obra encenada de Roberto Muniz Dias
“As divinas mãos de Adam” é um texto teatral da
autoria de Roberto Muniz Dias, um dos mais significativos nomes da “literatura
LGBT”.
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A peça foi apresentada em São Paulo na última edição do Festival Mix
Brasil e reuniu um grande número de espectadores, muitos certamente entrando em
contato pela primeira vez com o texto do escritor piauiense, cuja obra, reforça
o potencial criativo de Roberto exacerbando uma profundidade que aproxima a
literatura da filosofia.
O diferencial da literatura de Muniz Dias provém
da fuga ao “lugar comum”, ou seja, seus textos não giram em torno da opressão
sofrida pelas personagens homossexuais, tampouco descambam para uma “literatura
para maiores”, embora aborde essas questões, o modo como descreve tais fatos é
sofisticado e extrai o máximo de filosofia; a maioria de seus personagens
parece possuir um segundo olhar para os eventos ocorridos em suas vidas.
(Muniz, o autor de "As mãos...")
Na
peça “As divinas mãos de Adam” essa verve filosófica é representada pelos dois
personagens masculinos, que nutridos de um desespero comum (apesar de suas
diferenças pessoais) conseguem chegar a uma equiparação de seus estados de
vida, após dialogarem, entre confidências e doses de conhaque,“O grande
nivelador social”.
O acaso que arrebata Stephen e Adam tanto permite a ambos
“depurar a verdade” como permite-lhes extrair humor de algum aspecto, o que
traz leveza para o melancólico texto de Roberto.
Como em toda obra fictícia espera-se um “happy
end”, este não vem sem antes passar por duríssimas penas, nesta peça o
entendimento de Stephen e Adam é atacado por Rita, irmã de Stephen, esta munida
de um fanatismo religioso que reprime qualquer atitude que não corresponda aos
ditames cristãos pregados, geralmente, pelos evangélicos.
Entretanto, o texto
sutilmente alude a esses conceitos, sequer designa “Deus”, refere-se ao Divino
ou na fala eloquente de Rita: “Ele”, o pronome substantivo apodera-se da
personagem com um fervor de devoção. Já que falamos em pronomes, cabe ressaltar
que essa precisão da escrita de Muniz Dias, reflete o apuro de seu ofício e
também nos remete ao “Pronominais” de Oswald de Andrade, especificamente
quando Stephen pede a Adam uma dose de conhaque: - Dá-me uma dose!
Os aspectos apontados acerca da peça “As divinas
mãos de Adam” são poucos levando em conta os vários efeitos de sentido que ela
propicia a cada espectador.
Certamente, um indivíduo é tocado por determinada
frase, outro fora afligido pelo insólito do tema; algum letrado absorveu
diversos paradoxos e ficou com a peça semanas na cabeça, entre outras razões
que corroboram para designar o texto de Roberto Muniz Dias como Literatura
utilitária, ou seja, aquela que conjuga estética e humanização, esta, decorre
numa crescente até o clímax explosivo, literalmente tocando o dedo na ferida,
quando a personagem Rita expõe um dos principais argumentos contra a
homossexualidade: “não há nada de divino neste seu pensamento que não germina,
nunca germinará...” as respostas dada por Stephen e Adam representam menos as
pretensas verdades limitadoras, impostas por religiões, que a própria
consciência capaz de buscar uma autonomia perante seus desejos e a própria
condição humana.]
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