aluno receba uma prática mais formadora. O professor(a) de canto, por exemplo, deve estar apto(a) a desenvolver o canto para teatro, bem como a pedagogia de dança também deve ter aplicabilidade da manifestação à linguagem de teatro. Quanto à infraestrutura da escola, caso não atenda às necessidades das demandas, não se poderá evitar a evasão escolar. Defender espaço eficiente para manter o aluno na escola.

Roberto Freitas nomeou palavras ouvidas nas falas anteriores as suas. Atitude, qualidade, formação, ação política, palavras que se completam na prática artístico cultural. Discorreu sobre o processo de formação de novos artistas, com proeficiência, para que se possa negociar com administradores públicos e políticos. Pensar a formação como qualidade ao campo profissional e que pleiteou a formação dos componentes do Grupo Cordão de Dança para torná-los instrutores e ganharem o mercado de trabalho.

Conseguiu parcerias, com secretarias municipais, que sedimentaram o projeto de qualificação dos aluno(a)s da Cordão de Dança e comunidade em geral. Curso de Metodologia do Ensino da Dança, Canto, Dança e Teatro são as oficinas oferecidas para a comunidade, tendo como sede de prática a Escola Porfírio Cordão. Disse que "se produz muito em Teresina, mas ninguém sabe. Produzir e registrar o trabalho. Um trabalho registrado vira arma para negociar novos projetos de formação de artistas", concluiu.

Nas falas de Adriano Abreu, reverenciou Aci Campelo pela criação da Escola Técnica de Teatro e pela pesquisa da história do teatro piauiense. Depois tratou da experiência como praticador de teatro, que vive vinte quatro horas e viveria trinta, se existissem, pensando o teatro. Que quer "tentar chegar, algum dia,  onde eu desejo ser", depôs. 

Gosta do que faz e está sempre aprendendo e que como artista confirmou que "sou aprendiz e não quero perder essa condição", definiu. Sobre dificuldades em praticar teatro, defende que os problemas daqui são os mesmos de qualquer lugar.

Estudioso do método de teatro, Adriano falou que gostar de teatro não operacionaliza fazer teatro. "Querer se projetar, estar em grupo é maneira muito ruim de fazer teatro", apontou, e que é preciso que as pessoas saibam porque estão no teatro. Devem se perguntar "O que que eu estou fazendo dentro do teatro? O que eu fiz no teatro tem que ter valor intrínseco. Tem valor cultural para a sociedade. Essas perguntas e saberes devem ir ao outro ponto, a simples compreensão do teatro", disse.

A prática de teatro dá trabalho e exige mergulho na informação. Uma cena detém tempo de criação e que um minuto consome trabalho de horas. Exige competências multifaces do teatro e interfaces que consignem edificar linguagem cênica que influencie cultura de permanência no tempo, espaço, memória cultural. Que no teatro existe tradição. Agir como teatro pronto é suicídio. O artista deve ter habilidade de fugir do vício, armadilhas, dependências, "querer fama, dinheiro, não é papel do teatro", completou.

E que criticar sem fundamento a nada, "gostei, não gostei", não influencia resultados reais de teatro. Ator é suscetível às críticas e elas devem existir e serem sinceras. Sobre criação e continuidade de estética de trabalho construída, devem haver variações criativas, "estéticas diferentes na construção artística, o público reconhece a recorrência sem novidade", confirmou. 

O artista de teatro deve "ser responsável pelo que cria, sem egoísmo, vaidade, preguiça", que todo ator é vaidoso e que "talvez seja o mais vaidoso de todos, tente segurar isso", contou  Adriano Abreu enquanto defendeu o teatro como arte que tem compromisso com estética e formação e informação e responsabilidade com o que se está fazendo, com paixão e liberdade. Finalizou com a poesia "Paixão e liberdade", de Thiago de Melo.

A bailarina e coreógrafa, Luzia Amélia, falou da sua experiência na dança e da escola técnica dessa área. Que o que a faz batalhar pelo curso de dança é que a dança é área de conhecimento, solução, meio a sociedade mais digna e fraterna. Que criar e manter uma escola de formação exige Plano Político Pedagógico e Plano de trabalho, formadores com talento e muito trabalho.

Apontou que depois que voltou do mestrado, percebeu que não houve muitas mudanças em Teresina. Viu a mesma qualidade de trabalho na cidade. Que é preciso haver formação e eficiência, as escolas de artes devem ser escolas de gestão. O dever do estado é implantar serviços de educação e que gestores têm obrigação de servir aos serviços de fins coletivos "não é questão de gostar, ou não dos cursos de dança e teatro. É obrigação de ofertar os cursos", falou.

Para a professora de dança, o profissional das cênicas não tem que estar atrelado a favores políticos, ou dependências de cargos. Sua defesa é sua profissão. Administrador, político, não tem que gostar, ou não, do artista, "o artista tem que estar além do que eu gosto. Como se meu lugar não fosse legítimo", questionou. O artista deve ser colocado no lugar de profissional. 

Quanto a prêmios e festivais, lembrou que "99 crianças reprovadas em teste de dança vão para onde?", perguntou. Uma criança vai dançar em Nova Iorque, ou Bolshoi" e as outras vão ser descartadas, sem chances de progressão artística e social. Acerca de seu mestrado em dança declarou que tem importância de torná-la artista melhor, provar que a dança é uma área de conhecimento.

A professora ainda disse que vai ministrar aulas numa especialização em dança e que "esse momento nos fortalece" e que vaidade não é o maior problema entre os artistas. "Nós não existimos. A questão é muito maior, é termos uma base de formação sólida para existirmos", complementou.

A Escola Técnica de Dança existe e já está em andamento em sua primeira turma na área que forma e alimenta na dança e tem muito trabalho, nessa construção pedagógica de educação e formação. "A dança para todos", concluiu.

Durante as falas da professora Luzia Amélia, o professor doutor Odailton Aragão abriu intervenção para dizer que estava assumindo o compromisso de fazer, embora tenha muitos compromissos na UFPI, com que seja eficientizado o processo à instalação dos cursos de dança e teatro na instituição superior.

Um amanhã para uma manhã que começou a ser construída com conversas francas e posturas políticas para a construção de políticas público coletivas de sedimentação das artes cênicas. 

Era o primeiro momento, da segunda feira, no Fórum das Artes Cênicas 2014. Ação positiva, arte em franca expansão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário