domingo, 16 de março de 2014

Dia da Poesia

Teatro em licença poética
por maneco nascimento

Na sexta feira, 14, o Bar do Clube dos Diários recebeu, em comemoração ao Dia da Poesia, a 8ª. Edição do Ciclo de Leituras Dramáticas, projeto realizado pelo Coletivo Piauhy Estúdio das Artes, coordenado por Adriano Abreu. 

Na noite, a partir das 20 horas, o Grupo em licença dramática homenageou o dramaturgo maranhense Zen Salles e a obra do autor escolhida foi “Agridoce”.
(arte divulgação/acervo)

A Direção da Leitura dramático poética ficou a cargo da atriz Silmara Silva. Para texto curto, os intérpretes David Santos e Érica Smith compuseram o casal que purga a perda dos filhos, crianças esquecidas dentro do carro, em estacionamento, numa cilada do destino que transforma a falha trágica em prisão de culpa, remorso, loucura e idas e voltas à inaceitabilidade da catarse instalada.

Nas recepções livres, a dramaturgia inspiradora, apresentada, aponta o casal em simbiose da própria repetição da fuga, ou retorno às sombras e sobras das lembranças que o mantém variando sobre a mesma memória dos filhos perdidos. No desenho aplicado por Silmara Silva, ao ilustrativo da cena, a mulher está colada na perna do homem e cada ação deste reitera o deslocamento daquela em homogênea vida simbiótica.

Em roupas íntimas, o homem aciona o enredo dramático, enquanto de pé, e a mulher, no plano baixo, acompanha sentada e atada aos pés do marido a experiência de manipulada. Estão, as personagens, aprisionadas por fita adesiva transparente e só o sentimento de partilha da mesma dor é que as força à mesma carne, vida e gestos xipófagos na inteireza de repetir, como a uma maldição trágica, a aplicação de tortura da memória por força de reverberar a lembrança do ato falho até que, talvez, alguém aceite a tábua de salvação (ameaça das luzes), ou retorne ao sempre quarto escuro, proteção imposta à falta de compreensão da liberdade.

O crime do ciúme e o castigo da perda das crianças enterram vivos, o homem e a mulher que choram e lamentam as crianças mortas, em acusação e defesa do trágico compartilhado. Às avessas, o homicídio culposo, sob a égide do ciúme, quase beira a uma lembrança de Medeia inconsciente, em que a falha trágica a prende, incondicionalmente, à perna do marido. E outro mito quase se estabelece, que seja o da gestação protegida de Baco à própria carne (perna) de seu pai, Zeus, para salvação do filho amado de perigos externos e da força de armadilhas do destino mortal.

“Agridoce”, com o Piauhy Estúdio das Artes, teve leitura eficiente, compreensão cênica clara e ato determinante de intérpretes que inflexionam humanidade falha e defeituosa para os testes de vida que são apresentados pelo autor e visitados pela diretora e atores em cena. David Santos e Érica Smith defendem seu trabalho com concentrada e quente emoção de fingir para efeito de convencimento. Leem com perspicácia e sensibilidade autuada na razão. Sabem ser feliz na cena.

Silmara Silva não despreza seu próprio tempo de atriz e define uma direção que compõe arte em dose decantada à poção mágica do teatro do aprender a aprender. O construtivismo da dialética em pedagogia do amor à cena e ao ato de representar o teatro que se nos representa em competência. O faz muito bem.

No segundo momento da noite, Jean Pessoa, nos brindou com uma bela cena clownesca. Uma cadeira, um tarol e a arte do ator para risos econômicos e trágicos de ironias refinadas. Sua intervenção, entremeios de homem, místico de jeca e gentes simples que nos convence no fazer rir em brincadeiras circenses de memórias afetivas.

Também vendia, na noite, seu outro peixe. A obra infantil publicada “A viagem da mochila”. O livro estava à disposição ao público e enquanto apresentou a obra, apresentou-se em sua melhor performance, a do palhaço que nos faz refletir e bem rir.





(Jean Pessoa e sua obra infantil publicada/divulgação)

No Dia da Poesia, o Bar do Clube dos Diários fez a boa diferença. Manteve cultura, arte, poesia, licenças lúdicas e encontro com o fazer cultural que a Teresina se exige. A JV Produções que Vingam deu seu recado.

E, na esteira de data culturalo Coletivo Piauhy Estúdio das Artes compôs mais uma boa Leitura Dramática, com seu olhar para “Agridoce”, de Zen Salles. E Jean Pessoa riu, fazendo rir a quem veio curtir o Dia da Poesia.


Foi um 14 de Março marcado a ferro e calor da licença em poéticas manifestações culturais de que a cidade não pode prescindir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário