(a grande Nana Caymmi/fotos colhidas de letra.mus.br)
(a Rainha do chorinho - Ademilde Fonseca/foto colhida do blogs.pop.com.br/musica)
Passa tempo, passa hora...
por maneco nascimento
Semana passada, em entrevista ao programa do Jô, o humorista, cantor/compositor Juca Chaves, entre outras piadas e pilhérias composicionais de humor venal e ferino, falou sobre propostas políticas caso fosse efetivado em cargo eletivo.
Provocado pelo âncora do programa sobre a possibilidade de assumir função legislativa, Juca teria dito que nunca foi muito a sua idéia de tornar-se político, embora tenha recebido convites. Disse ainda que, tinha em mente, caso entrasse nessa profissão, criar lei que regulamentasse a música nas escolas.
Para o artista as pessoas desaprenderam de cantar a música popular brasileira, as modinhas desapareceram da memória das gentes. Já não se ninam + as crianças. Que, na época dele e do Jô, se ouvia, por exemplo, os mais velhos cantarolando.
Quem não foi embalado com uma boa canção. Hoje, com o que se iria embalar as crianças? Qual o ritmo ou hit do momento? De uma coisa o cantor humorista tem toda a razão, a música popular brasileira ganhou outro formato de domínio da massa, são dias das novas indústrias culturais.
“A canção brasileira chegou...” ao fim, pelo menos, àquele que se consideraria para obscurecimento da boa memória musical brasileira (grifo meu). Com o fim das belas canções, das composições da velha guarda nacional, que ganharam durante algumas décadas uma renovada, através dos herdeiros naturais da MPB, agora são dias de outros sons.
Com o fim do verão, novas estações se impõem e com elas as músicas de seu tempo e contexto comercial necessário às novas sociedades e seus ouvintes aos sucessos mass media. De sorte é que há, ainda, os sobreviventes nesse caldeirão de cultura musical brasileira. E os artistas, dos últimos 40 anos ou + de MPB, estão fechando para balanço.
Em matéria de Roberta Pennafort, originalmente publicada em O Estado de São Paulo, acerca de show emocionado de Nana Caymmi para o Vivo Rio lotado, qual a artista anuncia a aposentadoria, tem-se “’Já dei o que tinha que dar. Estou me aposentando aos poucos. Tenho 50 anos de disco e ganhei um de ouro. Então eu quero que o mundo se exploda. Hoje a música é outra, é bunda, é aeróbica’, disse a cantora, que fez 70 anos em 2011.” (Pennafort, Roberta - reproduzida no Meio Norte/arte&fest. Despedida, 02.04.2012, B/5)
Quem conhece os caminhos musicais dos Caymmi, sabe que aquela cepa ganhou o mundo com uma música da Bahia e do país para ninguém botar defeito. Mas as sociedades são outras, as novas tecnologias e exigências de mercado também. Rita Lee, a exemplo, também já assentou aposentadoria. Agora é a vez de Nana.
“’Estou encerrando essa fase da minha vida. Tenho que ter paz. Vou fazer o mesmo que a Rita (Lee). As pessoas dizem: [Mas você tem 70 anos e essa voz toda!] Ah, vai se ferrar, não tenho mais estrutura para ouvir baboseira de imprensa. Fazia cinco anos que não cantava no Rio. Não estou na idade de cantar de graça.’” (Idem)
Ninguém vira pedra. Há exemplos dos grandes artistas que já nos deixaram. Recentemente, Chico, Millôr e Ademilde Fonseca (Rainha do chorinho) e tantos outros foram transmutados à galeria do desconhecido. A cultura musical, cada um conserva a que melhor lhe soa.
As novas culturas, as novas entradas e bandeiras de arte e desdobramentos estéticos e culturais vão ganhando sua forma e fórmula de ocupação de espaço social.
A cultura é de verve dinâmica e sempre reinventada sobre seu próprio matiz, salvo apreensões “alienígenas” ou de natureza apropriada da espécie de criação e criatura que a desempenha e a torna fator de objeto da vez.
A memória e a história, a que estaríamos acostumados a conviver e relembrar, estariam, naturalmente, sendo substituídas pela outra manifestação cultural que não deixa de ser da natureza brasileira.
Passa tempo, passa hora... e este sinal de futuro talvez seja do tempo e das horas à vez dos novos artistas e o diverso do novo consumidor.
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