Vidas de improviso
por maneco nascimento
por maneco nascimento
A cada sol um novo leão abatido. Politicamente incorreto, mesmo quando o felino não representava qualquer ameaça ao homem (genérico). Depois vieram as entradas e bandeiras ao habitat natural adentro e ai adveio a cadeia natural e física de ação e reação.
Mas, saindo da realidade
e incorrendo às metáforas e eufemismos, o eterno retorno é de controlar um novo
leão a cada despertar, mesmo que seja de pelúcia. E, no movimento de teatro
amador local não é muito diferente, é combate pra gente ver.
No último dia 8 de maio, às 20 horas, no palco do Theatro 4 de Setembro, “Os Sobreviventes” nadaram mar de fingimento afora e, espetacularmente, somaram esforços para não morrer à praia.
No último dia 8 de maio, às 20 horas, no palco do Theatro 4 de Setembro, “Os Sobreviventes” nadaram mar de fingimento afora e, espetacularmente, somaram esforços para não morrer à praia.
Uma heróica função do teatro da cidade que repercute
insistência na manutenção do exercício do exercício de ocupação de palcos e
cena piauienses. O histórico vem de integrantes da Oficina Permanente de Teatro
“Procópio Ferreira”, há 25 anos no ar da graça de facilitação do ato de
encenar.
A dramaturgia à nova empreitada detém quatro meses de pesquisa para a adaptação livre, aos palcos, do conto “Os Sobreviventes”, do escritor e jornalista Caio Fernando Abreu. As personagens da vida real Kaio Rodrigues e Ronyere Ferreira (adaptadores do texto e diretores de cena). A supervisão do ato, propriamente, vem de Luciano Brandão (diretor e encenador da Procópio Ferreira). Um desafio diferenciado por reunir obra rica de discurso político e contextual que perpassa por período da ditadura brasileira dos anos 60.
(Os Sobreviventes: Kaio Rodrigues & Ronyere Ferreira/foto divulgação)
A dramaturgia à nova empreitada detém quatro meses de pesquisa para a adaptação livre, aos palcos, do conto “Os Sobreviventes”, do escritor e jornalista Caio Fernando Abreu. As personagens da vida real Kaio Rodrigues e Ronyere Ferreira (adaptadores do texto e diretores de cena). A supervisão do ato, propriamente, vem de Luciano Brandão (diretor e encenador da Procópio Ferreira). Um desafio diferenciado por reunir obra rica de discurso político e contextual que perpassa por período da ditadura brasileira dos anos 60.
(Os Sobreviventes: Kaio Rodrigues & Ronyere Ferreira/foto divulgação)
Numa revisão do próprio passado, uma das
personagens dramáticas passeia pela memória e fatos marcantes da vida pessoal,
perpassando por circunstâncias políticas e culturais de sua geração. Local de
apresentação dessas memórias, um apartamento. Divide suas memórias com um amigo
de juventude. Presente, passado, rompimento de sonhos e expectativas
fracassadas são digeridas ao longo da encenação expiada. Um tete-a-tete de
sonhos, ilusões juvenis, amores e paixões alimentadas e desfeitas ao sabor de
vinagre servido qual vinho de safra de “abundâncias” versejadas.
(Os Sobreviventes: arte/foto divulgação)
Da dramaturgia
localizada, de estudantes de teatro e aprendizes de feiticeiro, “Os
Sobreviventes”, de Kaio Rodrigues e Ronyere Ferreira, estão na esteira de
possíveis melhores acertos. Cumprem o “métier” a contento e mantêm coragem e
determinação em apresentar-se ao desempenho de atração das identidades e
reforço de novas perspectivas de enxergar um mundo, fora do senso comum, que o
autor já discutia e legou à posteridade de novos olhares.
Da cenografia, um sofá, uma mesinha de centro de sala, uma luminária de centro esquerda de cena e duas personagens à procura da própria existência confundida com o caos e desconstrução da natureza humana, traduzida pelos papéis, jornais, discos e livros servindo de tapete e “sujeira” na mímesis de espíritos em busca de novo oxigênio.
(Os Sobreviventes: arte/foto divulgação)
A luz da montagem atende a
simplicidade do mapeado e fica na média de ilustrar os confusos e conflituosos
sentimentos, em apresentação variável ao contido e ao exagero das expressões na
cena da juventude que essa brisa conta. Os figurinos parecem optar pelo lugar comum de qualquer jovem, em
qualquer lugar do mundo que caracterize vestir-se para estar apresentável para
encontros, reuniões e lavagem de roupa embolorada.
As personagens estão como a princesa descalça e pisam o chão do seu céu despedaçado. Da simplicidade dos figurinos aos pés descalços, uma opção em deter discurso que não se ampare em teatro morto. Brincam de fingimento sem perder as teorias e vidas de improviso cênicos.
Das atuações, levam consigo os próprios esforços em fazerem-se entender e os ruídos da comunicação não comprometem o todo. Os textos do autor na boca dos atores estão dentro da clareza linguística e dos propósitos frasais sintáticos e até semânticos de melhor expressão. Já para as inflexões e projeções das linhas, entrelinhas e para além das linhasainda encontram pequena pretensão. Por parecer que queiram deixar o dialogismo mais natural, talvez pequem por magearem a compreensão mais delicada e visceral que há no olho do furacão caiofernandoabreuniano.
Do potencial artístico, as personagens Kaio Rodrigues e Ronyere Ferreira adentram no fundo lago escuro caiofernadoabreuniano e saem sem afogar-se nas próprias vaidades, revigoram ar aos pulmões das personagens do autor. Kaio Rodrigues descobre-se em Caio F. A. e parece relaxar, em amor incondicional, pela obra consentida de drama do autor. Sem desdém, nem inapropriação do discurso impresso, talvez escolha, no seu teatro distanciado, maneira de exprimir sua apreensão a Caio F. Abreu. Na repetição talvez mature personagens + ouvintes das próprias falas sociais.
Ronyere Ferreira aponta potencial de ator bastante destacável. Postura, tônus, silêncios e barulhos concentrados em atomização dramática na expansão de sentimentos dissecados. Embevece a recepção com um certo cuidado em expressar seu texto e suas memórias afetivas, atraídas à ação dramatúrgica acercada de acuidade estética desejada e inspirada nas próprias experiências de palcos iniciáticos.
(Os Sobreviventes: arte/foto divulgação)
Quem vê de fora,
percebe que a supervisão dramatúrgica deixou a livre arbítrio os desejos dos
novos atores que se autodirigem e brincam de felicidade cênica. As vidas de
improviso e os exercícios de improvisão trazidos à ação dramática ainda
esbarram na distanciada visão da mora. Os alinhavos e franjas dramáticos
parecem merecer um último ponto para que as pontas, da peça, soltas não
comprometam toda a malha da tessitura do drama aplicado.
“Os Sobreviventes”, de Kaio Rodrigues e Ronyere Ferreira, para obra de Caio Fernando Abreu dormem com o autor e despertam cena que não desmerece o teatro local e retroalimenta os ritos de passagem franca. Ritualizam arte e cultura revisitada para feitos da prática do fingimento.
Finge-se bem, valendo à pena, quando a alma do teatro não é pequena. Um leão ruge na esquina, os armeiros estão no “front” e começam a aquecer o sangue que doam aos animais que espiam “Os Sobreviventes”.
“Os Sobreviventes”, de Kaio Rodrigues e Ronyere Ferreira, para obra de Caio Fernando Abreu dormem com o autor e despertam cena que não desmerece o teatro local e retroalimenta os ritos de passagem franca. Ritualizam arte e cultura revisitada para feitos da prática do fingimento.
Finge-se bem, valendo à pena, quando a alma do teatro não é pequena. Um leão ruge na esquina, os armeiros estão no “front” e começam a aquecer o sangue que doam aos animais que espiam “Os Sobreviventes”.
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