não é caminho de asfalto
por maneco nascimento
A cidade não tem tanto pano pra's mangas, quando o assunto é cultura de preservação, respeito e o manutenção de patrimônio edificado. Há, até, sítio arquitetônico protegido por leis federal, estadual e municipal, mas leis são leis e o boi lambe, sim! (para lembrar ditado popular de postura impositiva), quando a conveniência política e de negócios requer mudanças drásticas.
Na última semana, uma das discussões que renderam ponto de vista, matérias, entrevistas, argumento e contra argumento, foi o retorno da possibilidade de reabertura de trecho da rua senador Teodoro Pacheco, o que compreende passeio em frente ao Cine Rex e Theatro de Setembro, respectivamente.
(foto: Jorge Carlo)
Uma solicitação da Câmara de Dirigentes Lojistas à prefeitura de Teresina inspira-se em abrir esse trecho da Teodoro Pacheco, ao largo da Praça Pedro II, lado de cá do Corredor Cultural que compreende, no quadrante do logradouro público, o Theatro 4 de Setembro, Café Art'Bar, Cine Rex e, lado de lá, o Centro de Artesanato "Mestre Dezinho" (Escola Estadual de Música "Possidônio Queiroz", Escola Estadual de Dança "Lenir Argento" e ProdArte), tendo a P2, como sanduíche.
As argumentações de negócios e mercados de diligência lojista são de que haveria a necessidade de desafogar o trânsito no centro da cidade.
Ora, pois vejam, um pequeno trecho de trezentos, ou quinhentos metros, não mudaria em nada os rumos de lucros dos comerciantes. Todo o restante de ruas, no entorno do Corredor Cultural , correm aos interesses de capital e lucro. Só esse pequeno trecho, semi-fechado aos serviços do capital cultura.
Ali, nesse recorte da senador Teodoro Pacheco, é que acontecem as sociabilidades, projetos culturais musicais (Clube Instrumental\086 Trio; Quinta Musical, et al), Teatro de Rua à porta da Casa de espetáculos e área de convivência de público das atrações que ocorram quer fora do Theatro, quer dentro do Theatro.
Seria portanto local para manter, a salvo, dos selvagens motorizados e seus veículos, as pessoas que buscam manifestações artísticas naquele local e utilizam o passeio\calçada de Equipamentos culturais ali plantados.
Senão, vejamos. Abrir-se aquele pedaço da rua ao ruge-ruge de veículos, seria comprometer de vez não só a segurança de pessoas que ali circulam, em ação afim, mas a sobrevivência digna do próprio patrimônio edificado.
Prédio do século XIX, sofrendo impacto de fuligem, trepidação de vai-e-vem de carros, entre outros reveses do interesse comercial, seria, no mínimo, um acinte imposto pelo CDL à memória patrimonial da cidade, já bastante comprometida em outros sítios, vide Museu do Piauí - Casa de Odilon Nunes.
(arte Dino Alves)
A coordenação de conservação de patrimônio e edificações da SeCult, segundo notícias, já teria enviado parecer desfavorável à abertura da rua. O Secretário de Estado de Cultura do Piauí, Fábio Novo, também se posiciona contra a abertura do trecho. E, uma boa parte dos artistas, defensores da patrimônio, intelectuais, formadores de opinião, imprensa, também acionou forças, em combate a essa infeliz ideia da agremiação CDL.
Na noite do dia 18 de janeiro, na última quarta, houve um Ato-Manifesto artístico à calçada\passeio, frente ao Theatro 4 de Setembro para dizer Não!
Não a esta ideia que vem na contramão da cultura. Músicos, atores, compositores, cantores, um leque de artistas veio compor ordem de defesa do patrimônio e reivindicação de manutenção do trecho em questão.
Nas falas de Fábio Novo, à ocasião, foram de lembrar aos comerciantes locais que, em países de cultura mais avançada, preservar patrimônio arquitetônico é que é lei manifesta e conduta de proteção. Retirar circuito de veículos próximos de sítios patrimoniais é a atitude de cultura e também de negócios.
Em Teresina, lembrou de restauração, recuperação de patrimônios arquitetônicos quais, Theatro 4 de Setembro, Club dos Diários, Fachada Centro Artesanal "Mestredo Dezinho", Escola de Música "Possidônio Queiroz", Escola de Dança "Lenir Argento" (Praça P2); Biblioteca Pública Des. "Cromwell de Carvalho" (Praça do Fripisa); obra de recuperação da antiga Câmara Municipal de Teresina, que abrigará o Museu da Imagem e do Som (Governo do estado e PMT); Museu do Piauí e Sede da Secult (Palácio da Cultura), na Praça da Bandeira e, ainda, o Memorial Zumbi dos Palmares (avenida Miguel Rosa\ centro sul), são exemplos de injeção, em materialização de preservação, manutenção de patrimônio e conservação de bens intangíveis e imóveis na cidade.
Também registrou que, em 2016, passaram pelo Complexo Cultural Club dos Diários\Theatro 4 de Setembro mais de cem mil pessoas. Não são números para serem desprezados, em detrimento dos negócios de comércio.
E, por fim, deixou uma provocação ao representante da prefeitura, Olavo Braz. Disse que conversou com o Governador e que propunha abrirem-se um convênio 50%\\50% (Governo do Estado-SeCult e PMT) para restauração da Praça Pedro II e fechar, de vez, com um calçadão, esse trecho da senador Teodoro Pacheco.
Como se vê, houve, há e sempre haverá quem se posicione contra essa manobra comerciante de abrir rua, onde rua não mereceria ser terra de asfalto. Aos senhores de negócios e mercados e varejo capital: vão vender seu peixe noutra freguesia! Essa, já tem ocupação e utilidade social lucrativa, que talvez não entendam os dirigentes lojistas.
(fotos: Elizângela Oliveira)
Theatro é terra de Teatro, não é caminho de asfalto. Deixem esse passeio em paz e contumaz de assuntos artísticos e culturais. Não bastasse o desaparecimento de casas antigas do centro da cidade, transformadas em estacionamentos, agora querem os mascates tombar, literalmente, o Theatro 4 de Setembro com seus corredores de carros e selvagens motoristas.
Passem ao largo, do Theatro 4 de Setembro, com suas intenções de aquecimento do mercado, senhores dirigentes lojistas. Deixem o Theatro para a cidade que também consome arte e cultura.
Theatro é área de Teatro, não é área de asfalto.
fotos\imagem:
Theatro e rua (Jorge Carlo)
da arte cartoon Dino Alves (Elizângela Oliveira)
Belo texto. O CDL anda na contramão e o culpado somos nós? Felizmente não estamos a sós nem a S.O.S.
ResponderExcluirEm tempo: qualificar vendedores para que atendam melhor o CDL não quer; sugestão para reduzir os assaltos não dão; melhorar o layout das lojas não querem. E todo o problema todo de vendas no centro de Teresina é o trecho de rua em frente ao nosso Theatro?
pois então, amigo?
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