Ledo, É. Ivo também.
por maneco nascimento
“O meu leitor não é o que me lê. É o que me relê (caso exista). Um autor lido unicamente uma vez não tem leitores, por mais retumbante que seja o seu sucesso.” (Lêdo Ivo)
Às 2 horas da madrugada do domingo, 23, com seus completos e bem vividos 88 anos, o poeta Lêdo Ivo transmutou-se à maior licença poética da espécie viva, fenecer deste recurso, de passagem ligeira, para reaprimorar nova luz em outro canteiro do criador. Pêgo de surpresa, já que nunca se está muito pronto a este caminho de volta à verdadeira terra natal do berço primordial, foi entregue ao éter.
Segundo a Academia Brasileira de Letras – ABL, onde fora membro e assíduo, as cinzas do artista da poesia e prosa ficarão no mausoléu da instituição dos imortais. “O poeta estava em Sevilha, na Espanha, a passeio com a família. Após um jantar, ele se sentiu mal e morreu nos braços do filho, o pintor Gonçalo Ivo, que mora em Paris. Ivo chegou a ser levado ao hospital, mas já teria chegado sem vida.” (www1.folha.uol.com.br/23.12.2012 – 11h44)
Como todo grande poeta, esse alagoano tem, porque sua memória poética nunca se perde, um natural sabor de fruto maduro, com cheiro de terra adocicada pelo degustar brotado, a seu tempo e hora, da semente escolhida para lavoura planejada.
”SONETO DOS VINTE ANOS: Que o tempo passe, vendo-me ficar/no lugar em que estou, sentindo a vida/nascer em mim, sempre desconhecida/de mim, que a procurei sem a encontrar.//Passem rios, estrelas, que o passar/é ficar sempre, mesmo se é esquecida/a dor de ao vento vê-los na descida/para a morte sem fim que os quer tragar.//Que eu mesmo, sendo humano, também passe/mas que não morra nunca este momento/em que eu me fiz de amor e de ventura./Fez-me a vida talvez para que amasse/e eu a fiz, entre o sonho e o pensamento,/trazendo a aurora para a noite escura.” (Ledo Ivo)
“(...) o corpo será cremado na Europa neste domingo. As cinzas serão trazidas para o Brasil posteriormente. A presidente da ABL, Ana Maria Machado, disse que Ivo lutava contra um câncer de próstata havia anos, mas nunca conversaram a respeito da doença. Antes de morrer, o poeta pedira ao filho discrição. [Ele costumava dizer que a poesia é uma forma de ocultar a vida pessoal em palavras], disse Ana Maria.” (Idem)
Discreto na vida, sujeito da poesia, sua pedra e cinzel revelando o labor da escrita. Quando toca o amor, também fala o poeta e sua pena acena ao homem e seu tempo de existir e resistir, sem que se negue o inegável sentimento do ser, quem se é, poeta, mortal, sensível e gente como a gente que salta do vago para a energia expandida, porque gauche, se preciso.
“Soneto Puro: Fique o amor onde está; seu movimento/nas equações marítimas se inspire/para que, feito o mar, não se retire/de verdes áreas de seu vão lamento.//
Seja o amor como a vaga ao vago intento/de ser colhida em mãos; nela se mire/e, fiel ao seu fulcro, não admire/as enganosas rotações do vento.//Como o centro de tudo, não se afaste/da razão de si mesmo, e se contente/em luzir para o lume que o ensolara.//Seja o amor como o tempo – não se gaste/e, se gasto, renasça, noite clara/que acolhe a treva, e é clara novamente.” (Ledo Ivo)
por maneco nascimento
“O meu leitor não é o que me lê. É o que me relê (caso exista). Um autor lido unicamente uma vez não tem leitores, por mais retumbante que seja o seu sucesso.” (Lêdo Ivo)
Às 2 horas da madrugada do domingo, 23, com seus completos e bem vividos 88 anos, o poeta Lêdo Ivo transmutou-se à maior licença poética da espécie viva, fenecer deste recurso, de passagem ligeira, para reaprimorar nova luz em outro canteiro do criador. Pêgo de surpresa, já que nunca se está muito pronto a este caminho de volta à verdadeira terra natal do berço primordial, foi entregue ao éter.
Segundo a Academia Brasileira de Letras – ABL, onde fora membro e assíduo, as cinzas do artista da poesia e prosa ficarão no mausoléu da instituição dos imortais. “O poeta estava em Sevilha, na Espanha, a passeio com a família. Após um jantar, ele se sentiu mal e morreu nos braços do filho, o pintor Gonçalo Ivo, que mora em Paris. Ivo chegou a ser levado ao hospital, mas já teria chegado sem vida.” (www1.folha.uol.com.br/23.12.2012 – 11h44)
Como todo grande poeta, esse alagoano tem, porque sua memória poética nunca se perde, um natural sabor de fruto maduro, com cheiro de terra adocicada pelo degustar brotado, a seu tempo e hora, da semente escolhida para lavoura planejada.
”SONETO DOS VINTE ANOS: Que o tempo passe, vendo-me ficar/no lugar em que estou, sentindo a vida/nascer em mim, sempre desconhecida/de mim, que a procurei sem a encontrar.//Passem rios, estrelas, que o passar/é ficar sempre, mesmo se é esquecida/a dor de ao vento vê-los na descida/para a morte sem fim que os quer tragar.//Que eu mesmo, sendo humano, também passe/mas que não morra nunca este momento/em que eu me fiz de amor e de ventura./Fez-me a vida talvez para que amasse/e eu a fiz, entre o sonho e o pensamento,/trazendo a aurora para a noite escura.” (Ledo Ivo)
“(...) o corpo será cremado na Europa neste domingo. As cinzas serão trazidas para o Brasil posteriormente. A presidente da ABL, Ana Maria Machado, disse que Ivo lutava contra um câncer de próstata havia anos, mas nunca conversaram a respeito da doença. Antes de morrer, o poeta pedira ao filho discrição. [Ele costumava dizer que a poesia é uma forma de ocultar a vida pessoal em palavras], disse Ana Maria.” (Idem)
Discreto na vida, sujeito da poesia, sua pedra e cinzel revelando o labor da escrita. Quando toca o amor, também fala o poeta e sua pena acena ao homem e seu tempo de existir e resistir, sem que se negue o inegável sentimento do ser, quem se é, poeta, mortal, sensível e gente como a gente que salta do vago para a energia expandida, porque gauche, se preciso.
“Soneto Puro: Fique o amor onde está; seu movimento/nas equações marítimas se inspire/para que, feito o mar, não se retire/de verdes áreas de seu vão lamento.//
Seja o amor como a vaga ao vago intento/de ser colhida em mãos; nela se mire/e, fiel ao seu fulcro, não admire/as enganosas rotações do vento.//Como o centro de tudo, não se afaste/da razão de si mesmo, e se contente/em luzir para o lume que o ensolara.//Seja o amor como o tempo – não se gaste/e, se gasto, renasça, noite clara/que acolhe a treva, e é clara novamente.” (Ledo Ivo)
Um imortal
presentemente artista, como os colegas de seu ofício da arte de escrever. “Quinto
ocupante da Cadeira número 10, eleito em 13 de novembro de 1986, na sucessão de
Orígenes Lessa e recebido em 7 de abril de 1987 pelo acadêmico Dom Marcos
Barbosa. Recebeu os acadêmicos Geraldo França de Lima, Nélida Pìñon e Sábato
Magldi. Ledo Ivo nasceu no dia 18 de fevereiro de 1924, em Maceió (AL), filho
de Floriano Ivo e Eurídice Plácido de Araújo Ivo. Casado com Maria Lêda
Sarmento de Medeiros Ivo (1923-2004), tem o casal três filhos: Patrícia, Maria
da Graça e Gonçalo.” (fonte: www.academia.org.br)
Cronista e romancista, Ledo ganhou o mundo. Não fosse de se esperar, assim o foi. Suas crônicas, no livro A Cidade e os Dias (1957) receberam o Prêmio Carlos de Laet da Academia Brasileira de Letras. Para a prosa memorialista publicou Confissões de um Poeta (1979) pelo qual foi distinguido com o Prêmio de Memória da Fundação Cultural do Distrito Federal. Também escreveu O Aluno Relapso (1991). (fonte: www.academia.org.br)
Seu romance Ninho de Cobras foi traduzido para o inglês (Snakes’ Nest) e ao dinamarquês, sob o título Slangeboet. No México, seus poemas receberam coletâneas, La Imaginaria Ventana Abierta, Oda al Crepúsculo, Las Pistas, Las Islas Inacabadas, La Tierra Allende, Mia Pátria Húmeda e Réquiem. A antologia Poemas foi editada em Lima. AEspanha publicou La Moneda Perdida e La Aldea de Sal. Nos EUA, Landsend, antologia poética. A Holanda selecionou poemas em Vleermuizen em blauw Krabben (Morcegos e Goiamuns) (fonte: www.academia.org.br)
Ledo, É. E nunca deixará de ser um dos nossos grandes autores de prosa e poesia e crônica e romance e, se não bastasse ser coroado em batismo como Ledo, ainda é Ivo. + licença poética melhor aplicada não poderia haver. Ledo, Lido e Relido, com bem gostaria de se ter havido na interlocução. O poeta é mão do tempo de aprender, soube sê-lo.
Cronista e romancista, Ledo ganhou o mundo. Não fosse de se esperar, assim o foi. Suas crônicas, no livro A Cidade e os Dias (1957) receberam o Prêmio Carlos de Laet da Academia Brasileira de Letras. Para a prosa memorialista publicou Confissões de um Poeta (1979) pelo qual foi distinguido com o Prêmio de Memória da Fundação Cultural do Distrito Federal. Também escreveu O Aluno Relapso (1991). (fonte: www.academia.org.br)
Seu romance Ninho de Cobras foi traduzido para o inglês (Snakes’ Nest) e ao dinamarquês, sob o título Slangeboet. No México, seus poemas receberam coletâneas, La Imaginaria Ventana Abierta, Oda al Crepúsculo, Las Pistas, Las Islas Inacabadas, La Tierra Allende, Mia Pátria Húmeda e Réquiem. A antologia Poemas foi editada em Lima. AEspanha publicou La Moneda Perdida e La Aldea de Sal. Nos EUA, Landsend, antologia poética. A Holanda selecionou poemas em Vleermuizen em blauw Krabben (Morcegos e Goiamuns) (fonte: www.academia.org.br)
Ledo, É. E nunca deixará de ser um dos nossos grandes autores de prosa e poesia e crônica e romance e, se não bastasse ser coroado em batismo como Ledo, ainda é Ivo. + licença poética melhor aplicada não poderia haver. Ledo, Lido e Relido, com bem gostaria de se ter havido na interlocução. O poeta é mão do tempo de aprender, soube sê-lo.
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