quarta-feira, 29 de maio de 2013

Vinte anos dancing

Vinte anos dancing
por maneco nascimento


Ninguém chega aos vinte anos impunemente, nem mesmo os que acreditam na eternidade física. Da efeméride da matéria humana à consciência do espírito integrativo, “tudo na vida vale a pena, se a alma não é pequena”, teria dito o poeta lusitano moderno.

De sorte é que todos buscam a maioridade para depois, em nostalgia de decaído, regurgitar os tempos de menos gorduras localizadas, nenhuma herança da gravidade e articulações livres das rigidezes e dominadoras das aberturas anatômicas, porque quem não dança, dança. Sempre há um palco da vida a ser experienciado.

Mas nem tudo são ironias ou excesso de inversão da felicidade quente. As memórias são vínculos intrínsecos das histórias que legam à posteridade os heróis e suas batalhas, os mitos e suas lendárias construções sociais, o artista e seu carroção de festa, alegria, arte e fingimento de reinventar-se a cada tijolinho amarelo na estrada do país das maravilhas do fazer artístico.


Com ousadia apregoada e exemplos de iconografia registrados o Balé da Cidade de Teresina – BCT completa 20 anos, ousando na dança, com exposição fotográfica na Galeria de Arte Lucílio Albuquerque – Casa da Cultura de Teresina – CCT. O encontro de abertura dos trabalhos festivos, com fatos e fotos, deu-se às 19h, do dia 17 de maio  e segue até 20 de junho de 2013.


(20 Anos BCT/foto: diariodopovo.pi.gov.br)


Por lá, nesse refluxo de memórias, se reencontraram velhos amigos, antigos conhecidos, outros desafetos e vida que segue, pois assim caminha a humanidade nesse caldeirão de ritos e vaidades desenhadas e, por vezes, reveladas por quem semeou terras desejosas e nem sempre aprendeu a separar o trigo do joio nesse universo das verves antropológicas da obra cunhada.
Dos vinte anos dancing, já laureados do BCT, lembro de palcos em que vi expressões e corpos ardentes contando as pérolas colhidas do pântano. Sidh Ribeiro, Ivoneide Ribeiro, Máurea Oliveira, Nazilene Barbosa, Luzia Amélia, Weyla Carvalho, Ana Melo, Adriana Araújo, Kelly Lustosa, Janaína Lobo, Janayra Oliveira, Leonardo Barbosa, Jandira Leite, Fernando Freitas, Roberto Freitas, Eugênio Rêgo, Willa Machado, Lívio César, João Brito, Zé Filho, Sheila Ribeiro, Kleyton Silva (in memoriam), Márcio Gomes, Marcelinho Lopes , Temístocles Reis, Adriano Abreu, Samuel Alves, José Nascimento, Kleomarny di Santis, entre outros, e a novíssima geração que arma trincheira aos próximos 20 séculos de história a serem dançados.


A Exposição "20 Anos do Balé da Cidade de Teresina - Ousando na Dança" é de registro fotográfico, mas o mote é de flagrante coreográfico, logo não custa lembrar e citar o exposto. De 1993 a 2013, a curadoria do artista plástico Tupy apresentou um gostinho de “quem não viu aquela obra?”. Quem viu imerge no calor da música, da dramaturgia, da linguística de corpos eficientizada ao dance quem puder, é imperativo dançar. 
(20 Anos BCT/foto: fcmc.pi.gov.br)

Da coreografia à fotografia pode-se passear pelas peças memoráveis: “Crispim, a Lenda” (1993), de Sidh Ribeiro e foto sem registro de autor; “Fuga” (1995), belo trabalho de Dongo Monteiro e foto de Edson Clóvis; “Há Casos”, “Malandragem” e “De repente um tango”, todas de 1995, coreografadas por Sidh Ribeiro e fotografadas por  Reginaldo Azevedo; “Quase Deus” (1996), um ótimo Marcelo Evelin e seu método, com fotografia de Margareth Leite.
Ainda de 1996, “Duelo” e “Missa de Cura”, de Sidh Ribeiro, com registro de Reginaldo Azevedo. A obra + expressiva de Sidh Ribeiro marca os passos de 1997. A coreografia “E por Nós o Silêncio”, expressionismo alemão de pureza sidhribeiriana. A foto de Reginaldo Azevedo.

1999 trouxe “Vida”, de Sidh Ribeiro, registrada por Edson Clóvis. Sidh Ribeiro revisita o nordeste brasileiro e suas singularidades do memorial popular como só nordestino sabe interpretar, na obra “Fantasia Nordestina” (2000), foto de João Rufino. O bailarino coreógrafo Roberto Freitas apresentou duas criações em 2007, “Celebração”, foto de João Rufino e “Entre Tantos”, para registro de Neto Vasconcelos.

Ainda de 2007, a nova geração de coreógrafos da BCT propôs seu rito de passagem e José Nascimento assinou “Nar Brenha”, clicada por João Rufino. Se não falamos a mesma língua, ao menos buscamos embrenhar no diverso da linguística apropriada da dança e, sim, os corpos falam por si mesmos. “Só não falamos a mesma língua” (2010), de Nazilene Barbosa, compôs a boa cena àquele ano. A foto, de Victor Gabriel.

Para o ano de 2012, dois registros da memória da dança do BCT. “Enamorados”, com coreografia atribuída a Ricardo Scheir e “Carmem – o Ciúme”, de Nazilene Barbosa, numa releitura aplicada de Carmem, de Bizet. O registro fotográfico é de Victor Gabriel.

Para quem precisa de memória e não nega a própria história, a Exposição "20 Anos, do Balé da Cidade de Teresina - Ousando na Dança", é um bom refresco. Tá lá a obra exprimida em telões, em vezes de fatos, fotos de amor. Registros à dança por aqui celebrada e resvalada ao nosso livro de atenções. E, se o BCT não existisse, seria inventado porque a cidade não pode prescindir dessa companhia de dança.

Vinte anos dancing toda a cidade que fala pelas articulações de corpos presentes. Visite, compareça e não reforce o senso comum de que Teresina não tem cultura. A Exposição "20 Anos do BCT - Ousando na Dança", na Casa da Cultura de Teresina, até 20 de junho de 2013, é bola dentro!  
 



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