segunda-feira, 7 de abril de 2014

Adeus, adeus, José

By, by, Wilker
por maneco nascimento
“E agora, José? José para onde?” Por aqui, seu dia acabou, a noite chegou. O vento soprou para outros pontos menos cartesianos, talvez não registrados no positivismo que aprendemos a crer como o mapa só das coisas visíveis e concretas. A matéria eufemiza o deslocamento da outra matéria, que nunca está na lição de cor.
E esta lição talvez faça com que aprendamos que dizer não é dizer, como apresenta o poeta. O invisível nos coabita, nos apanha em cheio, às vezes sem que se perceba. E nalgum dia, o salto do bicho homem pode ser + confuso, ou menos sofrível, mas sempre imponderável. Piscar ao paralelo, mesmo que nunca esteja em quadrantes ou geografias da razão, ou para olhos vistos.
O ator cearense, nordestino, brasileiro da gema natural de composição das personagens do sonho, magia, lúdico, fantasia e realidade imitada à mímesis do mundo real fingido. O querido José Wilker morreu na manhã do último sábado (05), aos 66 anos, em sua casa no Rio de Janeiro.
A cidade, o país, a imprensa, os fãs, os amigos e companheiros da lavoura cênica estarreceram-se, um pouco, a cada confirmação da notícia que pegou a todos, de susto, sobre corrida astral do menino Wilker.


(o grande Wilker/divulgação)
Deixou a velha matéria, nem tão velha assim para computo de simples mortais. Nalgum momento, num piscar de olhos do tempo dono do tempo, já se foi, já partiu para novas experiências, tablados, sets e estúdios de outros registros que, se nessa existência poderia ser feliz, quem garante que não seria melhor aos novos campos de atuação que ainda estará por conquistar.
Um infarto fulminante registrou a passagem de um dos memoráveis e talentosos da cena nacional, com percurso pelo rádio, teatro, cinema, televisão e desdobramentos naturais da arte de ser artista. Esse mesmo artista que brindou o cinema nacional, em Xica da Silva; Dona Flor e Seus Dois Maridos; By, By, Brasil; O Homem da Capa Preta, Canudos, entre outros bons exemplos da telona brasis, disse adeus, adeus, Brasil, já fui-me embora.
Nessa vida quem bem viveu a cena de interpretar, sabe da arte de ser feliz. O artista não morre por nada, vive as próprias experimentações na fantasia da vida real. Na cena, exorciza os medos e vence os próprios demônios. Na vida, brinca de ser Deus porque cria, anima vozes e vidas, de mentira, numa verdade que só o artista da cena sabe dispensar convencimento.
Esse José, na telinha, os incontáveis papéis que o tornou não só carismático, mas dono da própria arte de ser como é e convencer com charme, equilíbrio e uma boa dose grave, de voz presente, de construção da personagem para não desmerecer a escolha da profissão. Descoberto no rádio, como uma boa maioria da gleba consistente das cênicas, Wilker também foi se assemelhando aos iguais para sets de cinema, televisão, palcos e tablados conspiradores da cena brasileira.
O orgulho da profissão aproximou qualquer ator/atriz e público, em qualquer parte do país e alhures, desse nosso José, que Wilker plantou fé que faz merecer um momento de silêncio, porque partiu um grande artista nosso, de cada dia, memorado nas casas nacionais.
José deixa três filhas, Isabel, Mariana e Madá. No panteão da celebridade impueril, um dos grandes nomes da dramaturgia brasileira. No histórico, 29 novelas, 49 filmes ao longo de sua vida. Que ninguém discorde, preencheu o Brasil de bom exemplo de sucesso. Em 2013, esteve na novela "Amor à Vida", de Walcir Carrasco, em que dava vida a um médico.
No início da carreira, foi locutor de rádio. Puxado às novelas foi o emblemático Roque Santeiro, na teledramaturgia homônima, para remake de trama censurada na primeira versão, da década de 1970, ainda em anos de exceção. Anjo Mau(primeira versão), Anos Rebeldes, Fera Ferida, O Bem Amado e... Amor à Vida. 
Em minisséries globais foi JK e o também capitão matador de mulher, para lavar a honra, em Gabriela, de 2013. José Wilker trabalhou ainda como diretor, narrador, apresentador e crítico de cinema.
Wilker, sem passar por uma escola de teatro aprendeu bem a lição de interpretar. Estudou interpretação e exerceu a profissão de ator com dignidade de master. Ouvinte de rádio, gostava muito de ir ao circo, em sua terra natal, Juazeiro do Norte, Ceará.

(Wilker, Clarice, D. Migliaccio et all/foto Carlos.Cedoc.Acervo Funarte)
O movimento de teatro, no Recife, em início de carreira, o alfabetizou à política sociocultural construtivista e deu o norte à profissão. Como bom leitor e observador do que as pessoas tinham a dizer. Aprendeu a apurar olhos e ouvidos e transformar a informação em construção da personagem.


(José Wilker, década de 1970/divulgação)
E Agora José? Wilker para a Luz!

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