terça-feira, 14 de maio de 2013

Diz-se coquetes


Diz-se coquetes
por maneco nascimento

[Nasceu no bar o nome de um dos grupos teatrais mais revolucionários que já tivemos. A paródia ao norte-americano The Coquette teve inspiração no petisco sobre a mesa. “Como croquete, todo mundo é feito de carne”,
pensaram. A música Tá Boa, Santa? define: Não sou dama nem valete / Eu sou um Dzi Croquette.

Os 13 homens peludos no palco, ora trajando vestidos, ora apenas enormes asas de borboletas, sempre com muita maquiagem e brilho, tinham algo de andrógino. Uniam textos cômicos a incríveis números de dança, combinando linguagem de cabaré com samba e bossa nova. O dançarino norte-americano Lennie Dale, saído da Broadway, encontrou no grupo seu paraíso e acrescentou profissionalismo aos corpos talentosos.]
(Dzi Croquettes colocaram purpurina nos palcos e na vida: Natália Pesciotta/www.almanaquebrasil.com.br/acesso 14.05.2013 às 19h48)

 (Dzi Croquettes/ foto original colhida de www.almanaquebrasil.com.br)

Muitos exemplos de expressão, arte e cultura deliberada e rica de alegria contagiante vieram depois desse furacão de teatro e música que ganhou os palcos e cabarés cariocas e somaram exemplos de tietes brasileiras que, futuramente, domaram os anos 80 com muita irreverência e talentos confirmados.

 [Os Dzi Croquettes lotaram cabarés e teatros cariocas em uma época de repressão. Tiveram até as primeiras tietes brasileiras. Pudera: foram eles que criaram o termo para as garotas que não perdiam uma apresentação. As mais fiéis chegaram a formar um grupo secundário – quem não lembra ou nunca ouviu falar de As Frenéticas? “Eu, hein?”, “Meu amor, te contei...” “Já foi!”. A turma que participava da cena usava as gírias próprias do vocabulário “dzi”.

Em documentário sobre a trupe, Gilberto Gil defende que talvez tenha sido “a primeira manifestação do movimento gay brasileiro, ao mesmo tempo com discurso político”. As bandeiras ali eram da inovação, revolução de comportamento, libertação sexual.]
(Idem)

Por aqui, na terra filha do sol do equador, também há os sinais de que memórias se repetem ou se reproduzem, mesmo que pouco se conheça da história brasileira dos musicais nacionais e das heróicas manifestações crítico reflexivas, que sejam de protestos, que sejam de anarquias artísticas que representassem o diverso brasis e seu olhar de revisita.

 (Elenco do Pink - o musical/foto colhida de registro de estúdio Revista Meio Norte)

 Nos dias 11 e 12 de maio de 2013, às 20 horas, no palco do Theatro 4 de Setembro,  a Cia. de negócios cênicos e outros movimentos musicais, a Tribo de Teatro, estreou sua + nova ação de dramaturgias deliberadas na cidade.”Pink – o musical” apontou sua performance como “um grande elenco numa comédia colorida”, alardeia o marketing de “business show”.

Baseado em livro escrito por Franklin Pires, “As memórias Cor de rosa”, o espetáculo, segundo material de divulgação, é uma tragicomédia muito envolvente. O enredo tem como mote a personagem Alex. Que seria um super estilo e que adora acompanhar o lance da moda e se envolver em aventuras românticas.

A adaptação dramatúrgica, direção e interpretação da personagem chave, ao musical, estão à assinatura de Franklin Pires. Ele divide cena com Danilo França, José Carlos, Márcio Brytho, Bruno Lima, Gleyciane Pires, Alinie Moura, Edivan Alves, Samuel Alves (movimentos coreográficos) et all.

A montagem carrega humor, picardia cáustica e texto que incorre ao riso e ao entretenimento da platéia que acorre ao gargarejo. Com geografia de marcas e estilo próprio da partitura de musicais, o espetáculo “Pink – o musical” está no borderô histórico de F. Pires que já mantém uma memória de insistência nessa linguagem.

Para essa nova insurreição parece ter concorrido contra o tempo e não atingiu ainda o seu melhor desse teatro que já prospectou certa maturação, noutros espetáculos vistos. Talvez a apresentação do dia 12 de maio, noite em que prestigiei a iniciativa, não tenha sido a melhor da pauta, havia um quê de exaspero em manter a cena viva, mesmo quando o som não ajudou em 80% da apresentação. Ruídos na comunicação transformaram a performance em ruidosa falha de equipamento em som da Casa e, naturalmente, de comprometimento do esforço do elenco.

Mas, ainda assim, havia uma virtuose da força do ator que insistia em cantar, dançar e representar em momento que beirou a amadora função do ato premeditado. Danilo França consegue, caracteristicamente, apresentar inflexões e intenções que cumpriram melhor seu papel, seja de “dragqueen”, seja do tipo bem à vontade no tipo de tradição. 
 
 (Elenco do Pink - o musical/foto colhida de registro de estúdio Revista Meio Norte)

Gleyciane Pires tentou criar uma mãe entre “lunática” e desesperada sem conseqüência de causa e obstruiu a comunicação na voz de taquara rachada em dia de tempestade sinuosa. Talvez limpar a voz, esclareça o texto e dê tranqüilidade de compor melhor a personagem mãe. Franklin Pires está à vontade no tipo que o satisfaz e domina à cena e corrobora com a performance centrada no complexo dos espelhos. Não ofende, também não surpreende.

Márcio Brytho não fugiu do seu comum e José Carlos afeta, com qualidade projetada, a dramaturgia solicitada. Bruno Lima, o “pião” do brinquedo aplicado compõe os “boys” que ficam no gracejo e histrionismo das marcas de humor franklinpireano. Alinie Moura despeja seu potencial de boa atriz e joga sinais de brincadeiras e exercícios ao fingimento da mímesis do escatológico humorado. Edivan Alves, muito neutro. Quase um improviso, sem o tranqüilo acento no ponto enredado.

Como definiu Franklin Pires, ao final do espetáculo, seria uma peça em que se discute o amor e o amor não tem sexo, nem está limitado a determinados padrões sexuais. E, acrescentou que, no momento em que parece haver “uma inquisição”, no Brasil, acerca das determinações naturais de orientações sexuais, a montagem de “Pink...” vem discutir liberdades, arbítrio e domínio das próprias escolhas.
 
 (arte cartaz Pink - o musical)

“Pink – o musical” diz-se coquetes, porque na fantasia do brilho e purpurina ao palco e à livre iniciativa de discutir o próprio sexo das personagens vividas, reitera a mímesis do cotidiano de qualquer cidadão que, em mundo de minorias, se autoafirma através da arte e cultura, sem panfletarismo, ou discurso empastelado de falsas promessas. Coquetes quando necessário e políticos por necessidade de existir e montar a própria história. Pink, sim!

Nenhum comentário:

Postar um comentário