Ainda 29

quando a dança falou +
por maneco nascimento

Agendas para o dia 29 de abril, Dia Internacional da Dança, pipocaram na cidade e os diálogos hiperativaram o Dia. Houve quem achasse que não havia nada a comemorar, por considerar que não são oferecidas condições e políticas públicas ao desempenho da dança na cidade.

Houve, também, quem dissesse que Dia Internacional da Dança "é o meu 'C'". Lá o dele(a), porque o meu mesmo é só partícipe do corpo e, naturalmente, dança, quando o corpo "parla e parlare" em dança, aqui ou na Conchichina.

Mas, houve também quem abriu discussões positivas sobre a linguagem, em linguística do Corpo e reflexão do social, econômico e cultural. A ver:

[Pelo tempo do Dia da Dança, pode não haver tanto o que comemorar, mas de certo há muito o que conversar. Para quem é do universo da Dança ou se vê interessado nela, dá uma lidinha nos tópicos e chega. Estarei eu + Mariana Alves + Luzia Amélia +Marcelo Evelin como provocadores dessas conversas.
Entrada franca.

++ infos no eflyer abaixo e textão:

Um momento importante para dialogar, reconhecer os desafios, entender possibilidades e valorizar as potencialidades da Dança no desenvolvimento humano, cultural e econômico. Como parte das comemorações do dia que chama atenção para a Dança, serão realizados três encontros no decorrer das manhãs dos dias 28 e 29 de abril (quinta e sexta-feira), no auditório do SENAC localizado na av. Campos Sales.
No dia 28/04 serão dois momentos. O primeiro encontro ativa pontos sobre “O Produtor Cultural e seu Movimento na Dança”, ao levantar questões para um reconhecimento e potencialização deste lugar de mediação entre o artista e a comunidade (público, instituições, patrocinadores, parceiros, etc). A produção é uma prática específica que no Brasil é comumente acumulada com a prática do fazer artístico -- partamos dessa realidade para trocar informações e experiências, contribuindo para um amadurecimento das nossas ações e, especialmente, para uma elaboração a médio prazo do mercado local da dança e para a dança (..).
O segundo momento será mediado pela bailarina, professora e gestora de espaço de ensino em dança Mariana Alves, com o questionamento “Profissão: Professor de Dança”. Aqui propomos uma reflexão acerca das expectativas, desafios, inseguranças e necessidades inerentes ao exercício profissional no Ensino da dança atualmente, fomentando outras questões tanto pela ótica de quem inicia nesta área, quanto para quem promove espaços de formação para a dança. O objetivo é abrir um diálogo que servirá como base para o Seminário sobre a Formação em Dança no Piauí (...)
No dia 29/04 a manhã será integralmente dedicada ao debulhar junto uma conversa sobre “O Fazer Artístico da Dança Aqui, Agora”, onde serão levantados e analisados coletivamente aspectos do atual contexto Dança em Teresina-Piauí, (...) Este encontro será duplamente provocado pelos bailarinos, coreógrafos, pesquisadores e gestores em dança Luzia Amélia e Marcelo Evelin (...) 

Entidades que estão contribuindo para esta iniciativa: Com.Dança – Comunicação e articulação em dança  Campo | gestão e criação em arte contemporânea  Centro de Dança Mariana Alves  Fundação Cultural Monsenhor Chaves/PMT  Sesc PI] (na linha do tempo Regina Veloso 25 de abril próximo a Teresina, PI ·)

ou ainda,

[/Como que as coisas se transformam em corpo? (...) Luzia fala do Brasil como uma invenção. Marcelo traz desobediência civil. / conversa gestão em dança no senac /.]  (Layane Holanda com Luzia Amélia Marques e outras 2 pessoas. 29 de abril às 15:34 · Instagram ·)

(fotos/imagem: por Layane Holanda) 

e, para registro de memória da dança,

[Marcelo Evelin e Luzia Amélia Marques obrigada por hoje , pela generosidade de incluir o outro e também pelo rastro que vocês têm deixado no tempo ...] (Soraya Portela adicionou 2 novas fotos.

29 de abril às 15:15 · Teresina, PI · )

 (fotos/imagem: Soraya Portela) 

Os diálogos possíveis sobre, com, à dança e para além da dança se fizeram corpo, movimento, ações e leituras diversas, abertas, "perto dos corações selvagens" e, quando possível, longe do lago de cisnes ou d'outros ambientes fabulosos que não enxergam além da própria plumagem, ou pele lustrosa.

À noitinha, a dança continuou seu moto-contínuo de expressão e linguagem nas rubricas de criadores. Às 18 horas, na Galeria de Arte do Club dos Diários "Nonato Oliveira", a hora e a vez foi das meninas da Casa de Zabelê, com coreografias de Kiara Lima. 

Como na noite anterior, em que um duo de intérpretes criadores do Cordão Grupo de Dança discutiu a condição da mulher e seu salto social, o trabalho da Casa de Zabelê também trazia o tema mulher. Um coletivo de meninas-moças refletia a beleza, a vaidade, as mudanças no corpo e comportamento. A menina, a mulher, a liberdade de ser e estar no mundo de que se acercam.

Em contorno da dança e arte facilitada a interlocução pelo corpo ao diálogo possível, o grupo da Casa de Zabelê desempenhou uma dramaturgia que ora a mulher poderia estar representada pelo misto de menina, se descobrindo no reflexo; uma acepção à versão feminina de Narciso revelado; ou de Iara em seu tempo de bela e vaidosa. 

Leituras abertas às intérpretes, que chegam à recepção, do veio dramático que costuram na lição de cor, de forma econômica, delineada pelas marcas de desenho dramatizado, no concentrado da encenação. 

Os figurinos, meio licenciados ao estilo de cogumelo de ponta cabeça, na cor róseo/púrpuro; ou rabo de peixe (mãe d'água) deslizado no lago de cristal; ou pátio de princesas (cisnes na forma humana) completam-se com os salto altos, os que galgam as meninas, à maturidade da mulher da noite e da vida, que se lançam no círculo da vida real. Boa dança a ser vista e reflexionada.

Às 19 horas, já no palco do Theatro 4 de Setembro, o corpo falou pela tradição e clássico eficaz, limpo, preciso e de gestos imperiosos da escola de ballet reverberado a tantos e todos os exercícios e disciplinas aplicados à arte de bem dançar o gesto e linguísticas na forma do tradicional. 

Cícero Gomes (primeiro solista do Teatro Municipal do Rio de Janeiro) e Mel Oliveira (também solista do Municipal do Rio) foram + que preciosos minutos, ou segundos representados à força da dança na alegria e tônus de repercutir efeitos dramáticos. 

Mocinhos, donzelas, cisnes encantados e personagem solo de coro representativo da dramaturgia universal do clássico, os intérpretes em duo, ou solo, avançaram sobre a recepção, numa qualidade irreparável e sintética de beladança apropriada pela escola do clássico. Encheram os olhos de prazer pela dança apresentada.

Na contramão do clássico e, pela quebra do paradigma, em desconstrução da tradição incensada, vieram direto nas veias do contemporâneo vigoroso, (in)sutil e harmônico, de alegria e chorosa partitura, as meninas da nova dança.

Duas intérpretes criadoras (de São Paulo e Ceará) ofereceram + de meia hora de bom humor, criatividade, arbítrio concentrado no desmanche do óbvio e um vigor atomizado em dançar e carpir o velho e o novo e o novo nascido da conformidade do velho (Pound).

"Intérpretes em Crise", com Clarice Lima e Aline Bonamin, vai do menor ao + intenso econômico de provocar reações, quer sejam de curiosidade, estarrecimento, recusa, aceitação condicionada a gostar, ou não, porque na dança apresentada são geradas ação pensamento reflexão ideia do novo revirado, mergulho ao mito do eterno retorno, de público e artista. O  olhar-se para si mesmo e reconhecer-se, ou não na obra revelada ao ritual da cena.

Clarice e Aline, duas amazonas contemporâneas, desdançam ritos e loas aos deuses da dança, ou heróis da cartografia da linguagem impermeabilizada de memórias técnicas, afetivas, escolásticas, de regras e partituras oficiais. 

Desdizem a velha dança, enquanto dizem ao "curioso" da nova dança. Tempo, ritmo, desconstrução da pauta mimeógrafa, ou de reprodução carbonada, decifram outras rosetas e devoram novas assistências.

Os corpos falam pelo simples coreografado, pelo gesto (in)compulsivo, leve, solto, conclusivo aberto, livremente arbitrado pelo corpo, em corpus, atento e forte, ativo e (in)domável pelas fórmulas empoeiradas. 

Do limpo ao "sujo", do sólido desfeito no ar e da poeira que se mistura aos corpos suados e cola na pele objeto, da cena dramatizada, do sujeito dramático expiado. Da brincadeira séria, arteiras intérpretes criadoras que, de cabeças invertidas, recuperam o simétrico em assimetrias linguísticas consignadas ao novo em dança que "Parla"!

Variam sobre o mesmo tema e passeiam pelo azinhavre da dança, revirando-a e impulsionando outro olhar, de ora gracejo, de ora choro em gracejo, de matéria dividida e reagrupada a novo átomo. 

Quantificam arte e movimento, corpo e sentimento em neutro de revelar novas experimentações, experiências de sensível em oralidades de corpos. Belo expressionismo de economia e neutralidade estética.

O Dia Internacional da Dança gerou muitas falas, corpos expressivos na variação da metalinguagem do corpo, desde o dia 26 até 29 de abril, nos palcos daqui e alhures. O homem se fez oficial e para melhor registro de suas memórias culturais, registra dias culturais. Assim é a dança para a dança, desde as inscrições rupestres do cotidiano das memórias primitivas ao + urbano e contemporâneo do ato de dançar. 

(plateia do Dia Internacional da Dança/foto: Soraya Portela)

Então dancemos, o quanto pudermos e quisermos, mesmo quando não se dance. Quem não aprendeu a dançar que aprendesse. É do corpo, da alma, da natureza humana, seja hoje, amanhã, dia 29 de abril, ou 31 de fevereiro da era paleozóica, ou ainda dia zero do contexto Druida.

Diálogos são sempre possíveis e  a diferença sempre estará nas leituras abertas que geram o diverso.

Evoé, corpos em dança!