quinta-feira, 12 de maio de 2016

Luiz, Holly Melodia!

é canção brasileira
por maneco nascimento

Entre outras pérolas do Ébano, "Eu choro tanto me escondo e não digo/Viro um farrapo tento suicídio/Com caco de telha com caco de vidro (...)", Luiz abriu o peito em Melodias que guardam as melhores memórias musicais do negro gato de arrepiar.

Luiz Melodia desceu o asfalto carioca e chegou a Teresina para + uma vez encantar a cidade com sua voz e tempo maturado de vinho envelhecido, em carvalho do jardim do Estácio, à canção brasileira. Dia 10 de maio de 2016, o Projeto Seis&Meia cumpriu + uma agenda do cancioneiro nacional. Luiz Melodia e Gomes Brasil + Renato Piau fizeram a agenda da noite, no Theatro 4 de Setembro.

Antes de Melodia mostrar-se o rei que é para os sambas soul, rock, blues e mpb ampliada, o nosso Gomes Brasil fez as vezes de recepcionar o Luiz. Grandes shows, grandes vozes e o universo conspirando, em favor de que tudo fica bem quando começa bem. Começou bem e acabou melhor ainda.

(Gomes e parceiros brilharam +/fotos: Elizângela Oliveira)

Gomes Brasil, acompanhado pela banda base 086 Trio (Alexandre Rabelo Jr., Bruno Moreno e Lívio Nascimento), foi determinante de sua origem musical e história construída à força da música e canção de Teresina. Natural do bairro Monte Castelo, zona sul, Brasil amadureceu a arte de bem cantar e mandou bronca, quando sua vez chegou, no Projeto Seis&Meia, porque na cidade e Brasil ele já se fez bamba.

(grande público de Gomes/fotos: Elizângela Oliveira)

Ainda compuseram o tempo de Gomes, no Seis&Meia, outros parceiros de palcos que encorparam o Show "men black voice" Brasil daqui: Mister Tiago Rubems (back vocal), Bicho Rei (percussão) e James Brito, em participação especial. Agregador e generoso, para luzes de arte e talento da canção, Gomes Brasil esteve muito bem acompanhado, obrigado, e + ninguém poderia tão bem abrir o show de Luiz Melodia.

Ou sua sorte de ser escolhido ao privilégio e ou sua força de artista fecharam a licença de ser a Estrela da cidade que recepcionou a Estrela do Estácio. Uma senhora, já de idade, na plateia de Gomes Brasil perguntou a um amigo meu: "Esse rapaz é daqui?". Resposta confirmada sobre a prata da casa.

O Projeto Seis&Meia tem função, também, de abrir visibilidade  a artistas que vivem da noite, mas que determinado público só poderá conhecê-los, em inciativas como estas que misturam as plateias e causam curiosidade a quem não frequenta outros equipamentos culturais, onde profissionais da música constroem nome.

Depois do "furioso" furacão Gomes, veio o grande Luiz de doces Melodias samba soul inestimáveis. Acompanhado pela guitarra selvagem de Renato Piau, outro piuiense fera, o Negro Gato arrepiou e fez-se em terreiro de casa.
A voz inconfundível, leve, livre e solta às variações melódicas, improvisos e firulas afiadas em afinados vocais, concentravam um certo prazer, doado a seu público, e uma vida amalgamada na velha canção brasileira que sempre aprendemos a bem ouvir.

Lembrou da amiga e contemporânea, a cantora piauiense Lena Rios, com quem conviveu no início da carreira no Rio de Janeiro. Reviveu as memórias da canção e de gravações em estúdio, com artistas piauienses, e da saudade e ligação que a cidade lhe traz, de amigos, parceiros, do calor e do calor humano dos teresinenses que sempre o receberam tão bem e + uma outra vez.


Apresentou seu parceiro de estrada e de palco, Renato Piau, e juntos armaram uma inestimável troca de arte cúmplice e detalhada na amizade e parceria construídas,  ao longo da carreira que os aproximou pela música.

Carmem Carvalho comentou comigo o quanto era bom ouvir a música original, na voz do próprio autor, para se desligar de covers que "querem imitar o cantor". Ela tinha, tem razão. Nada como ouvir Melodia desfiando seu maravilhoso rosário de rezas e prendas e doces pérolas do próprio cancioneiro.

(Melodia e Piau rezam força da canção brasileira/fotos: E. Oliveira)

Luiz Melodia fez um show, em três partes. A primeira onde apresentou também música nova e impressa no novo discos e + outras que fizeram a história de suas belas composições.

Deu uma pausa e deixou Renato Piau, segurando a onda, enquanto ia degustar uma taça de vinho branco. Piau apresentou seu dedilhar precioso das guitarras imbuídas de sinceros lamentos, em cordas de aço. Seu nome, sua lei e ordem de compor, cantar e afiar suas cordas raras.

Melodia voltou, conversou, rememorou histórias dos parceiros ali em palco e quando cantou + afiançou beleza aos ouvidos atentos da plateia e vieram "Farrapo Humano", "Fadas", "Estácio, Holly Estácio", "Magrelinha" e toda a sua inspiração memorável, em composições peroladas da oficina poética do velho Luiz.


O terceiro momento do show, a hora do bis, Melodia ao calor poético e (in)discreto charme de muito cantar, manteve o cantor e compositor brasileiro sempre à vontade e feliz, em nos brindar com sua arte. Mais de duas horas de felicidade dividida com a plateia seleta, mistura de gerações e que respondia em coro, a cada canção revisitada.

(dueto em grande estilo reggae soul/fotos: E. Oliveira)

Gomes Brasil, chamado ao palco para interagir com Luiz e Piau, arguiu um reggae soul pancada. Um concentrado na trinca de ases ali reunida. Melodia deixou Gomes dar o recado, generosidade indisfarçável do Ébano para com Brasil. E, Gomes foi + feliz ali que durante todo o show que já fora mais. Seu vozeirão dialogado com o suave Melodia inconfundível rendeu um toque de Midas à canção. Todo orgulho de boa arte fez-se sentir naquele encontro de licenças musicais.

E depois + Melodia para + prazeres da canção debulhados. "Codinome Beija-Flor"(de Reinaldo Arias, Cazuza e Ezequiel Neves) não poderia faltar. Outras raridades, do artista do artista do Morro do Estácio, alinhadas ao seu timbre melodiano passou e ficou pelos ouvidos da plateia. Luiz encerrou sua estada no Seis&Meia com "Negro Gato".

Luiz Melodia foi mesmo de arrepiar. Grande show, senão um dos melhores dessa nova roupagem do Projeto Seis&Meia. Ficou "pau a pau", com o dezembro de 2015 que trouxe Mart'nália. Para quem não mede esforços para ver seu artista preferido, não houve arrependimento. Tudo na medida, para caco de telha, para caco de vidro, em licenças poético-musicais.

Viva Gomes Brasil!
Salve, Melodia!
Evoé, Piau!
Esse Seis&Meia é quente paixão que não se esgota e fere o espírito, em suave presença, pela arte brasileira da canção de memória irrevogável.

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