quinta-feira, 10 de abril de 2014

Alegria do Palhaço

Teatro em Adalmir Miranda
por maneco nascimento

O Grupo de Teatro Oficinão, leia-se Adalmir Miranda e sua trupe de palhaços, marcou território do riso, em espetáculo de estreia, nos dias 4, 5 e 6 de abril, no Teatro do Boi (Matadouro) e, para horário das 19 horas, assentou o “Palha Assada” a uns cinquenta minutos de diversão tarimbada.

Ousadia de estética acertada e assentadas pesquisas à linguagem do clown e suas melhores referências, no mundo, Adalmir e seus fazedores do só rir deram um pontapé, a gol de placar, em nova montagem para que nunca esqueça quem foi conferir a peça.

É uma peça, a peça, de delicadeza concentrada na arte do ator, método e as virtuoses da compreensão do próprio corpo que fala em silêncios, picardias econômicas e ou performances histriônicas e farsescas, limpas e gracejadas para efeito do convencer com verdade cênica.
(calouro "Palha Assada"/fotos Emanuel Ramos)

Tudo conspira para um ótimo resultado. A pesquisa detida na linguagem clownesca, os emblemas de signos e siglas dos pilares da técnica de circo do palhaço ao moderno e contemporâneo. As linguísticas de aproximação e distanciamento na revisita da origem.

O redondo do elenco (Romário Ferreira, Ademir Costa, Jade Oliveira, Ana Paula Rocha, Luna Borges e Adalmir Miranda), cada ator em sua partitura e geografia desbravada para efeito de ser e estar o palhaço que está dentro de cada um, enquanto mergulho no fundo do lago brilhante do clown experimentado.
(elenco de "Palha Assada"/fotos Emanuel Ramos)

A Direção, criação e dramaturgia de palco, mapeados por Adalmir Miranda, revelam acuidade e respeito pelo objeto espiado e devotado à expiação pública. Estão lá na linha divisória, entre o pesquisado e o conquistado, as respostas ao lúdico, fantasia, ciência, técnica, emoção e razão que sempre imprimiram verossimilhança, entre o real e o fantástico universo vetor da personagem de um dos maiores espetáculos do mundo, o circo e seu senhor do riso.
(o voo do Palhaço/fotos: Emanuel Ramos)

A Iluminação (A. Miranda) conspira para aconchegar a cor e o matiz desdobrado da ação efetuada com vigor de ampliar o efeito técnico. Show de sensibilidade direcionada. O Figurino e Cenário, criados também por Miranda, + eficaz impossível. Refletem as memórias afetivas em alegrias, desprendimento, arrojo de combinações caleidoscópicas e impressionistas e de contributo prático de carrosséis, empanadas e cores quentes da magia a infantes e demais receptores da cornucópia do encanto de fazer rir.
(o Palhaço conector do riso/fotos Emanuel Ramos)

Sob o céu do circo invisível e sua tenda dos milagres da fantasia, a visibilidade de cada ator, ou atriz, que preparou marcas materiais e imateriais à semântica do fantástico universo do palhaço, o clown nosso de cada um. Máscaras convergentes ao todo e convincente no detalhe onde o deus da cena se instala e estala os dedos, chamando a atenção da assistência, em quase prática de hipnose livre, para “sketchs” e números refletores da gargalhada da alma animada a viver a alegria ofertada.
(os Palhaços Cucarachas/fotos Emanuel Ramos)

Os efeitos sonoros e a música incidental, Sonoplastia de pesquisa adalmirandiana, avançam público adentro e mantêm a plateia contagiada na energia envolvente, da pauta musicada e criadora de intrínseca força de atração, para que se se gravite na órbita sorridente de “Palha Assada”. 
(riso entre Tapas e Beijos/fotos Emanuel Ramos)

Não há número que não arredonde ao todo. As homenagens aos palhaços, sejam midiáticos ou os de + afeição aos tablados e picadeiros, sempre retornam ao memorial da arte do clown quer do rádio, teatro, cinema, televisão, ou laboratório da expressão do corpo e ânima histriônicos, na ciranda de revisitação.
(a Conexão do Riso/fotos Emanuel Ramos)

Está tudo lá, registrado e catalogado como forma, fórmula e flama de ação e reação racionalizada no lúdico e na técnica já explorada por mestres e revista pelos novos fazedores do riso e palhaçadas.

A pantomima da mulher em seus peitões que se movem corpo acima, riso abaixo, é de uma diversão para criança de qualquer idade. O programa de calouros e a personagem chavão do riso, a la Chacrinha, com linguística diferenciada, aproxima o metalinguismo em que as personagens do concurso reinventam-se em solos, ao espetáculo macro, já caracterizadas como solos clownescos.

A chuva de prata, ou queda d’água para contexto de nortes de terra rachada, de narrativa indireta, é sublime e não foge, como emblema, da precipitação da neve na ideia original. As imagens se completam, xipofagam o ato criativo e antropofagiam qualquer um que esteja em interação com o espetáculo, na plateia.

O planetário de bolas coloridas e o precipício de pequenos corpos coloridos (diversas bolas) e abundantes, sobre a cabeça dos palhaços, traduzem outro momento muito especial. De encantos e beleza à simbiose de rir, refletir, repetir e revalorizar a arte do artista circense, em sua vertente do mago da risada que, em alguma circunstância, em qualquer parte do mundo, já sofreu olhar e curiosidade de alguém que riu e identificou-se numa boa piada, mãe da gargalhada.

Adalmir Miranda, depois do sucesso de “Folia de Reis” em que prospectou a cultura popular, revalorizada em cena histriônica e espetacular, abre as fronteiras ao riso e ao melhor entendimento da arte de entreter, convencer e animar espíritos, através do exercício cênico equilibrado, contundente e de inteligência perspicaz, de se reinventar, em obra posta aos palcos.

“Palha Assada” é riso certo para mestres, doutores, operários e artistas. Repesca mestres originais e surpreende na novidade de demonstrar que as vozes do moderno e contemporâneo são ecos do primitivo observado. Do já criado, se transforma e reverbera a indispensável técnica de se representar e revelar memórias sociais da cultura circular e referencial.

 “Palha Assada” é um doce deleite. “Batam palmas pro palhaço que na vida já foi tudo”, como diz Sidney Miller, e retorna às vezes de Adalmires, Jades, Romários, Ademires Cavaleiros da Ordem dos Sois, Lunas e Anas Paulas, que não negam as origens, nem o aprender a aprender, confirmam que a melhor arte pode ser reproduzida, mas também reprodutora de novo olhar ao velho mundo de sempre.
(arte cartaz Palha Assada/divulgação)

Serviço: 
A peça 'Palha Assada' é uma realização do Grupo de Teatro Oficinão.  Adalmir Miranda assina a direção, criação, cenário, figurino, luz e sonoplastia. A coreografia é de Sidh Ribeiro. O elenco conta com Romário Ferreira, Ademir Costa, Jade Oliveira, Ana Paula Rocha, Luna Borges e Adalmir Miranda.

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