segunda-feira, 24 de março de 2014

O Palhaço, o que é?

É dono da alegria
por maneco nascimento

O Grupo Pirilampo, de Brasília – DF, esteve em Teresina, de 21 a 23 de março de 2014, para uma ação cultural que envolveu Workshop Intensivo – Oficina de Palhaçaria e apresentação do espetáculo "Pra subir na Vida", exercício de ator para ato circense, dedilhado pelo Palhaço Pipino.

As apresentações do espetáculo aconteceram no Teatro do Boi (Matadouro), no horário das 17 horas, no sábado, 22, e domingo, 23, e quem não viu, não riu. 

Perdeu uma boa oportunidade de se desarmar, ganhar uma dose de felicidade e deixar fluir a criança, quase sempre esquecida, que há dentro do bicho homem chamado adulto

As crianças, com certeza, foram sucesso garantido ao bom riso e cumplicidade conquistada pelo desempenho do Palhaço Pipino.

O ator Guilherme Carvalho, com seu bom Palhaço, vem se achegando como quem parece não querer nada e, aos poucos, numa determinada interação natural, em competente campanha declarada de envolver e criar o consentimento da plateia, ganha o público, adulto e crianças, e demonstra o que o Palhaço é, um conquistador de risos e liberdades anunciadas de só rir.

Guilherme alia as piadas do circo, ações clownescas universais, o riso elaborado, para roubar o sorriso preso na câmara escura da plateia conquistada. Vai enredando a assistência, com as gagues histriônicas, sketches harmônicas, despejadas na simplicidade da memória afetiva do fazedor de rir. O dono do riso de picadeiros, da rua, da praça, da casa afinada, o Palhaço Pipino, devora a todos.
(Palhaço Pipino/fotos Camila Motikovsk)

O número de entrada, a apresentação da personagem da comédia das artes da alegria, o Palhaço e suas manobras para convencer e entreter sem perder o tempo da piada. Consegue prender a atenção e solidificar um feedback eficaz. 

Os ícones do riso vão sendo apresentados até compor a personagem dramática da gargalhada econômica e do entretenimento. O seu cão adestrado, sua mala de surpresas e caixa de magias e lúdico, são dados que permitem o fingimento convincente.

O vendedor de escadas e demonstrador do esconde e mostra, ponto muito divertido do espetáculo, como técnica de mímica bem aplicada ao histrionismo da magia revelada, sem a dispensa do ludismo, forjado para mover público em cumplicidade da velha interação na palhaçaria, contida na ação integrada de ator-personagem-público.

A mulher, que persegue Pipino, com um cassetete, é de uma feliz concorrência de atrair o público para si. A aliança das palhaçadas e ações envolvendo o mamulengo em brincadeira dinâmica do ator (manipulador) e boneco (manipulado) aciona alegria esperta de confluir linguagens cênicas do ato dramático, com inteligência e humor que xipofagizam a fantasia e demonstram inteireza e domínio técnico para não perder o fio tênue entre o real e o fantástico mundo mágico do teatro de homens e títeres.

O mágico; o contador de histórias em tramas que envolvem a participação ativa de alguém da plateia, ou todo o público presente na ação enredada; o número tradicional da pulga amestrada e a música que encerra o ato do espetáculo, em que a interrelação cobra novamente plateia e personagem juntos, tudo é todo um roteiro em que os gracejos exigem envolvimento incondicional de cada um na plateia da hora.

O Palhaço Pipino, de Guilherme Carvalho, consegue gerar uma energia envolvente e nunca descartável e mantém a assistência ligada, na lavagem da alma condicionada a rir sim, sem medo de ser feliz. 

Não há como não se contagiar com a esperta e tranquila estratégia de Guilherme em fundir o público, como aliado, e dividir as conquistas que o enredo vai formando ao longo da brincadeira, das provocações de cena solicitadas.

"Pra subir na Vida" que começa com um pregoeiro, vendedor/demonstrador de equipamentos de deslocamentos (escadas rolantes, espirais, esteiras de academia, elevadores, etc.) acaba discretamente compondo a ascensão do espetáculo, quer seja no assomo de interesse da plateia ao sugerido, quer seja no crescente que a atrama enredada consegue até fechar o ciclo da história contada.


Aos dias em que o mundo das tecnologias requer aliança de sobrevivência, as ações de teatro na forma tradicional de encantar e enlevar espíritos à alegria ainda surtem bom efeito. Os + de quarenta minutos de, "Pra subir na Vida", conseguem deter interesse e realizarem ao final do enredado, uma felicidade que integra crianças e adultos na tarefa fim da proposta, fazer rir e o faz bem.

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