e um Brasil a descoberto
por maneco nascimento
Com o mote "A verdade está lá fora" uma série americana de muito sucesso abria curiosidade e discussão acerca do mundo "desconhecido", além da atmosfera terrestre. Era o fascinante "Arquivo X".
Salvo verdade e mentiras guardadas nos porões dos detentores do poder, a série cumpriu seu papel e, talvez, mais uma vez a ficção antecipa verdades sobre nossas cabeças. Mas, qualquer semelhança com fatos reais, terá sido mera coincidência, alegam os ficcionistas em proteção da criação, criador e criaturas.
Mas a reflexão que trago, por ora, não é sobre os mistérios do espaço sideral, mas sobre a total falta de mistérios e segredos que pululam na mídia, nas redes sociais, nos bate bocas virtuais, nos grandes conglomerados econômicos e de imprensa que detêm o falso enigma e as "verdades" da política, economia e negócios de um estado brasileiro imposto por golpe disfarçado.
O quarto poder, confundido com os outros três que contextualizam o momento brasileiro, dita a lição de cor a ser apreendida pelos desavisados. De sorte é que nem toda a mídia, nem todo profissional da área de comunicação social, jornalismo e imprensa, em seus matizes de atuação, estão submergidos na unanimidade dirigida.
No momento sócio político brasileiro, de ditames confirmados por anti-heróis, ou inteiros dos sindicatos de ladrões, em partidos concentrados às pernas de polvo, vive-se exemplos de uma forjada saída para o + obscuro que poderá viver o brasileiro, numa ditadura civil de premiação do erro.
Há, e isso é fato a descoberto, nessa hora em que se armou a queda da Presidente do Brasil, pelo elogio do cinismo, a contravenção de direitos democráticos das urnas, nunca engolidos por derrotados, e o esforço concentrado de uma grande parte de congressistas ficha enlameada em cumprir um ritual de vitória sobre o estado democrático.
Mas há, também, uma brecha a exemplos da contra cultura do impeachment armado à Presidente, aqui e alhures. A verdade ainda habita aqui, para que não percamos toda a ternura de natureza humana.
A verdade, também, está lá fora, onde não pode ser contaminada pela imprensa nacional das direitas conservadoras e da natureza emplumada da burguesia brasileira, sem qualquer charme. E é dessa verdade que trata o jornal britânico "O Guardião".
Um artigo publicado por David Miranda, no The Guardian, provocou forte reação aos mimados herdeiros da Quimera e em suas cabeças enfurecidas, nascidas do ninho das lustrosas Organizações Globo. Miranda, no arquétipo de Belerofonte, aplicou forte tacada no corpus do monstro. A reprodução fiel de seu texto é para que alguns brasis reflitam e fujam do óbvio platinado.
(herói mitológico estoca a fera/reprodução)
Depois de ser citada em texto do The Guardian que
trata do que está por trás do impeachment de Dilma Rousseff no Brasil, a Rede
Globo exigiu um direito de resposta, mas recebeu o desprezo do jornal britânico
(...)
Abaixo,
leia a íntegra do texto que enfureceu a família Marinho:
A história da crise política no Brasil, e a mudança
rápida da perspectiva global em torno dela, começa pela sua mídia nacional. A
imprensa e as emissoras de TV dominantes no país estão nas mãos de um pequeno
grupo de famílias, entre as mais ricas do Brasil, e são claramente
conservadoras. Por décadas, esses meios de comunicação têm sido usados em favor
dos ricos brasileiros, assegurando que a grande desigualdade social (e a
irregularidade política que a causa) permanecesse a mesma.
Aliás, a maioria dos grandes grupos de mídia atuais –
que aparentam ser respeitáveis para quem é de fora – apoiaram o golpe militar
de 1964 que trouxe duas décadas de uma ditadura de direita e enriqueceu ainda
mais as oligarquias do país. Esse evento histórico chave ainda joga uma sombra
sobre a identidade e política do país. Essas corporações – lideradas pelos
múltiplos braços midiáticos das Organizações Globo – anunciaram o golpe como um
ataque nobre à corrupção de um governo progressista democraticamente eleito.
Soa familiar?
Por um ano, esses mesmos grupos midiáticos têm vendido
uma narrativa atraente: uma população insatisfeita, impulsionada pela fúria
contra um governo corrupto, se organiza e demanda a derrubada da primeira
presidente mulher do Brasil, Dilma Rousseff, e do Partido dos Trabalhadores
(PT). O mundo viu inúmeras imagens de grandes multidões protestando nas ruas,
uma visão sempre inspiradora.
Mas o que muitos fora do Brasil não viram foi que a
mídia plutocrática do país gastou meses incitando esses protestos (enquanto
pretendia apenas “cobri-los”). Os manifestantes não representavam nem de longe
a população do Brasil. Ao contrário, eles eram desproporcionalmente brancos e
ricos: as mesmas pessoas que se opuseram ao PT e seus programas de combate à
pobreza por duas décadas.
Aos poucos, o resto do mundo começou a ver além da
caricatura simples e bidimensional criada pela imprensa local, e a reconhecer
quem obterá o poder uma vez que Rousseff seja derrubada. Agora tornou-se claro
que a corrupção não é a razão de todo o esforço para retirar do cargo a
presidente reeleita do Brasil; na verdade, a corrupção é apenas o pretexto.
O partido de Dilma, de centro-esquerda, conseguiu a
presidência pela primeira vez em 2002, quando seu antecessor, Lula da Silva,
obteve uma vitória espetacular. Graças a sua popularidade e carisma, e
reforçada pela grande expansão econômica do Brasil durante seu mandato na
presidência, o PT ganhou quatro eleições presidenciais seguidas – incluindo a
vitória de Dilma em 2010 e, apenas 18 meses atrás, sua reeleição com 54 milhões
de votos.
A elite do país e seus grupos midiáticos fracassaram,
várias vezes, em seus esforços para derrotar o partido nas urnas. Mas
plutocratas não são conhecidos por aceitarem a derrota de forma gentil, ou por
jogarem de acordo com as regras. O que foram incapazes de conseguir
democraticamente, eles agora estão tentando alcançar de maneira
antidemocrática: agrupando uma mistura bizarra de políticos – evangélicos extremistas,
apoiadores da extrema direita que defendem a volta do regime militar, figuras
dos bastidores sem ideologia alguma – para simplesmente derrubarem ela do
cargo.
Inclusive, aqueles liderando a campanha pelo
impeachment dela e os que estão na linha sucessória do poder – principalmente o
inelegível Presidente da Câmara Eduardo Cunha – estão bem mais envolvidos em
escândalos de corrupção do que ela. Cunha foi pego ano passado com milhões de
dólares de subornos em contas secretas na Suíça, logo depois de ter mentido ao
negar no Congresso que tivesse contas no exterior. Cunha também aparece no
Panamá Papers, com provas de que agiu para esconder seus milhões ilícitos em
paraísos fiscais para não ser detectado e evitar responsabilidades fiscais.
É impossível marchar de forma convincente atrás de um
banner de “contra a corrupção” e “democracia” quando simultaneamente se
trabalha para instalar no poder algumas das figuras políticas mais corruptas e
antipáticas do país. Palavras não podem descrever o surrealismo de assistir a
votação no Congresso do pedido de impeachment para o Senado, enquanto um membro
evidentemente corrupto após o outro se endereçava a Cunha, proclamando com uma
expressão séria que votavam pela remoção de Dilma por causa da raiva que sentiam
da corrupção.
Como o The Guardian reportou: “Sim, votou Paulo Maluf,
que está na lista vermelha da Interpol por conspiração. Sim, votou Nilton
Capixaba, que é acusado de lavagem de dinheiro. ‘Pelo amor de Deus, sim!’
declarou Silas Câmara, que está sob investigação por forjar documentos e por
desvio de dinheiro público.”
Mas esses políticos abusaram da situação. Nem os mais
poderosos do Brasil podem convencer o mundo de que o impeachment de Dilma é
sobre combater a corrupção – seu esquema iria dar mais poder a políticos cujos
escândalos próprios destruiriam qualquer carreira em uma democracia saudável.
Um artigo do New York Times da semana passada reportou que
“60% dos 594 membros do Congresso brasileiro” – aqueles votando para a cassação
de Dilma- “enfrentam sérias acusações como suborno, fraude eleitoral,
desmatamento ilegal, sequestro e homicídio”. Por contraste, disse o artigo,
Rousseff “é uma espécie rara entre as principais figuras políticas do Brasil:
Ela não foi acusada de roubar para si mesma”.
O chocante espetáculo da Câmara dos Deputados
televisionado domingo passado recebeu atenção mundial devido a algumas
repulsivas (e reveladoras) afirmações dos defensores do impeachment. Um deles,
o proeminente congressista de direita Jair Bolsonaro – que muitos esperam que
concorra à presidência e em pesquisas recentes é o candidato líder entre os
brasileiros mais ricos – disse que estava votando em homenagem a um coronel que
violou os direitos humanos durante a ditadura militar e que foi um dos
torturadores responsáveis por Dilma. Seu filho, Eduardo, orgulhosamente dedicou
o voto aos “militares de 64” – aqueles que lideraram o golpe.
Até agora, os brasileiros têm direcionando sua atenção
exclusivamente para Rousseff, que está profundamente impopular devido à grave
recessão atual do país. Ninguém sabe como os brasileiros, especialmente as
classes mais pobres e trabalhadoras, irão reagir quando virem seu novo chefe de
estado recém-instalado: um vice-presidente pró-negócios, sem identidade e
manchado de corrupção que, segundo as pesquisas mostram, a maioria dos
brasileiros também querem que seja cassado.
O mais instável de tudo é que muitos – incluindo os
promotores e investigadores que tem promovido a varredura da corrupção – temem
que o real plano por trás do impeachment de Rousseff é botar um fim nas
investigações em andamento, assim protegendo a corrupção, invés de puni-la. Há
um risco real de que uma vez que ela seja cassada, a mídia brasileira não irá
mais se focar na corrupção, o interesse público irá se desmanchar, e as novas
facções de Brasília no poder estarão hábeis para explorar o apoio da maioria do
Congresso para paralisar as investigações e se protegerem.
Por fim, as elites políticas e a mídia do Brasil têm
brincado com os mecanismos da democracia. Isso é um jogo imprevisível e
perigoso para se jogar em qualquer lugar, porém mais ainda em uma democracia
tão jovem com uma história recente de instabilidade política e tirania, e onde
milhões estão furiosos com a crise econômica que enfrentam.]( http://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/04/rede-globo-pede-direito-de-resposta-ao-the-guardian-e-leva-fora)
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