Teatro em
Adalmir Miranda
por maneco
nascimento
O Grupo de
Teatro Oficinão, leia-se Adalmir Miranda e sua trupe de palhaços, marcou
território do riso, em espetáculo de estreia, nos dias 4, 5 e 6 de abril, no
Teatro do Boi (Matadouro) e, para horário das 19 horas, assentou o “Palha
Assada” a uns cinquenta minutos de diversão tarimbada.
Ousadia de
estética acertada e assentadas pesquisas à linguagem do clown e suas melhores
referências, no mundo, Adalmir e seus fazedores do só rir deram um pontapé, a
gol de placar, em nova montagem para que nunca esqueça quem foi conferir a
peça.
É uma peça,
a peça, de delicadeza concentrada na arte do ator, método e as virtuoses da
compreensão do próprio corpo que fala em silêncios, picardias econômicas e ou
performances histriônicas e farsescas, limpas e gracejadas para efeito do
convencer com verdade cênica.
(calouro "Palha Assada"/fotos Emanuel Ramos)
Tudo
conspira para um ótimo resultado. A pesquisa detida na linguagem clownesca, os
emblemas de signos e siglas dos pilares da técnica de circo do palhaço ao moderno
e contemporâneo. As linguísticas de aproximação e distanciamento na revisita da
origem.
O redondo do
elenco (Romário Ferreira, Ademir Costa, Jade Oliveira, Ana Paula Rocha, Luna Borges e Adalmir Miranda), cada ator em sua partitura e geografia desbravada para efeito de ser e
estar o palhaço que está dentro de cada um, enquanto mergulho no fundo do lago
brilhante do clown experimentado.
(elenco de "Palha Assada"/fotos Emanuel Ramos)
A Direção,
criação e dramaturgia de palco, mapeados por Adalmir Miranda, revelam acuidade
e respeito pelo objeto espiado e devotado à expiação pública. Estão lá na linha
divisória, entre o pesquisado e o conquistado, as respostas ao lúdico,
fantasia, ciência, técnica, emoção e razão que sempre imprimiram
verossimilhança, entre o real e o fantástico universo vetor da personagem de um dos
maiores espetáculos do mundo, o circo e seu senhor do riso.
(o voo do Palhaço/fotos: Emanuel Ramos)
A Iluminação
(A. Miranda) conspira para aconchegar a cor e o matiz desdobrado da ação
efetuada com vigor de ampliar o efeito técnico. Show de sensibilidade direcionada.
O Figurino e Cenário, criados também por Miranda, + eficaz impossível. Refletem
as memórias afetivas em alegrias, desprendimento, arrojo de combinações
caleidoscópicas e impressionistas e de contributo prático de carrosséis,
empanadas e cores quentes da magia a infantes e demais receptores da cornucópia
do encanto de fazer rir.
(o Palhaço conector do riso/fotos Emanuel Ramos)
Sob o céu do
circo invisível e sua tenda dos milagres da fantasia, a visibilidade de cada
ator, ou atriz, que preparou marcas materiais e imateriais à semântica do
fantástico universo do palhaço, o clown nosso de cada um. Máscaras convergentes
ao todo e convincente no detalhe onde o deus da cena se instala e estala os
dedos, chamando a atenção da assistência, em quase prática de hipnose livre,
para “sketchs” e números refletores da gargalhada da alma animada a viver a
alegria ofertada.
(os Palhaços Cucarachas/fotos Emanuel Ramos)
Os efeitos
sonoros e a música incidental, Sonoplastia de pesquisa adalmirandiana, avançam
público adentro e mantêm a plateia contagiada na energia envolvente, da pauta
musicada e criadora de intrínseca força de atração, para que se se gravite na órbita
sorridente de “Palha Assada”.
(riso entre Tapas e Beijos/fotos Emanuel Ramos)
Não há número que não arredonde ao todo. As
homenagens aos palhaços, sejam midiáticos ou os de + afeição aos tablados e
picadeiros, sempre retornam ao memorial da arte do clown quer do rádio, teatro,
cinema, televisão, ou laboratório da expressão do corpo e ânima histriônicos, na ciranda de revisitação.
(a Conexão do Riso/fotos Emanuel Ramos)
Está tudo
lá, registrado e catalogado como forma, fórmula e flama de ação e reação
racionalizada no lúdico e na técnica já explorada por mestres e revista pelos novos fazedores do riso e palhaçadas.
A pantomima
da mulher em seus peitões que se movem corpo acima, riso abaixo, é de uma
diversão para criança de qualquer idade. O programa de calouros e a personagem
chavão do riso, a la Chacrinha, com linguística diferenciada, aproxima o
metalinguismo em que as personagens do concurso reinventam-se em solos, ao
espetáculo macro, já caracterizadas como solos clownescos.
A chuva de
prata, ou queda d’água para contexto de nortes de terra rachada, de narrativa
indireta, é sublime e não foge, como emblema, da precipitação da neve na ideia
original. As imagens se completam, xipofagam o ato criativo e antropofagiam
qualquer um que esteja em interação com o espetáculo, na plateia.
O planetário
de bolas coloridas e o precipício de pequenos corpos coloridos (diversas bolas) e
abundantes, sobre a cabeça dos palhaços, traduzem outro momento muito especial.
De encantos e beleza à simbiose de rir, refletir, repetir e revalorizar a arte
do artista circense, em sua vertente do mago da risada que, em alguma
circunstância, em qualquer parte do mundo, já sofreu olhar e curiosidade de
alguém que riu e identificou-se numa boa piada, mãe da gargalhada.
Adalmir
Miranda, depois do sucesso de “Folia de Reis” em que prospectou a cultura
popular, revalorizada em cena histriônica e espetacular, abre as fronteiras ao
riso e ao melhor entendimento da arte de entreter, convencer e animar espíritos, através do exercício cênico equilibrado, contundente e de inteligência
perspicaz, de se reinventar, em obra posta aos palcos.
“Palha
Assada” é riso certo para mestres, doutores, operários e artistas. Repesca
mestres originais e surpreende na novidade de demonstrar que as vozes do moderno e contemporâneo são ecos do primitivo observado. Do já criado, se transforma e
reverbera a indispensável técnica de se representar e revelar memórias sociais
da cultura circular e referencial.
“Palha Assada” é um doce deleite. “Batam
palmas pro palhaço que na vida já foi tudo”, como diz Sidney Miller, e retorna
às vezes de Adalmires, Jades, Romários, Ademires Cavaleiros da Ordem dos Sois,
Lunas e Anas Paulas, que não negam as origens, nem o aprender a aprender, confirmam
que a melhor arte pode ser reproduzida, mas também reprodutora de novo olhar ao
velho mundo de sempre.
(arte cartaz Palha Assada/divulgação)
Serviço:
A peça 'Palha Assada' é uma realização do Grupo de
Teatro Oficinão. Adalmir Miranda assina
a direção, criação, cenário, figurino, luz e sonoplastia. A coreografia é de
Sidh Ribeiro. O elenco conta com Romário Ferreira, Ademir Costa, Jade Oliveira,
Ana Paula Rocha, Luna Borges e Adalmir Miranda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário