quarta-feira, 27 de abril de 2016

Flor da alegria

cena perfumada em "Flor de Macambira"
por maneco nascimento

A Praça do Liceu (Landry Sales) recebeu a alegria nordestina, da Paraíba, na noite do dia 25 de abril, às 19 horas. O espetáculo histriônico ao pé direito para as farsas felizes, uma montagem do Grupo Ser Tão de Teatro que girou  cena, em doce felicidade de representar a arte e a cultura popular, aos vieses de dramaturgias aplicadas à cena na rua.


As músicas tradicionais, num mexido caldeirão das cirandas, marujadas, cavalhadas, modinhas populares, romances de heranças ibéricas em memórias medievas oralizadas, festejos e romarias e casamentos, em transversal de quebra do "velho", às rupturas de reinvenção das festas de terreiros e pátios, apropriam tradição e novidades e ritmos urbanos, licenciados às dramaturgias musicais e narrativas naturais populares.


O drama enreda romance intertextual a Shakespeare nordestinado, com pecha das espertezas malazartianas, magias, crenças, gracejos e a vitória do bem sobre o "mal", que redime as pequenas culpas, erros e o mal passo da mocinha que rompe com o eixo familiar, para manter o amor pelo mancebo escolhido.

(drama elizabetano a la nordestino/fotos: bruno vinelli)

"Flor de Macambira é uma festa popular com música, comicidade, cor e teatralidade que conta a história da jovem Catirina, a mais bela flor da Fazenda Macambira, que sucumbe aos vícios e tentações mundanas e, para salvar-se a si e a seu amado, mergulha nas profundezas de sua alma." (fonte: Coletivo Ser Tão Teatro)
Categoria: Espetáculo de Rua

Na atualização dramática, aos discursos e vozes sociais de política e negócios, aparecem as representações aos banqueiros, bicheiros, coronéis espertalhões, pregoeiros da farsa e das feiras livres do toma lá, daria cá; à morte e ressurreição, curandeiras/bruxas/xamãs ou redentoras de destinos do tempo; os rituais de dança e religiões e magias sincréticas, que tão bem repercutem o imaginário popular nordestino.

A cenografia se ampara numa pequena boca de cena, à feita de caixa mágica a quase um tenda de bonecos da feira. As fugas e passagem do dentro para fora, pela boca de cena, se instalam no mostrar e esconder das personagens através de cortina, persianas de sentido vertical, à base de couro na cor natural do barro.

As outras entradas e saídas, de apresentação de artistas e elementos e adereços de emenda cenográfica, se dão pelas laterais e fundo da caixa gigante, de brinquedos lúdicos, armada à trama de "Flor de Macambira". Ação e mote felizes do SerTão Teatro, arte, cultura e ativos sociais nordestinos, do recorte poético dramático, de João Pessoa, na Paraíba.

Os elementos de cena, adereços; a música ao vivo e as canções entoadas e coreografias das festas populares, as máscaras trágicas e cômicas que vestem as personagens e personificam as características do suscitado à história, são de uma beleza e plástica ricas, determinantes da estética redonda que inclui a maquiagem, de efígies prontas, e figurinos mimetizados aos narradores compostos ao enredado.
(a mocinha Catirina, entre os urubus/foto instagram sesc piauí)

As composições de figurinos, às cores terrais e todo o mais que elementa cor, corte, rebuscados e detalhes de afinação das vestimentas, oralizam em sua escrita de estética de identidade cultural uma afinação plástica, de também contar a história no vestir das personagens.

58 minutos de pura alegria, dinâmica teatral eficaz para espetáculo de rua azeitado pela Ser Tão Teatro, numa classificação de liberdades cênicas e técnicas afiadas de beleza e eficácia do teatro à linguagem de enredos da cultura popular revisitada. Os folguedos de tradição e as danças populares brasileiras ganham cor e empatia naturais, com texto de Rosyane Trotta e direção de Christina Streva 

Christina Streva, na direção da obra dramatizada sabe bem como melhor aplicar arte e práxis na cartografia dramatúrgica e vai para a galeria de plateia, com uma segurança de eficientizar o diálogo interativo estético às feições do teatro de propósitos. 

Os integrantes da Cia paraibana, Isadora Feitosa, Gladson Galego, Pollyanna Barros, Zé Guilherme, Ana Raquel Apolinário, Winsthon Aquiles, Thardelly Lima, Cida Costa, José Hilton, Rafael Guedes, Herlon Rocha têm o mapa da mina cênica e maturam proposta de bem encenar. 

Integrantes da Ser Tão Teatro, e elenco aplicado da peça vista, definem-se, muito bem obrigado, em escolha, pesquisa, linguagem e resultados dramáticos muito felizes à cena brasileira, em "Flor de Macambira".  O espetáculo prende o público e tira-lhe todo riso desejado a efeitos de recepção cênica eficaz. 

O teatro brasileiro das tradições populares bate à porta da alegria e se identifica como Ser Tão de Teatro. O faz com muita competência de ser tão e mais nordeste, Paraíba, Brasil de inventário cultural inestimável.

Serviço:

O espetáculo se apresentou dia 22 de abril, em Parnaíba; dia 25, em Teresina e, em Floriano, a apresentação de “Flor de Macambira” acontece dia 27 de abril, às 19h30, na Praça Dr. Sebastião Martins. No dia seguinte, o grupo ministra oficina Ser Tão Energético, repetindo a práxis escolástica mantida em Parnaíba e Teresina.

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