rinha lúdica
por maneco nascimento
O que Girou por aqui, no último dia 14 de maio, vindo de
Goiânia, no Goiás, foi dança, ou +, nova dança. O espetáculo “Dúplice”, que se instalou no palco do Theatro 4 de Setembro, fez-se luz de cena, com os intérpretes criadores Rodrigo
Cruz e Rodrigo Cunha, numa montagem da Cia. Rodrigo Cruz.
Um duo, um dúplice, um “pas de deux”, um jogo de dupla, uma
briga de galos em rinha lúdica para dança, teatro, movimento em corpos falantes.
Disputa de partners, do ator para o bailarino e do bailarino ao ator, numa dinâmica inteira de partitura livre das amarras e discursos da dança, seja velha ou nova.
Disputa de partners, do ator para o bailarino e do bailarino ao ator, numa dinâmica inteira de partitura livre das amarras e discursos da dança, seja velha ou nova.
O que, aparentemente, poderia parecer lugar comum, vai
encorpando efeitos dramáticos de corpos e sons extraídos, vocalizados à
narrativa que compõe “Dúplice” e ganha uma inteireza de ações, formas, gestos,
planos de arquitetura do corpo em movimento que toma forma e ocupa espaços e
assimetriza a razão de bem dançar, despretensiosamente, eficiente e para tônus
humorado.
A disputa de força e espaço de atuação e atenção de
desenvolto número um, no jogo de quem dá +, os intérpretes criadores vão-se
revelando alegria, beleza estética de corpos comuns à coreografia encenada, ou
corpo falante em técnica e razão e sensibilidade ativadas por super gêmeos de
iguais e diferentes, nas emoções brincadas pela linguística coloquial, de
movimento e dança, mergulhada na simplicidade que gera complexo livre.
“Dúplice” opera carisma imediato com a recepção, ao passo
que vai desvendando memórias afetivas, brincadeiras de criança, “guerra de
tronos” no mundo d’infância, embate de machos por território alfa, brinquedo
“perigoso” de marcar terreno e hidratar o mapa das vidas “selvagens”, com o
mijo do poder e posses. Todas possíveis áreas de recepção livre.
O espetáculo consegue no terreno do lúdico, de vigor
criativo e essência estética de brigar de brincar de galo, alcançar feito de
manipular a técnica e estética da dança e deixá-las porteira aberta para
entendimento claro da nova dança experimentada na dramaturgia aplicada.
Risível, nunca apelativo. Concentrado, nunca careta. Brincado
e sério, sem perder o foco e a ternura, e ato criativo arbitrado pela alegria e
energia de intérpretes criadores e método de encenar a verdade de cada,
enquanto diálogo de dança escafandrada nas memórias e histórias da natureza do
homem (genérico), que atomiza arte e obra brechtniana de contar razão e
sensível, na cartografia teatral.
“Dúplice” é uma dupla surpresa. Um “pau a pau” no tatame,
“no amor e ódio” do exercício do fingimento aplicado à arte da dança creditada
ao coloquialismo expressivo das falas do corpo, sem cair na cartilha de
aparelho reprodutor de conteúdos.
Pedagogia construtiva de aprender a aprender na vivência de apreender o
gesto que fala + e define identidade e diálogo de cultura e arte de vida e
drama e cena viva.
A dupla goiana Girou, no Palco Dança, a quebra do paradigma da
dança. E a temporalidade e simultaneidade se encontram no eixo da linguagem e
escrevem, na partitura do corpo, vozes naturais, desconstroem mitos e incensam
o artístico arbitrado na inteligência e perspicácia de sujeito da própria
criação.
Como recepção senti felicidade, arrebatado cúmplice de "Dúplice".
Bravos!
fotos/imagem: (divulgação)
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