por maneco nascimento
Enquanto "(...) dos olhos injetados do Poeta brilha o lusco-fusco da palavra ferida. E a big-pena rabisca sinais luminosos.", como declara Conceição Evaristo, em "Stop", por cá dois poetas perolam sinais luminosos às licenças poéticas, das tintas escrevinhadas, e das tintas em traços dos pincéis a pictóricos assomos proféticos.
Elias Paz e Silva&Antônio Amaral assinam "Rima Ruach". Quatro mãos, duas penas de poesia, uma Obra de encher os olhos do leitor. Do lado esquerdo, do coração selvagem do livro, os traços de Amaral.
E, do lado direito da mens sana do poeta, as linhas, os riscos, as palavras atomizando poesia de lírica moderna, simples, direta, econômica e de uma sutileza profética de ditar humor, em cantos poéticos para embalar grandes e pequenos.
Numa atenção literária editada pela Nova Aliança, "Rima Ruach" dialoga com gestos pictóricos e linhas emblemáticas de linguagem às infâncias, em inspiração a leitores que deitem sobre as páginas livres, berço esplêndido de vasos comunicantes poéticos.
Ali saltam das páginas um céu azul borrado de reflexo para roxo e amarelo, às margens do leito do rio que reflete o azul da cor do mar de água doce; um pássaro em gorjeio na cabeça do Poeta; talvez um pinguim real, em descanso olhando o tempo; a cigarra; a dona abelha; a boca aberta devoradora para o diálogo dos peixes, a la Antonio Vieira, em antropofagia à estrela guia.
Uma ave em voo vertical rumo ao sol cometa halley; um lume cadeeiro hebreu; a nossa língua seja tupi-guarani, seja lusobrasileira; um encanto jacaré; o pato, o elefante, o lobo valente; o grilo consciência do Poeta, a elegante lagartixa, o lírio flor lilás, a ovelha teto das peles.
E mais licenças pictóricas para a "taiada" de melancia; o beija-flor; o abacate verde cor invólucro e núcleo amarelo furta-cor; o beija-flor em beijo ao pardalzinho; o feliz calango-tango; o carinhoso porco espinho; um pássaro em deguste à taça de vinho; o circunspecto hipopótamo; o amarelo do bem-te-vi que bica o centro do abacaxi.
O curioso curió, a dona leoa, o pombo azul em voo, o feliz galo-de-campina. a gaivota que vai e volta, a andorinhazinha em planar de asas lilases, o adulto-criança em luta pela infância sem luto, a natureza em forma vivaz, o poema uma pernalta ema; a sutil cabra.
O prato do dia, uma minhoca em voo livre rumo ao abismo de bicos famintos; o sol cometa halley espalhando luz de página à página, nascido do centro da brochura, e um painel das personagens enfileiradas que se aquecem em adoração ao sol cometa halley, no céu das 15 horas. Essas as traduções poéticas de Antônio Amaral para os enigmas-esfinge Poeta de Elias Paz e Silva.
À capa e contra capa que sanduícham os Poetas ficam a esta (a capa) um olhar de pequenos regalos-retinas que espreitam o leitor, com seus cabelos espetados aos céus no matiz do arco-íris e no coque o título Rima Ruach e, sobre o título, coroados em nomes próprios os Poetas Elias Paz e Silva&Antônio Amaral.
Na efígie do culumin à capa, em perfil de traço ao preto-tinta, um Cabeção-de-Cuia da poesia intertextual e elegante. De sua boca sutil e delicada cora a cor rosa-bebê e a camisa em branco-gelo sobreposta ao branco geral da capa papier-cochê que sublima a obra sóbria de apresentação da obra. A gravata-borboleta, o ícone Nova Aliança.
Àquela (a contracapa), o culumin, pés-descalços explora a mata, entre moitas cinzas do período da estiagem sertaneja; o sol cometa halley, às 10 horas da manhã, e um pássaro camarada que despenca rumo ao chão. Tudo sobre um branco feliz de fundo de aproximação pictórica.
Se com o primeiro poeta, o dos pincéis, lavam-se os olhos. O das arriscadas trilhas da poesia libera a alma e encanta o espírito do leitor, apto às melhores sensibilidades. Elias Paz e Silva andeja pelas terras da infância revisitada, pelo lirismo econômico de uns quase hai-kais, se se fuja do ocidente pragmático e se se mergulhe na linguística de orientes permitidos.
Desliza mais que marcha, pelas sutilezas das palavras encontradas, à alegria e humor leves e rima inocência com ciência [inocência/inocência/és a menor/ciência] pag. 09 e brinca com o vento santo e [(...) canto/canto/canto/rimo/tanto/quanto] pag, 11; da cigarra que [(...) não se cansa/dessa farra santa] pag. 13.
Das alegres rimas-orações e preces livres que guardam a natureza e apontam Deus, em histórias que oralizam tempos de fé e religião, nos cotidianos da vida que segue a seu tempo, onde quase ninguém quer ver, [o mel é centelha/dona abelha] pag. 15; [estrela guia/estrela guia/como te cinges/de poesia] pag. 17; [sou hebreu/do nordeste brasileiro/somos teus/somos nós/azeite no candeeiro] pag. 21; [uma certeza/natureza/divina/beleza] pag. 73.
E dialoga com os bichos, tal Vinícius em canções parceiras, nascidas dos seus poemas às crianças. [pato/pato/seu gaiato] pag. 27; [elefante/amigo gigante/vai adiante] pag. 29; [lobo valente/que come gente/me assustam/teus dentes] pag. 31; [grilo/porque andas assim/tão tranquilo?] pag. 33; [lagartixa/no chão/se lixa] pag. 35; [ô ovelha/tua lã/é nossa telha] pag. 39.
Mais [o beija-flor/só peleja/por amor] pag 43; [num gesto de carinho/o beija-flor beijou o pardalzinho] pag. 47/ [calango-tango/no quengo do/seu calango] pag. 49; [até o porco-espinho/também faz carinho] pag. 51; [hipopótamo/seu nome já diz/nas águas é feliz] pag. 55; [curioso curió/por que cantas só?] pag. 59; [dona leoa/seu urro/é uma loa] pag. 61; [somente no bambo/seu plano de voo/o pombo louvando] pag. 63; [galo-de-campina/louvada seja/a tua sina] pag. 65; [a gaivota vai/e volta] pag. 67; [andorinhazinha/é toda asinha] pag. 69; [o poema/é uma ema/leve/como uma pena] pag. 75 e [cabra/não se abra] pag. 77.
Dos doces e paladares e odores e amores insaciados e aliterados de toda vida, frutos e frutas às memórias afetivo-degustivas e sensitivas, feito lições de amor e sabores, à quase sinestesia. [o mel é centelha/dona abelha] pag. 15; [lírio exala/a flor lilás/um perfume a mais] pag. 37; [me sacia/me sacia/teu vermelho/melancia] pag. 41; [nem o abacate/abateu/teu amor/e o meu] pag. 45; [vinho/oh vinho/deliciozinho/és o símbolo do carinho] pag. 53; [um é doce e triunfal/e a gente faz até xixi/os dois são amarelos/canta bem/o bem-te-vi] pag. 57.
E, por fim filosofia que não perde a poesia. [sinceramente/viver é a nascente/da gente] pag. 19; [língua pobre/língua rica/língua nobre/linguifica] pag. 23; [sou adulto/não discuto/a criança em mim/nunca está de luto] pag. 71.
Fecha com lírica poética de mergulho no abismo das buscas de luz, sensibilidade, razão, arte, ciência, sabedoria popular, filosofia que afiança vida [prato do dia/pão e poesia] pag. 79.
Dois Poetas, duas penas de brilho, feito poesis em interfluxo das linguagens, que se conciliam nas vezes amor e arte à cultura de vida. "(...) duas cores se encontram, amorosamente se enlaçam formando um terceiro tom, a que chamamos de aurora"(CDA) da verve poesia.
fotos/imagem: (you tube/reprodução web)
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